A essa altura do campeonato, praticamente todo mundo já assistiu alguma versão da história do ladrão que rouba dos ricos em favor dos pobres.
Na memória recente está o filme estrelado pelo então astro Kevin Costner em 1991, que depois do sucesso nos cinemas freqüentou a “Sessão da Tarde” por muito tempo.
Para um diretor que nem Ridley Scott se interessar por revisitar o relato desse personagem, deveria existir algum diferencial, algum aspecto ainda não explorado na lenda do famoso arqueiro da floresta de Nottinghan.
Pra falar a verdade, esse era o nome original do filme na época em que ainda se encontrava em pré-produção, e de acordo com o que eu havia lido em algum site imemorável no momento, iria ser a história sob o ponto de vista do xerife da Nottinghan do título, o que me parecia bastante interessante e inusitado.
Porém, passado algum tempo o projeto foi sofrendo transições e mudanças até chegar a um roteiro que em sua sinopse está bem próximo dos outros longa-metragens.
Em Robin Hood (2010), Scott retorna a um tipo de produção que ele vem exercendo ultimamente com considerável competência, o que é exemplificado por Cruzada (Kingdom Of Heaven, 2005) e Gladiador (Gladiator, 2000). ou seja, a ficção sendo construída sobre uma consistente base histórica.
Se bem que na busca pela biografia de Robin Hood, o resultado encontrado é uma colcha de retalhos composta por menções e pequenas referências provenientes de diversas fontes.
O diretor, então, define a que considera mais realista e assume a responsabilidade de reinventar o personagem para o século XXI.
Essa decisão não chega a transformar sua nova obra cinematográfica em um retrato com contornos absolutamente históricos, mas proporciona um enredo ao menos mais sério e inteligente.
O viés apresentado por Scott define o protagonista interpretado por Russell Crowe (em sua quinta parceria com o diretor) na função de fator contraditório em uma sociedade sujeita aos disparates de governantes arrogantes e imbecis, os quais consideram o poder adquirido por herança o suficiente pra subjugar o povo ao que lhes vier à cabeça, envoltos em maracutaias e jogos políticos cujas principais vítimas são sempre as classes mais pobres da população.
O cineasta acerta ao explorar essa abordagem, mas quando tem a oportunidade de afirmar a força da trama acaba falhando em pontos decisivos.
O próprio Ridley Scott afirmou certa vez que o cinema hollywoodiano acaba moldando os cineastas de modo que sigam os padrões pré-definidos pela indústria cinematográfica estadunidense, mas disse também que acreditava estar mantendo-se ileso diante disso.
Lamentavelmente, dessa vez ele não pode afirmar isso.
A construção dos personagens opta pela obviedade, e apesar de haver uma notória competência por parte do elenco liderado por Russell Crowe e Cate Blanchet, os excessivos clichês e ainda as batalhas coreografadas sem inventividade acabam deixando o longa-metragem muito simples e pouco relevante com o objetivado realismo totalmente esquecido.
No fim das contas, o que funciona é a própria ideia original de um olhar menos caricato na história, que deixa o fato de Robin Hood ter sido um ladrão em segundo plano. Ele é mais um líder rebelde que reúne tropas para lutar por um ideal.
Parecido com “Coração Valente” (Braveheart, 1995) mas sem sua força dramática, acaba fadado ao esquecimento em breve, sem apresentar alguma atuação tão marcante, que nem o ocorrido em outro dos últimos trabalhos do diretor, que em “O Gângster” (American Gangster, 2007) teve Denzel Washington desempenhando seu papel com destaque.
Diversão rasa e insuficiente, e um filme desnecessário na filmografia de Ridley Scott, Russell Crowe e Cate Blanchet, perde a ousadia do discurso que termina diluído nas simplórias escolhas de um diretor, que há tempos busca encontrar seu novo clássico, mas que por enquanto está longe de seus êxitos do passado, conseguindo ao menos alguns resultados acima da média.
Infelizmente, Robin Hood não é um deles.
Quanto vale: só meio ingresso, quando muito.
Robin Hood
(Robin Hood)
Direção: Ridley Scott
Duração: 140 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Ação / Aventura / Épico
5 comentários:
Eu gosto do trabalho do Ridley Scott, mas dessa vez eu acho que ele escorregou... e escorregou feio.
A começar quando eu vi o trailer mostrando batalhas épicas iguais a tantos filmes existentes por aí, quando eu vi que seria assim já fiquei desanimado.
Eu já sabia desse enfoque real que ele daria ao persongem e que seria uma espécie de "prequel" das aventuras de Robin Hood, mesmo assim eu esperava mais.
O frei Tuck, por exemplo, estava tão estereotipado que parecia ter saído de um filme dos Trapalhões.Nem a presença da Cate Blanchett fez essa produção deslanchar.
Concordo contigo, o filme vale só meio ingresso (qando muito).
E o pior é que, perto desse, o Robin Hood do Kevin Costner fica (no máximo) legalzinho.
Bela crítica meu amigo.
Mas guardarei um melhor comentário apra assim que assistir a obra, fato que pretendo consumar em breve.
Abraço,
Guiga Hollweg
Aguardemos o novo projeto de Ridley Scott, que esperamos estar mais para a qualidade do filme "Gangster", do que para o lamentável "Robin Hood".
E quanto aos personagens, o Frei Tuck é um dos que sofreu o penalti, mesmo.
E a sequência final com a participação da Lady Marion é pra desligar o DVD.
Ainda assim, valeu pelos comentários.
Lembro que esse filme era para contar a história do ponto de vista do xerife, vendo Robin Hood como um verdadeiro vilão.
O bolo desandou devido as discordâncias entre produção, direção e roteiristas. Eis o fato de eu nunca ter apostado em mais um filme desse personagem.
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