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segunda-feira, 3 de maio de 2010

O LIVRO DE ELI (2010)


A cena inicia sorrateiramente por entre árvores imersas em uma desolada paisagem, enquanto cinzas caem e dão um tom lúgubre ao começo do filme.

O pouco que eu sabia, aliás, a respeito do enredo me dizia que esse era um modo mais que adequado de apresentar o mundo pós-apocalíptico dessa obra, que se passa em meio a um cenário construído com características de um western sob escombros.
Só o que se sabe a princípio é que o protagonista interpretado por Denzel Washington está sobrevivendo nesse mundo devastado e que alguma possível guerra foi responsável por mostrar à raça humana qual o preço por sua ganância.

Até aí nada demais. 
E por um bom tempo de metragem o filme transita por lugares-comuns do cinema pós-hecatombe realizado com orçamento relativamente modesto. A ambientação lembra (muito) Mad Max, o que não é demérito. A ação ocorre sem grandes explosões ou efeitos especiais.

É um tanto simples, mas funciona bem.

 

Os diretores, os Irmãos Hughes, utilizam corretamente a atmosfera do filme, com uma fotografia executada com precisão para um blockbuster acima da média mostrando algumas belas seqüências em que as cidades destruídas adquirem um aspecto de pintura estática, quase com um ar contemplativo da vastidão caótica.
Inicialmente, as causas do contexto apresentado são contadas lentamente, enquanto a saga do livro mencionado no título se desenvolve.
Então as informações começam a se somar e criar uma visão curiosa de futuro nessa distopia hollywoodiana.


Diferentemente da maioria dos exemplares do gênero, O Livro de Eli é um blockbuster de ação que não centra sua atenção necessariamente na ação. Há tiroteios e alguma ou outra explosão, além de algumas lutas consideravelmente violentas, e muito bem filmadas, por sinal. Mas o que fica evidente é a intenção de realizar um filme com algo a dizer, e isso sem mascarar nem um pouco o discurso do roteiro.


A mensagem transmitida é tão inusitada em combinação com o estilo da obra, que lhe atribui um caráter de ousadia poucas vezes visto no cinema atual. Outrora seria piegas, hoje é algo raro no cinema-pipoca.
Aproveitando essa informação nova que a princípio causa um estranhamento no espectador, os diretores vão estabelecendo ao longo das seqüências cadenciadas as características desse mundo novo e da jornada do protagonista.


Apesar de não ser necessariamente perfeito em sua abordagem, ainda assim, o roteiro reserva várias ideias inteligentes para o filme, que surpreende em certos momentos, e propõe a discussão mostrando os dois lados da moeda, apesar de certamente possuir uma opinião definida quanto ao tema.

No fim das contas, O Livro de Eli não tem o poder dramático necessário para ser considerado um novo épico de ação pós-apocalíptico, mas funciona suficientemente como blockbuster de ação, e merece crédito por ousar e propor o debate sobre questões complexas, mesmo que de uma maneira por vezes convencional demais.

 


Ainda assim, o filme diverte, aliando a ideia central da trama com ótimas seqüências de ação em plano sequência e algumas reviravoltas interessantes, e mesmo não sendo perfeito, vale Um ingresso por trazer uma considerável dose de inteligência através de um produto visando o mercado comercial.
Assistam e tirem suas conclusões, afinal, esse é um dos méritos dos filmes legais: permitir que haja algo pra discutir quando acaba a sessão.

O Livro de Eli
(The Book Of Eli)
Direção: Irmãos Hughes
Duração: 118 minutos
Ano de Produção: 2010
Gênero: Ação / Ficção Científica

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu gosto de temas pós-apocalípticos e acredito que sempre é possível, com boa vontade dos roteiristas e ousadia dos produtores, elaborar tramas inteligentes em cima desses temas.

Ainda não assisti The Book of Eli, acho que vou gostar.

Marcel Jacques disse...

Também recomendo O Livro do Elias, que ele lançou na feira do livro do ano passado.
Muito boas as ilustrações

Fabrício disse...
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