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sábado, 23 de junho de 2012

O BESOURO VERDE (2011)


Um diretor competente pode  arrancar uma boa atuação de atores medíocres e tornar interessante uma historia pouco criativa.
Sendo assim, no caso de um diretor do qual eu só conheço trabalhos com evidente criatividade, resultando em algumas das obras mais viajantes dos últimos tempos, o fato de estar ligado a alguma nova produção já poderia ser indício de um bom trabalho.

Refilmar a série dos anos 60, oriunda de uma radionovela dos anos 30, e que deu origem ainda a um filme impulsionado pelo sucesso de Bruce Lee, não parecia algo difícil.
O diretor francês Michel Gondry, que tem em seu currículo “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” (2004), e “Sonhando Acordado” (2006), é um daqueles caras que não seguem convenções criando os filmes do jeito que bem entende, misturando técnicas e ideias, parecendo por vezes obstinado em tornar o mundo na tela algo tão particular que é quase como se ele se perdesse em meio à sua própria obra. Felizmente, no exemplo dessas produções mencionadas acima, fica evidente o talento dele em manter os pés no chão o suficiente pra que haja coerência em seus filmes.
Nem tudo na carreira dele é genialidade, é fato, mas o remake de “Besouro Verde” não deveria ser nenhum desafio.

Em época de heróis no cinema, Gondry tenta então trazer a sua visão de um exemplar do gênero.
As decisões dele, então, vão sendo montadas e postas em cena conforme os personagens vão estabelecendo a parceria que há de combater o crime.
De início, o roteiro assinado por Evan Goldberg e Seth Rogen é um misto de humor sutil com um apanhado de referências à série, sejam elas o desenho no caderno de Kato, ilustrando Bruce Lee, ou quando o personagem menciona “sou rápido demais para as câmeras”, relembrando a velocidade do próprio astro da série televisiva dos anos 60.
Razoável até aí, o filme provoca aquela sensação de “na próxima cena deve empolgar”.
Enquanto a espera ocorre, vai se sobressaindo o que o elenco tem a oferecer.

A escolha do protagonista de imediato era o principal demérito da produção. O Seth Rogen visto na condição de novo astro da comédia me pareceu uma alternativa tão sem cabimento que eu torcia simplesmente que o diretor o moldasse para que seus trejeitos a La Jack Black não fossem o destaque, tornando o filme puro pastiche.
Mas nesse ponto, a impressão é de que a compreensão do que deveria ser um longa-metragem de heróis por parte de diretor e ator se assemelhava, afinal, foi dada a liberdade a Rogen de recitar suas falas fazendo suas caretas de sempre, o que apenas torna o que já era sem graça ainda mais.

Enquanto isso, haviam mais dois atores que tinham grande responsabilidade e dos quais havia expectativa.
Ser o intérprete do papel que já foi de Bruce Lee era algo que ninguém estaria livre de desempenhar livre de críticas e comparações, mas Jay Chou não parece ter se preocupado com isso. Sem grande destaque dado pelo diretor às suas sequências de ação, ao contracenar com Rogen ele demonstra uma irritação convincente com as atitudes do chamado Besouro Verde, que reflete o incômodo do espectador que aguarda o fim da sessão para não ter que suportar as besteiras que o protagonista insiste em repetir, quando nem os personagens, nem ninguém consegue levá-lo a sério.
Talvez por isso que mesmo o vencedor do Oscar Cristoph Waltz está em cena com o conforto que beira a preguiça. Ele é o estereótipo de qualquer vilão, e pronto.

Algum lapso de estilo, esporadicamente, mas fora isso, é ação descerebrada e em grande parte ruim mesmo, e um desperdício de tempo que deixa Cameron Diaz com cara de “e eu ainda vou receber por isso?”.
O roteiro parece não saber qual rumo irá tomar, e a mistura de gêneros e influências não soa algo ousado, e sim falta de competência do diretor, que entrega uma produção extremamente abaixo do que já foi visto em sua filmografia, em um resultado que rememora o pior das produções de herois já realizadas.

Talvez para ser aceitável, o filme deva ser encarado assim mesmo, como um trash em que tudo que for mal-feito serve de motivo de riso. 
Tendo isso em mente, até parece boa ideia reassistir o longa-metragem, dessa vez sabendo que, o que de melhor tem a oferecer são os equívocos do diretor.
Sendo assim, os defeitos tornam-se qualidades, e é possível desconsiderar que Gondry não percebeu que seus erros e tentativas de criar um filme de heróis são apenas a repetição do que Hollywood experimentou até definir o modo funcional de grandes filmes de ação, independente de abordagens mais cômicas ou sérias.
Com algum ou outro ponto positivo, seu ponto forte é o aspecto nostálgico, ainda que sem grandes atrativos, a não ser pra quem não tem nenhum DVD melhor pra assistir.


Quanto vale: Nem meio ingresso.


O Besouro Verde
(The Green Hornet)
Direção: Michel Gondry
Duração: 119 minutos
Ano de Produção: 2011
Gênero: Ação / Comédia


3 comentários:

Anônimo disse...

... E pelo que eu li em outros meios, esse filme foi achincalhado não só no Brasil, mas também nos EUA, onde a crítica pegou pesado.

Acho que em algum futuro próximo alguém irá cogitar a ideia de fazer um reboot.

Francine disse...

Eu nunca assisti a um episódio do Besouro Verde. Portanto não sei se essa série tinha algum conceito cômico, mas sei que tem seu valor histórico pela presença do Bruce Lee. Mas esse filme eu achei bem fraquinho e as tentativas de humor são constrangedoras.

Marcel Ibaldo disse...

Lembro de ter visto algum trailer ou teaser e ter criado expectativa que fosse pura despretensão, divertimento leve porém funcional, com uma aura retrô, e um monte de homenagens ao seriado.
Mas tinha que ter boas piadas, personagens legais, e só isso seria o bastante.
Aquela sessão de cinema em que o público não sai questionando nada, ou debatendo sobre qualquer tese.
Entretenimento.
Mas O Besouro Verde não passou nem perto disso.
Se for pra seguir desse jeito, podem fazer mil reboots, e vai ser sempre o fracasso da temporada.