Muita gente não lembra, ou nem mesmo conhece essa fase do cinema de HQs.
Na verdade, nesses tempos longínquos de 1900 e tanto nem estava perto de ser estabelecido esse subgênero cinematográfico inspirado nas histórias em quadrinhos.
Havia apenas tentativas, algumas bem-sucedidas (Dick Tracy; Superman: O Filme; Conan, O Bárbaro; Batman: O Filme,...), e outras nem um pouco.
Mas a lista de aguardados filmes de quadrinhos era extensa.
E os famosos X-Men estavam nela.
Porém, faltava muito para que Bryan Synger encontra-se a fórmula pra tornar isso real em X-Men: O Filme (2000).
Antes disso, no entanto, surgiu a ideia de um piloto para um seriado com o universo mutante, ainda que não houvesse recursos financeiros ou talento disponível para isso.
Os personagens escolhidos eram do terceiro ou quarto escalão, e parecem ter sido selecionados pra facilitar trucagens e outras soluções econômicas pra baratear a produção.
Foram convocados então Mondo (Bumper Robinson), Jubileu (Heather McComb), Buff (Suzanne Davis), Skin (Agustin Rodriguez), Monet (Amarilis), e Refrax (Randall Slavin).
Ninguém que qualquer fã quisesse ver, ou por quem desse a mínima importância.
Ainda assim, haveria um lugar reservado na agenda do público mesmo assim, para descobrir se esse início seria promissor pra quem sabe um dia ver na própria série algum dos emblemáticos integrantes do primeiro escalão dos alunos do Professor Charles Xavier.
Claro que, bastou ver qualquer imagem ou propaganda pra que isso tenha ido por água abaixo. Não que qualquer prévia pudesse refletir o resultado real.
Lembro de ter assistido em uma Sessão da Tarde com toda a expectativa de um leitor de quadrinhos muito desinformado devido à ausência do Google a um clique de distância.
A preparação para a sessão permitiu conferir, assim, toda a magnitude do trabalho do diretor Jack Sholder, que imprudentemente assumiu a responsabilidade de liderar a revolução dos requadros para as telas.
Era uma época completamente diferente, em que os erros e acertos ainda não haviam sido cometidos, e uns poucos exemplares não chegavam a apresentar um modelo a ser posto em prática, até porque, quando fracassavam os filmes de HQs simplesmente desapareciam, diferente de hoje, em que raramente passam despercebidos, não importa o quão ruins sejam. Muitas dessas tentativas nem mesmo eram lançadas, dando origem a lendas que muita gente não viu até hoje.
A Geração X de Jack Sholder poderia ter sido um desses, mas pelo menos aqui no Brasil, a Rede Globo teve a pioneira iniciativa de compartilhar com os espectadores um patamar nunca mais alcançada pelos filmes dos mutantes da Marvel Comics.
Interessante o modo com que os personagens vão sendo mostrados e a história vai sendo contada. O efeito que causa é constantemente o mesmo até o seu desfecho, pois o público mantém sempre o pensamento: “isso tá horrível, mas pelo menos não tem como piorar”.
Sempre piora.
Sejam pelas caracterizações dignas de um baile de carnaval organizado pelo Tiririca, ou os diálogos capazes de rivalizar com a Zorra Total, é difícil definir o que conseguiu atingir um grau maior de ofensa quanto a nona ou a sétima arte.
Os heróis ficam quase o filme todo treinando pra enfrentar coisa nenhuma, enquanto têm seus relacionamentos não desenvolvidos, dando tempo e chance pra que a plateia mude o canal.
O elenco parece ter sido escolhido após a seguinte pergunta: “Qual de vocês não quer ser ator e aceita trabalhar por uma refeição diária?”.
Quem não assistiu talvez considere algum exagero no que eu digo, porém qualquer um que teve o privilégio de vislumbrar uns cinco minutos que sejam desse hediondo desastre há de concordar que é absolutamente impossível encontrar sequer uma qualidade durante toda a metragem, e que provavelmente todos os envolvidos nunca haviam participado de um filme de verdade, que alguém tenha se prestado a recomendar pra outra pessoa ou algo do tipo.
Geração X, pra ser sincero, é daqueles longa-metragens que complicam a vida de qualquer um que se dispõe a fazer uma crítica de cinema, afinal, começar por onde? Qual aspecto analisar?
Eu poderia simplesmente resumir tudo em “vômito em celulóide”, ou parafraseando o genial filme de Woody Allen, “Dirigindo no Escuro” (2002): “Existe algum modo de melhorá-lo? Queime-o”.
Porém, faço questão de listar alguns dos motivos pelos quais Geração X entrou para a história do cinema: os personagens, todos ridículos, interpretados de modo que não chegariam aos pés dos piores que já passaram pelo elenco de Malhação; o vilão, interpretado por Matt Frewer que deve ter ouvido de alguém que fazer caretas era algo realmente ameaçador; a representação dos poderes dos mutantes, que eu estariam elogiando se chamasse de “defeitos especiais”; e isso sem mencionar a trama, envolvendo uma tal máquina dos sonhos, que de tão sem propósito não é digna nem de xingamento.
O pior é que a única característica aceitável (mais ou menos) nesse tipo de sub-produção é a possibilidade de rir de qualquer aspecto desprovido de qualidade que surja ao longo da exibição.
Em Geração X, o diretor Jack Sholder decidiu privar o espectador até mesmo disso.
Foi uma estratégia ousada desse merecidamente desconhecido cineasta.
Graças a isso, o seu trabalho no longa-metragem até hoje é evitado até mesmo em conversas entre amigos, por não possuir nem graça, nem diversão, nem porcaria nenhuma.
Alguém pode pensar que essa crítica pode estar sendo influenciada pelo fato de eu recentemente ter assistido o extraordinário “X-Men: First Class”, no entanto, mantenho cada palavra desse texto, afinal, basta lembrar de qualquer cena do escracho mutante de 1996 para valorizar mais até mesmo “X-Men Origens: Wolverine”.
Sendo assim, assistam por sua conta e risco.
Geração X
(Generation X)
Direção: Jack Sholder
Duração: 87 minutos
Ano de produção: 1996
Gênero: ?
4 comentários:
Eu nem sabia que existia uma tralha dessas... Pelo que está na resenha e pelo teor das imagens, deve ser mesmo uma espécie de Turma do Didi versão extendida.
Oi Marcel, mil perdoes pela demora.
agradços o comentario feito no meu blog e estou seguindo o seu!!!
grande beijo
http://cabecafeminina.blogspot.com
Muito boa postagem Ibaldo, parabéns.Aliás, assim que voltar, preciso fazer download e assistir a esse Show de Horror.
Abração.
Confiram cientes de que estarão contemplando uma obra ímpar na filmografia de qualquer cineasta, e que seus padrões para adaptações de quadrinhos para o cinema mudarão após a sessão de cinema de Geração X.
Valeu pelos comentários.
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