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segunda-feira, 16 de maio de 2011

THOR (2011)



Faz tempo que ser fã de quadrinhos implica diretamente em estar antenado nas novidades do cinema.
Afinal, as coisas têm evoluído juntas visando a construção de um universo que extrapole o limite das páginas das HQs, e com a retomada das adaptações de quadrinhos para a telona, tornou-se impossível ficar alheio aos novos lançamentos, e se muitas vezes a tal relação com a nona arte nem é mencionada, em outras é explorada ao extremo.
Thor seria um desses exemplares, e não apenas por representar um dos ícones das HQs super-heroísticas, mas também (e principalmente) por se tratar de parte fundamental do que o Marvel Studios planeja há tempos e que à medida que vai tomando forma mais se aproxima de algo que os fãs podem utilizar de referência para o aguardadíssimo filme dos Vingadores (estreia prevista para 2012).


Os últimos esforços do estúdio foram dedicados à consolidação de seu universo, dessa vez no cinema, e obviamente, ao estabelecimento de uma aceitação e conhecimento do público que lhe permita interagir com os detalhes deixados nos longa-metragens, sugerindo que cada filme não é isolado dos demais. E assim, o que a DC Comics nunca chegou perto de conseguir, a Marvel obteve com Homem de Ferro (2008), Homem de Ferro 2 (2010), e O Incrível Hulk (2008).
E nesse ponto nem importa se os movies são bons. É quase que nem a série que é acompanhada mensalmente nas bancas, e que se ás vezes vem com uma edição fraca, ao menos vale por completar a trama que existe interligando tudo.
Cada novo filme dessa empreitada da Marvel torna-se algo indispensável. Ou seja: missão cumprida.


A adaptação das histórias do ser mitológico mais famoso da Marvel Comics era um passo de risco, e tinha a exigência de ultrapassar a barreira do realismo presente no discurso de 90% dos cineastas que ousaram ingressar no subgênero das HQs no cinema.
A equivalência mais próxima seria com o Superman, contando a história do ser de outro planeta que vem à Terra e defende seus habitantes, com sua nobreza característica. Seria quase perfeito, não fosse pelo fato de que Thor não é um alienígena. A credibilidade estaria ameaçada ao forçar a interação entre um mundo mitológico, lidando com questões como magia, com o universo científico presente em todos os demais filmes dessa megassaga que vem sendo desenvolvida nas telas.

Para solucionar a questão, foi convocado um diretor que traria credibilidade ao projeto pela mera inclusão de seu nome no cartaz do filme.
Isso a tal ponto que pareceu boato quando ele foi anunciado no comando do longa-metragem. Afinal, Kenneth Branagh não parecia o tipo de cara que aceitaria um trabalho desses.
Porém, o diferencial que ele viu na história estava no potencial dramático dos conflitos envolvendo essa corte em que o rei deve escolher entre seus dois filhos na sucessão do trono.


E sendo um enredo de intrigas “reais”, com certeza há muito mais na superfície do que o príncipe arrogante que vai provocar uma guerra pela sua impetuosidade exacerbada.
Enquanto realiza suas peripécias, o príncipe Thor (Cris Hemsworth) é acompanhado por outros guerreiros asgardianos, dentre eles seu meio-irmão Loki (Tom Hiddleston), peça fundamental no filme, e pelo jeito, no universo Marvel Movies.
Enquanto fica a cargo de Thor as espetaculares sequências de ação que integram a primeira parte do longa-metragem, é a sutileza de Tom Hidleston que demonstra não ser a ação propriamente dita o único fator de interesse no enredo.
Por meio das cenas do invejoso Loki que as tais intrigas vão sendo construídas, envolvendo o poderoso Odin (Anthony Hopkins, muito bem no papel) de tal forma que o passado tempestuoso dessa relação familiar vai ser abalada e redefinida.
Efeitos especiais perfeitos eram requisito mínimo para a viabilização do projeto.
Mas e pra ganhar a atenção do público-médio?
Romance e humor.


A receita Homem-Aranha, que influenciou positivamente a franquia Homem de Ferro funcionou tão bem que parece ter virado cartilha no estúdio, e mesmo o guerreiro de Asgard contou com esses elementos em sua nova versão live-action (e eu digo nova, porque estou considerando aquela participação “memorável” no filme antigo do Hulk).
Tudo foi feito para garantir a o prosseguimento das coisas para o apoteótico filme dos Vingadores. Qualquer tropeço no atual momento seria catastrófico devido ao exorbitante investimento financeiro que vem sendo empregado.
Então, tendo em vista o que foi mencionado, o envolvimento com Jane Foster (Natalie Portman, atuando por diversão e uns dólares a mais) é importantíssimo.
E além disso, o tal humor ocorre de duas formas.
Uma é uma personagem específica, Darcy (interpretada de qualquer jeito por Kat Dennings), que representa os momentos mais desinteressantes, e consegue estragar algumas potenciais cenas legais do filme. O equívoco na definição de um papel estritamente cômico é ainda maior pois, a segunda tentativa de inserir humor na trama é eficiente por si só.
Branagh experimenta com sucesso um estilo de humor de constrangimento no longa-metragem, ao forçar Thor a conviver com os mortais e exercer sua bagualidade (com o perdão da palavra) tornando sua estada em sociedade algo hilário por natureza.


Nesse ponto, Cris Hemsworth não chega nem perto de ser tão carismático quanto o Tony Stark de Robert Downey Jr., mas está ao menos acima da média para um protagonista de filme de ação.
Ainda assim, sua permanência em Midgard é a parte mais arrastada do longa-metragem, em que certos elementos são desenvolvidos de forma superficial demais, prejudicando o já difícil filme de origem.

O que favorece Branagh nesse ponto são alguns aspectos do roteiro (a conciliação entre a magia e a ciência foi muito bem apresentada), a ação muito competente, e as caracterizações fiéis, além da esperteza em incluir detalhes destinados ao público leitor das HQs da Marvel Comics, dentre eles a presença de um integrante dos Vingadores, e a menção a Tony Stark e Bruce Banner, e obviamente a cena pós-créditos que, para os que acompanharam a trajetória dos personagens nos quadrinhos já serviria como um trailer para o filme da super-equipe da Casa das Ideias.


Também merece ser elogiada a concepção visual de Asgard presente no filme. Tudo é deslumbrante e ricamente detalhado, trazendo o reino mitológico na condição de um personagem que apenas observa a família se esfacelar, enquanto o doentiamente ambicioso Loki tece seu plano buscando não simplesmente tomar o poder, e sim conquistar tudo o que seu meio-irmão almejou.
O que Downey Jr. representou para Iron Man, Tom Hiddleston traz com sutileza e força para manter o andamento desse novo filme nos trilhos.
Enquanto isso, é interessante acompanhar Thor na condição de alguém cuja nobreza e heroísmo têm que ser adquiridos, e que vai certamente culminar em embates com Loki e o Destruidor, repletos de efeitos especiais e pancadaria de primeira qualidade.


Sem dúvida, Thor, o Filme, poderia ser pensado na condição de um anti-clímax preparando as coisas para o filme dos Vingadores, mas a questão comercial de um longa-metragem de alto investimento que nem esse exigiu liberdades visando o retorno imediato nas bilheterias, e em função disso Branagh merece o mérito por conseguir equilibrar o que o estúdio pediu com sua proposta cinematográfica particular.
E apesar de não ser o melhor da Marvel nos cinemas, certamente é um excelente indício de que os fãs podem esperar algo realmente espetacular no que está por vir se as próximas produções seguirem esse nível de comprometimento e respeito ao público.


Quanto vale:


E confira até o fim da semana a VIDEOCRÍTICA do filme CLICANDO AQUI.

Thor
(Thor)
Direção: Kenneth Branagh
Duração: 114 minutos
Ano de produção: 2011
Gênero: Ação / Épico

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu não conheço muito as aventuras do Thor na mídia impressa, mas pelo trailer e pela tua crítica fiquei mais curioso ainda em relação ao que o deus do trovão apronta nas telas de cinema..

Valeu pelo texto!

Tsukushi disse...

Bom, eu não tenho muito o que concordar ou discordar mesmo...
Eu só achei exagerada demais a relação Thor+Jane. Meio que perdeu aquele tom sério do filme pra ser tornar mais um romance ao estilo Disney.
Mas talvez eu que tenha esperado seriedade demais do filme e não fosse essa a intenção.'

Ah, eu e o Liano estávamos esperando a tua crítica do filme desde a estreia pra saber o que tu ia achar.'

Marcel Ibaldo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcel Ibaldo disse...

Valeu pelo comentário, Fernando.
O filme vale a pena mesmo, principalmente por ser fator decisivo pra quem quiser entender o andamento das coisas pro futuro da Marvel nos cinemas.

E valeu a preferência, Marina e Liano.
Quanto à demasiada influência da personagem Jane Foster no andamento do filme, é mais uma exigência do estúdio.
Blockbuster precisa ter: Romance, humor, efeitos especiais, e o manjado confronto final(com exceções, é importante salientar).