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terça-feira, 30 de junho de 2009

HQs - SUTIL DIVAGAÇÃO ACERCA DO TEMPO E ESPAÇO, ENVOLTA POR UMA CAPA COLORIDA COM DETALHES CARICATOS

Houve um tempo em que ir até uma banca comprar HQs era missão árdua e envolta em risco. O problema é que eu achava vergonhoso comprar as tais revistinhas, e nenhum dos meus amigos curtia ler aquelas histórias bestas e maniqueístas. Hoje eu reconheço: a maioria do que eu lia em quadrinhos era isso mesmo, tanto é que boa parte da “massa documental” acumulada por mim e meu irmão hoje ainda permanece em minhas estantes por mera satisfação de colecionador.

O senso crítico foi se moldando lentamente, assimilando novos interesses artísticos, associando o que eu lia com outras formas de entretenimento cultural disponíveis, como o cinema, o rock’n roll, ...tudo isso alterando o modo de ver as páginas cada vez menos coloridas das revistas. Aos poucos passei a perceber novas possibilidades no universo de narrativa em requadros.
Migrei dos comics americanos para os mangás japoneses, em busca de versões menos distantes da nossa realidade nos roteiros dos autores. Obviamente pode parecer que busquei nos quadrinhos errados o que almejava, mas o que me parecia plausível, na verdade, eram as construções das personalidades dos personagens, tão humanos e falíveis que poderiam realmente existir na realidade. Não havendo uma distinção tão clara entre mocinhos e bandidos, ficava mais difícil saber que rumo a história tomaria, ao mesmo tempo em que permitia uma comparação com a sociedade que me rodeava.
Um amigo meu comenta que tem dificuldade em identificar quem são os heróis e os vilões dos mangás. A pergunta é: no mundo real, é fácil identificá-los?
Nossas qualidades e defeitos nos tornam tanto dignos de aplausos e glórias, quanto de desprezo e repulsa, dependendo do ponto de vista observado pelos outros.
Quem são os criminosos: os traficantes no morro, ou os políticos que sustentam o status quo falho e segregacionista, de modo a preservar suas regalias, mesmo que às custas do sacrifício alheio? A arte que eu leio seria inútil e vazia se não refletisse ao menos um pouco disso.
A medida em que conheci novas maneiras de contar uma história, descobri que ao autor de uma HQ, de um livro, música, roteiro, ou filme, compete não apenas o poder de dar vida a algo imaginário, mas também de compartilhar sua própria releitura do mundo que o cerca. E é essa uma das razões que torna tudo isso tão interessante.


Cada página desenhada é resultado da soma de tudo que aprendi, de todos que conheço, e de tudo que acredito ser importante, transmitindo (espero) o máximo possível de significados, já que a leitura de uma boa obra só é completa quando permite a interação entre público e artista.
E, pra falar a verdade, reconhecer isso transforma a nona arte em algo ainda mais divertido.
Bem mais que revistas pra criança, eu garanto.
Até.

1 comentários:

Guilherme Hollweg disse...

Concordo contigo meu caro amigo, as HQs e mangás revelam muito mais do que desenhos belos e capinha colorida, e, hoje, tomam um rumo, cada vez mais voltado para o lado adulto, do que para o infantil, e arrecem agora, os quadrinhos vem começando a ter seu respeitado (e merecido) espaço na Sociedade.