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sexta-feira, 11 de março de 2011

127 HORAS (2010)


É fato que o diretor Danny Boyle é um dos maiores nomes do cinema popcult, e tem hoje o privilégio de ser um dos poucos consagrados com o prêmio mais famoso do meio cinematográfico, e seu “Quem Quer Ser Um Milionário” (2008) deu uma nova cara à já batida história de superação tantas vezes recontada na sétima arte.
Já a sinopse de “127 Horas” soa menos interessante.
Claro que isso não torna um filme bom ou ruim, mas ainda que eu esperasse um outro bom trabalho, não imaginava que dessa vez ele constaria entre os indicados ao Oscar.

O filme vai contar a história de Aron Ralston, engenheiro que tem o costume de ir para as montanhas de Utah fazer escaladas e um tipo de “parkour” em meio às rochas. Ele conhece as redondezas do local remoto como a palma da mão, mas isso não impede que ele sofra um acidente que acaba deixando seu braço preso e gravemente ferido.
A grande dificuldade não é apenas o ferimento ou a falta de alimento e água. Certamente esses fatores não são nada que torne mais agradável a estadia do protagonista durante as 127 horas preso, mas o que transforma a situação em algo crítico, é que não há ninguém nas proximidades, e seja lá o que for que tenha que ser feito para libertar Aron e salvar sua vida, terá que ser feito por ele mesmo.

Sendo assim, logo se imagina que o que virá a seguir será algo com um pouco da essência do que foi trabalhado em “Slumdog Millionaire”, com o personagem tendo que enfrentar adversidades para encontrar seu final feliz, e em se tratando de Danny Boyle esses empecilhos não são pouca coisa.
Se em “Slumdog Millionaire” nem mesmo o interesse amoroso de Jamal estava livre da violência que rodeava os irmãos Malik, em “127 Horas” as coisas estão realmente ruins para Aron.
É verdade que o diretor não criou cada situação enfrentada pelo personagem que vive a história baseada em fatos reais, mas ainda assim, existe o modo de contar e retratar cada detalhe da tragédia de pouco mais de cinco dias.
Boyle prefere mostrar o que é chocante, e essa escolha traz mais intensidade com certeza.
Porém ele é adepto de um cinema de recursos bem definidos e corriqueiros.
Em “Slumdog...” ele trazia as cenas em câmera lenta e a insistência em apresentar o que era violento como uma forma de retrato de um quadro social que requeria a devida crueza, além da edição cheia de trejeitos mas que funcionava bem tornando mais fluída a trama que se passava em um show de auditório e revisitava em flashbacks a vida de seu candidato a milionário.

No seu novo trabalho, no entanto, tudo parece muito mais gratuito, seja a tal edição que fica com jeito de mera exibição exagerada de técnica, ou a trilha sonora que acompanha as sequências.
Afinal, o personagem está preso em uma fenda nas montanhas, e não há porque tornar isso super movimentado, quando a sensação que o público deveria ter é de aprisionamento, impossibilidade de movimentação. Às vezes fica aquela sensação de “tomara que ele mantenha a câmera estática por mais alguns segundos”, mas ele insiste em transformar alguns potenciais bons momentos dramáticos em exercícios videoclípticos.
Isso também não é facilitado com a inserção da trilha sonora, por vezes movimentada demais, e em outros momentos somente clichê. Ao invés da tensão e clima de isolamento acaba se sobressaindo a ideia de que, apesar de sem perspectivas, o cada vez mais debilitado Aron vai dar um jeito de escapar.
Para ser eficaz, o longa-metragem deveria ser capaz de tornar a vítima refém da situação de tal forma que, somente uma vontade sobre-humana poderia levá-lo a querer pensar em escapar.  
Tentando favorecer isso, o cineasta utiliza flashbacks nos quais são mostrados possíveis motivos para a luta de sobrevivência.
Porém, se dependesse apenas disso o filme não chegaria nem perto de ser assistível.

Felizmente a escolha do ator que carregaria a responsabilidade de tornar o enredo verossímil foi adequada.
James Franco tem escolhido papéis desafiadores em sua carreira, e demonstra seu amadurecimento profissional ao ter que ser a peça fundamental no filme de Danny Boyle.
Nos momentos em que o filme melhora é a atuação esforçada do ator que merece ser elogiada, afinal, tem que superar os exageros de estilo do diretor, muitas vezes fazendo questionar “porque o cara não simplesmente deixou uma câmera ligada enquanto as cenas eram interpretadas, sem macetes, sem cacoetes de edição?”.
A simplicidade poderia deixar a história real com cara de história real, ao invés de um drama pouco consistente e de notórios desequilíbrios por parte daquele que teria a chance de definir sua obra tanto na condição de um filme digno do Oscar, ou de um simples título a preencher a lista dos dez indicados.
Nas poucas vezes em que é mostrado simplesmente o protagonista dialogando com a câmera que convenientemente trazia na mochila, o filme recupera sua intensidade.


Ainda que não possa ser considerado um filme ruim, “127 Horas” é decepcionante em se tratando do novo trabalho do realizador de “Trainspoiting”(1996), “Extermínio”(2002), e “Quem Quer Ser Um Milionário”. E mesmo sem compará-lo a esses acertos na filmografia do cineasta, fica a clara impressão de um tipo de cinema em que os recursos são utilizados simplesmente para forçar uma resposta do público, sem que isso ocorra de maneira natural, ou na maioria das vezes, de maneira alguma.

Poucas são as oportunidades de conferir a dramaticidade do roteiro adaptado do livro "Between A Rock And A Hard Place"  sendo uma delas a cena do “programa de auditório”, ou “a mensagem gravada para os familiares”, raros lampejos de talento do diretor.
Apesar disso, o que resulta no fim das contas é um filme mediano, melhor do que muitos, e divertido o suficiente para ser assistido, e com mais emoção do que muitos.
Que há um mérito nisso, é inegável, mas ainda é certamente muito pouco.
Quem sabe da próxima vez Danny Boyle prepara algo que realmente tenha chances de ser considerado um grande filme.


Quanto vale: meio ingresso, com louvor.

127 Horas
(127 Hours)
Direção: Danny Boyle
Duração: 94 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Drama

2 comentários:

Guilherme Hollweg disse...

Que soretão em...
e eu pensando que fosse um filmaço, digno de brigar parelho com O Discurso do Rei e Rede Social.

Enfim, é até bom não ser, sendo assim, coloco Brav. Indômita antes dele na lista dos futuros longas a serem assistidos.
Curti a postagem.
Belo texto e bela análise.
Parabéns velho.


Guiga Hollweg

Anônimo disse...

Há tempos atrás uma amiga e eu vimos a história desse cara no fantástico. Ela logo falou que não iria demorar muito para isso virar um filme.

A profecia dela estava correta. heheehe.

Ainda não assisti a essa empreitada do Danny Boyle, a propósito, ótima análise.

Abraços!!!