Geralmente, o marketing exacerbado que os estúdios de Hollywood têm posto em prática pra multiplicar seus lucros pode ter um efeito deveras prejudicial quando finalmente chega o momento de conferir o resultado da obra fílmica em questão.
Ao ouvir as primeiras notícias a respeito da adaptação de HQs para o cinema, “Substitutos”, admito que considerei uma possibilidade empolgante, apesar de exageradíssima, o que era dito a seu respeito quando mal havia iniciado seu processo de filmagem: “O novo Blade Runner”.
Impossível.
Mas seria interessante se conseguisse ao menos chegar perto. Em épocas de roteiros construídos para funcionarem dentro de uma estrutura pré-determinada, alguém tentando fugir dessa característica representaria uma grata surpresa.
Mesmo o celebrado “A Origem” (2010), apresenta-se como parte dessa tendência, afinal, trata-se de uma história de ladrões, em um contexto diferenciado, é verdade, mas a história não deixa de ser um típico início, meio e fim, ainda que apresente uma serie de elementos que o diferenciem de outras obras.
No que se refere a “Substitutos”, a ousadia de quebrar esse padrão seria o mínimo que um filme da importância de Blade Runner teria que possuir.
O início assemelhando-se a um documentário é uma ideia excelente. A aproximação com a nossa realidade sempre foi peça-chave em boas histórias Sci-Fi.
Afinal, o futuro na sétima arte nada mais é que o vislumbre da releitura do tempo presente, e as consequências de nossos atos em um tempo vindouro, elaborado pela mente de seus autores.
No futuro mostrado na história, os tais substitutos são a roupa em forma de nós mesmos que todo mundo usa em vez de se desgastar saindo de casa fisicamente. É que nem a praticidade hoje vista como indispensável que um celular ou um notebook proporcionam.
O objetivo do autor da HQ, Robert Venditti, e do diretor Jonathan Mostow, fica claro logo no começo, mostrando essa releitura do contexto da nossa geração, porém, em 2054.
Os MSNs, avatares de perfis de Orkuts, Facebooks e assemelhados representam hoje o que os substitutos seriam nas cidades do mundo imaginado por Venditti.
E em meio à trama policial do longa-metragem sobra espaço para ideias simples e funcionais, as quais o diretor utiliza de modo convencional demais. O conceito de total segurança que a utilização dos seres humanos autômatos permite é um dos aspectos bem representados em cena, além da banalização do seu uso pela população.
Porém, para um enredo de investigação, o seu mistério é previsível demais. Isto além da necessidade de explicar e entregar tudo resolvido de maneira simplificada para o espectador. Aparentemente o ar épico do movie estava mais no discurso de divulgação do que na essência pensada pelo diretor Mostow.
Essa estrutura voltada à ação limita demais as possibilidades que a temática instigante proporciona. É claro que esse é um jeito fácil de atrair um público que prefere ignorar as implicações da impessoalidade providenciada pelos tais sites de relacionamento e mecanismos de comunicação pessoal a relativo baixo custo que podem ser trocados apenas para acompanhar a moda.
Apesar de o filme lembrar muitas outras obras, dentre elas “Matrix”, “A.I. Inteligência Artificial”, “Eu, Robô”, e “Homem Duplo”, a principal semelhança é com a franquia “Ghost In The Shell”, a qual leva a discussão entre pró-máquina e aversão ao uso excessivo da tecnologia em nosso cotidiano a um patamar que “Substitutos” poderia ter se arriscado a alcançar, devido à proximidade do tema.
No fim das contas, o que sustenta a atenção da plateia são as boas cenas de ação, o visual competente, e o mote do roteiro presente na sinopse.
Conduzido de maneira adequada, torna-se um bom thriller policial, divertido e com uma dose considerável de inteligência que o faz ter destaque frente à maioria dos outros pretensiosos projetos megalomaníacos costumeiramente em cartaz.
Jonathan Mostow pode não ter ousado em quase nada, mas ainda assim fez o suficiente para que “Substitutos” seja um bom filme e correta adaptação de HQs para a telona. E mesmo que a arrecadação nas bilheterias não reitere isso, o filme vale um ingresso.
Confira a VIDEOCRÍTICA do filme.
E para conferir a HQ que inspirou o filme, CLIQUE AQUI.
Substitutos
(Surrogates)
Direção: Jonathan Mostow
Duração: 88 minutos
Ano de produção: 2009
Gênero: Ação/Policial/Ficção científica
5 comentários:
Substitutos é o filme que talvez seja assimilado com o tempo. Por enquanto o pessoal está mais ocupado com outras franquias (Filmes Marvel, Animações em 3D, filmes da DC, vampiros e refilmagens).
A ideia de mostrar a raça humana sendo substituída por máquinas que são uma extensão do nosso corpo é algo bem atual e rende boas análises.
Eu curti. Acho que vale um ingresso bem pago. A obra cinematográfica fugiu em alguns aspectos das HQs, mas manteve a idéia essencial do livro de uma maneira bastante ousada.
A idéia é fantástica, a crítica social, muito legal, e atuação de Bruce Willis é bem convincente.
Concordo com Fernando, com o tempo o filme será assimilado e trasnformado em uma obra cult. Mas desde já faço questão de ter o longa-metragem em minha coleção de DVDs.
Curti pacas.
É isso.
Guiga Hollweg
Foi só eu ver o nome "Substitutos" ali no lado e já vim aqui comentar.
Eu adoro esse filme. Acho a maquiagem dos andróides perfeita e as cenas muito bem produzidas.
A ideia de mostrar a raça humana dando lugar a um mundo de máquinas é atual. Dá mesmo para discutir muita coisa como disse o Fernando.
O tema é com certeza atual, e pelo que eu me lembre, um bom filme de Sci-Fi tem que deixar alguns questionamentos pra plateia depois do fim da sessão.
Diante da ascensão da comunicabilidade via tecnologia em que a gente vive, esse é um assunto interessante pra um enredo, e espero que, melhor que o diretor Jonathan Mostow, o cineasta David Fincher proporcione um debate ainda mais complexo em seu novo filme, "A Rede Social".
Se bem que to tentando evitar ler muitas informações a respeito, então pouco fiquei sabendo sobre o roteiro, mas em se tratando de David Fincher, deve ser um baita filme.
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