O 3D é a solução.
Com a possibilidade de obter qualquer filme por meio da Internet antes mesmo de ser lançado, o público cada vez menos ia ao cinema.
O Avatar de James Cameron teve vital importância ao apontar um novo rumo possível para solucionar esse contexto.
De repente torna-se moda investir na nova tecnologia, e consequentemente arrecadar quantias cada vez maiores nas bilheterias.
Sendo assim, nada mais óbvio que um diretor com um estilo tão visual quanto Tim Burton, investir também nessa nova tendência do cinema, como forma de compor uma obra digna de sua inventividade tão conhecida pelos seus trabalhos anteriores.
A escolha da história clássica de Lewis Caroll, Alice no País das Maravilhas, surgiu como outra escolha mais que adequada, afinal, trata-se de um prato cheio para a reinvenção sombria que o diretor costuma pôr em prática em seus trabalhos.
A história se desenrola no mundo real, onde não há espaço para a extrapolação multicolorida exibida nos trailers do filme. Porém, já é possível perceber o cuidado com os detalhes, desde o figurino, até a excelente direção de fotografia.
Logo, a ação é transferida para Wonderland, onde parece que a ambientação finalmente torna-se digna do esperado. Aproveitando-se do fato de se tratar de um mundo fantástico, Tim Burton não tenta criar um mundo hiper-realista. Tudo é deslumbrante, se assemelhando a um sonho da protagonista, o que vai ao encontro do que é proposto no longa-metragem.
O elenco, novamente liderado por Johnny Depp e Helena Bonham-Carter, está acima da média, conforme o esperado.
Tudo parece perfeito em Wonderland.
Apenas parece.
Diante de tamanha gama de potencial a ser explorado, Tim Burton perde o controle de seu novo universo CG.
A história, costumeiramente tão bem utilizada em favor do envolvimento dos seus carismáticos personagens, tende ao comum, quase por descaso.
Mas obviamente dedicar atenção excessiva à construção estética não resolve o problema de um roteiro sem muito a dizer, elaborado com base em piadas fáceis, sustentando-se em algumas boas ideias bem executadas por meio dos efeitos especiais e no desempenho dos atores.
Não que seja um defeito vislumbrar sempre uma paisagem repleta de elementos interagindo entre si. Nesse aspecto a direção acerta plenamente.
Porém, a utilização previsível da moral da história, tão evidente desde os primeiros minutos, de maneira similar ao que ocorre com o enredo, sem qualquer surpresa até o final do filme, e sem conseguir a necessária tensão dramática entre os personagens na tela, o andamento da história fica prejudicado, deixando um tanto cansativa para o espectador, a jornada de Alice.
Ainda assim, o sucesso nas bilheterias tende a convencer Tim Burton que essa profusão tecnológica é um recurso a ser explorado em seus próximos filmes. Fica a expectativa que isso ocorra de maneira harmônica da próxima vez, afinal, ao público mais exigente, o deslumbramento inicial não permanece por muito tempo quando não há um envolvimento com o roteiro que é apresentado.
Não se trata de um longa-metragem sem qualidades a oferecer, mas está longe de ser um grande filme, afinal, era um conteúdo muito despretensioso e comum para uma embalagem tão sofisticada.
Sendo assim, Tim Burton consegue o impensável e realiza um filme que só vale meio ingresso, quando muito.
É uma pena.
Quanto vale:
Alice o País das Maravilhas
(Alice in Wonderland)
Direção: Tim Burton
Duração: 108 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Aventura / Fantasia
3 comentários:
Eu assisti a esse filme, mas eu vi em 2D. Eu confesso que não fiquei muito empolgado... sei lá... talvez porque eu já conhecesse a história.
De qualquer forma, não é um completo desperdício de tempo. Bem como tu escreveu, vale meio ingresso.
Esse filme é visualmente indescritível.
Mas pra um diretor que nem o Tim Burton, o visual impecável do filme é algo habitual.
Lamentavelmente a história, dessa vez, deixa a desejar.
Porém, se o objetivo é arrecadar muito dinheiro nas bilheterias, ele atingiu resultados além do esperado.
Como já discutimos no Núcleo, concordo em partes, mas como a obra tinha um objetivo claro de atrair um público infatil, para nós realmante a história ficou bobinha ("é tudo um sonho", "não desista dos seus sonhos", "acredite"...).
Só espero que o Tim Burton não se entregue às exigências capitalistas dos estúdios em fazer apenas filmes rentáveis, que atraiam o maior número de pagantes aos cinemas (e isso remete a um filme família).
Está na hora dele fazer algo mais autoral, ou se meter a dirigir algo para um público adulto.
Como seria um filme de terror (mas terror mesmo!) dirigido pelo Tim Burton?
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