Muitas
décadas separaram o cimério das telas.
Desde
os longa-metragens que alavancaram a carreira de Arnold
Schwarzenneger ninguém
havia ousado remexer a mitologia criada por Robert
E. Howard, trazendo de
volta seus personagens às telas.
Da
origem em revistas pulp, com destaque para a Weird
Tales, à conversão para
os requadros da Marvel
Comics muita coisa mudou
para o icônico anti-herói Conan.
Muito
da sua representatividade na cultura pop, apesar de hoje relegado ao
segundo plano em se tratando de revistas em quadrinhos, se deve ao
primeiro filme dirigido por John
Millius, “Conan, O Bárbaro” (1982).
E
se a segunda tentativa, Conan,
O Destruidor (1984), havia
perdido o caminho, a receita de fidelidade, crueza, violência, e
estilo de produção disposta a não seguir padrões e fórmulas
prontas bem-sucedida no primeiro longa-metragem havia sido mais do
que o suficiente para tornar o personagem um clássico dos filmes de
HQs.
Só
poderia ser isso, afinal, não se tratava de nenhum desafio tão
complexo trazer uma competente aventura com o guerreiro, considerando
que haviam milhares de páginas publicadas com boas histórias a
adaptar, e que não seria necessário um investimento relativamente
tão alto para a produção, algo que o oportunista Robert
Rodriguez havia percebido
ao tentar com fracasso trazer uma personagem secundária desse
universo aos cinemas: Red
Sonja.
Mas
seria desperdício ignorar a febre de adaptações dos quadrinhos
para a sétima arte.
Sendo
assim, logo começaram a surgir os primeiros nomes confirmados para
essa tentativa de estabelecer uma nova franquia junto a um público
jovem que seria uma fonte de dinheiro considerável caso viesse a
conhecer e apreciar a obra de Robert
Howard.
Na
cadeira de diretor, Marcus
Nispel trazia uma série de
características que tiveram alguns bons resultados apenas em
Sexta-Feira 13: Bem-Vindo a
Crystal Lake (2009).
O
cineasta, oriundo de uma carreira videoclíptica, e adepto de uma
forma de cinema que não chega a ser comercial, tinha pelo menos a
apreciação pela violência dentre os adereços que vinham
recorrentemente sendo vistos em seus trabalhos, e isso seria
bem-vindo em seu mais recente trabalho.
Ainda que até então tivesse demonstrado ser absolutamente incompetente de desenvolver personagens ou roteiros minimamente inteligentes, ficava a esperança de que, em se tratando de um bom roteiro que tivesse sido entregue, nem mesmo um bacteriófago que nem ele pudesse estragar o resultado final.
Ainda
assim, mesmo que Nispel não
aprontasse uma, ainda havia a grande dúvida: quem substituiria
Arnold Schwarzenneger?
A
resposta só poderia ser uma: Jason
Momoa?!?
O
até então pouquíssimo conhecido ator parecia a escolha mais
estúpida possível, porém sua participação na excelente série
Game Of Thrones mudaria
a opinião de muitos, afinal, o Kal
Drogo interpretado por ele
era um exemplar de selvageria e desapego a condutas socialmente
aceitas que poderia ser um indício de que ele seria capaz realmente
de ser Conan.
O começo convencional do filme, no entanto, fica longe de surpreender, ainda que não seja a ruindade da qual Nispel já provou ser capaz em “Os Desbravadores” (2007).
Alguns momentos raros, no entanto, servem para manter a expectativa quanto ao que está por vir, dentre eles o ponto de vista inusitado em que é apresentado o protagonista ainda no ventre de sua mãe, além de alguma necessária brutalidade, e da presença pouco aproveitada do experiente ator Ron Perlman (da franquia Hellboy).
Nada
impressionante, é fato, porém, essa ponte ligando à vida adulta do
bárbaro devoto de Crom é
ao menos rápida, mantendo a expectativa de que a atuação do
protagonista pudesse melhorar o filme. Esse princípio de história
resume-se a mostrar o
jovem no que mais parece um arremedo simplificado e pouco eficaz da
infância do samurai
Myiamoto Musashi, da
versão em quadrinhos idealizada por Takehiko
Inoue na aclamada série de
HQs Vagabond.
Porém,
não se esperava de Nispel
um bom drama entre as cenas de esquartejamento.
Independente
disso, a situação pode melhorar se o Conan
interpretado por Jason
Momoa contrariar
as baixas expectativas.
E
surpreendentemente, é exatamente isso que ele faz.
Facilmente
ele compõe o mercenário, ladrão, pirata, e sobrevivente guerreiro
que permanece fiel à sua busca por vingança.
Lamentavelmente,
é uma das poucas coisas fiéis no filme.
Por
razões indefinidas, Nispel
vai contar um enredo que só possui dos quadrinhos os locais em que é
ambientada a trama.
O
resto é uma trupe de vilões inúteis inventados para essa
pataquada, desde o capanga até o seu líder, Khalar
Zym, que o ator Stephen
Lang transforma em uma
espalhafatosa e ridícula anedota a ser derrotada no fim do filme, em
um duelo que prima pelo desprovimento de qualquer fator que tenha
sido considerado entretenimento em toda a história do cinema.
Aliado
a ele está um bando de atores que tiveram sua única chance de
trabalhar em um “blockbuster” e que felizmente o destino deve
providenciar que nunca mais tenham oportunidade semelhante.
E
nem adianta ficar esperando que o tédio dos diálogos seja apagado
pela sequência de espancação a seguir, pois cada uma é um
desapontamento a ser superado pelo próximo até que enfim cheguem os
créditos finais.
O
ator está realmente disposto a despedaçar seus adversários, e nem
um pouco interessado em bancar o bom moço simplesmente por estar
diante de uma guria educada que persiste em seus preâmbulos para
tentar transformar a história do cimério em mais uma do estilo:
guerreiro solitário mas provido de relutantes nobreza e senso de
justiça protege garota contra o mal e acaba se apaixonando por ela.
A
frustrante decisão de Nispel
em investir nesse enfadonho envolvimento amoroso com a mocinha do
filme (Rachel Nichols),
é a persistência de alguém que escolheu o emprego errado, visando
forçar o personagem a se adequar à lamentável maioria dos
lançamentos cinematográficos em cartaz.
Dessa vez, nem mesmo a violência gore do diretor presente em seus trabalhos é utilizada da forma costumeira, afinal, ele tem inacreditáveis 90 milhões de dólares para torrar com um roteiro sem cabimento, e assim ele pode sonhar que é Louis Leterrier e criar franquias com mirabolantes efeitos CG compensando o sono provocado pela conversa fiada de seus atores.
Então,
ele deslumbra o espectador com lutas nefastamente patéticas contra
inimigos de areia e monstros gigantes, o que deve ter sido o motivo
para ele se esquecer de detalhes pouco importantes, sejam a coerência
do plano do vilão ou a continuidade nas cenas (impressionante a
velocidade com que amanhece durante a luta no barco).
E
quanto à tramoia engendrada pelo vilão
Khalar Zym, pode ser
resumida como: a busca por uma máscara ancestral que não tem poder
algum além de se assemelhar a um sorete vivo no rosto de quem a
utiliza roubando-lhe a inteligência e capacidade de lutar.
Tendo
considerado isso, e também a pobreza visual que Nispel
conseguiu com os 90 milhões, ele ainda decide tirar até mesmo a
beleza da atriz Rosie
McGowan (a filha de
Khalar Zym, Marique), para
assim evidenciar toda sua ousadia e garantir que da parte dele o
longa-metragem vai permanecer sem nada que possa ser aproveitado pelo
público.
O
ator Jason Momoa declarou
em entrevista que teria planos para um roteiro de uma sequência do
filme, dessa vez explorando a mitologia do personagem, deixando claro
que ele percebeu a importância do papel que interpretou, não só
para os fãs, mas também para sua carreira e conta bancária.
Lamentavelmente,
o planejamento do diretor
Marcus Nispel era outro, e
mesmo que o protagonista do filme seja um dos poucos em sintonia com
as histórias que as gerações de leitores acompanharam, o rumo mais
provável da almejada franquia é a repetição da saga do personagem
da Marvel Comics,“O Justiceiro”,
na telona, em busca de seu espaço no hoje rentável mercado de
cinema de HQs.
O
vexatório resultado comercial e presença na lista dos maiores
fracassos de 2011 é apenas consequência de uma equivocada produção
trash milionária.
Depois
disso tudo, vale mencionar que, se surgir a oportunidade de assistir
o longa-metragem em 3D, aproveite muito bem o título do filme, pois
é a única coisa que vai estar fora da tela durante toda a metragem.
E
pensar que a vida na lúgubre Ciméria
já deveria ter sido castigo o bastante para Conan.
Quanto
vale: Nem meio ingresso.
Conan:
O Bárbaro
(Conan:
The Barbarian)
Direção:
Marcus Nispel
Duração:
113 minutos
Ano
de produção: 2011
Gênero:
Ação/Aventura/Épico
1 comentários:
Olá, Marcel.
Agora tudo ok.
Sucesso...
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