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sábado, 28 de agosto de 2010

THE SPIRIT (2009)

Difícil adaptação para o cinema.
Semelhante a "Watchmen", eu considerava “The Spirit” uma das obras impossíveis de migrar para a telona com a devida dignidade.

Por motivos diferentes, é claro.

The Spirit” é uma série em quadrinhos criada pelo gênio Will Eisner, que ficou conhecido por subverter a linguagem tradicional das HQs, deixando as histórias em quadrinhos muitas vezes sem nem ao menos quadrinhos.

Sendo assim, a escolha do diretor era um fator decisivo.


Ao escolher um quase estreante na função, o estúdio queria mesmo se incomodar.

Frank Miller, autor com uma carreira de sucesso nas HQs, e fã confesso da obra de Eisner, ficou com a tarefa de realizar a segunda versão live-action do alter-ego de Denny Colt (a primeira foi em um telefilme de 1987, mas isso é outra história).

Miller, por ser fã, convocou o melhor elenco que conseguiu, e fez uso de tudo que assimilou da estética das últimas adaptações cinematográficas de obras suas. A influência da estilização de Sin City e 300 estão presentes, especialmente no caso do primeiro.

A estética funciona? Em parte.

 
O início do filme é excelente, com visual vibrante e o diálogo em off que é característica dos roteiros de Frank Miller.
Volta e meia o diretor utiliza alguma piada ou recurso tipicamente cartunesco e reforça o discurso de homenagem a Eisner.
À medida em que desenrola o filme, alguns desses momentos são especialmente legais, enquanto em outros fica evidente que um diretor mais experiente teria conseguido amarrar corretamente as idéias visando um produto final coeso.
Referências a Sin City, Batman, Elektra, mais Sin City, e a outros trabalhos de Miller estão sempre em cena. E ele nem tenta disfarçar isso.

E assim, quando pela enésima vez um personagem mergulha, em alguma sequência chatíssima, o próprio diretor diz: “É. Essa ideia eu imitei do que Robert Rodriguez filmou em Sin City”.

Além disso, a coerência do enredo fica prejudicada pelo excesso de informação e formas de linguagem narrativa empregadas. Se em um momento a carga dramática está sendo delineada, em outro tudo parece um desenho animado antigo. Porém, não é que inexista certa qualidade quando cada uma seja feita. Algumas piadas são realmente eficazes, mas a transição é abrupta demais, e exige mais do que boa vontade do público.

E isso sem mencionar que tamanha atenção ao visual não foi destinada à direção do elenco, o qual conta a insólita e muitas vezes ridícula história quase sem supervisão do diretor. As atuações estão no modo automático, e apesar de para Samuel L. Jackson isso ser simples (afinal, é só interpretar ele mesmo novamente), isso não funciona com os demais.


Porém, Miller nem se preocupa com esses detalhes.
Deixa os atores (especialmente os vilões) repetindo suas falas desconexas andando de um lado para outro, sem nem ao menos se dar ao trabalho de mudar o posicionamento da câmera para fingir que se trata de um plano mirabolante minimamente interessante o que eles estão tramando.

Ninguém pode culpar o diretor, afinal, ele simplesmente aproveitou a oportunidade de trabalhar em um projeto de um ídolo seu, e utilizou todo o conhecimento sobre cinema que possuía, o que lamentavelmente era muito pouco.

Provavelmente o filme foi apenas precipitado, desde a escolha do responsável pela direção. E agora, com a revolução do 3D, enfim creio que haja recursos para uma versão live-action que faça jus ao desapego de Eisner pelas limitações da mídia em que suas histórias eram veiculadas.
Frank Miller não fazia ideia que o 3D surgiria com tal impacto de repente, e quis fazer algo que demonstrasse o seu apreço pelo que “The Spirit” e seu autor representam para ele, mas esqueceu de um aspecto essencial do que Eisner realizou.

Diferente do que foi realizado em “The Spirit”, o filme, as HQs do mestre da narrativa sempre buscavam transgredir as regras e se distanciar de tudo que já havia sido feito, criando algo único e particular do seu modo de ver as coisas.





The Spirit”, o longa-metragem, é só mais um filme qualquer, pensado para ter meramente um visual legal, e nascido para cair no esquecimento por reprisar o que outros diretores já filmaram antes.
Eu poderia dizer que o filme vale meio ingresso pra que seja feita uma análise das suas qualidades e defeitos, e pra discutir onde o diretor errou, com uma tolerância maior aos seus deslizes.
Mas considerando que nem todo mundo vai ao cinema pra aguentar hora e meia de uma ou outra ideia legal alternada com um monte de cenas ruins, tenho que deixar a nota do filme que ninguém queria de algo adaptado de Will Eisner.


Quanto vale: NEM meio ingresso.

The Spirit
(The Spirit)
Diretor: Frank Miller
Duração: 103 minutos
Ano de Produção: 2008
Gênero: Ação

terça-feira, 17 de agosto de 2010

TOP 5 - Filmes de 2009 que não valeram o ingresso


Lista chegada com atraso no blog, mas ainda haviam algumas pérolas do cinema ruim que eu não tinha visto.
Na verdade, um desses filmes que eu vi recentemente acabou modificando determinantemente a lista.
Confiram e comentem.


5 – Exterminador do Futuro: A Salvação



Quando eu ouvi dizer que o diretor do novo longa-metragem da cinessérie Terminator seria o tal McG, sabia que só um milagre tornaria este filme a ressurreição da franquia.
O que conferia esperança era o competente elenco convocado.
Porém, o resultado do empenho do diretor foi apenas outra tentativa de enganar o público em um misto de ação imitando o que outros diretores mais competentes fizeram antes, em uma trama sem inventividade alguma.
Se for pra continuar assim, espero que a série de filmes termine antes que o fiasco seja maior.



4 – X-men Origens: Wolverine



Um diretor vencedor do Oscar, um elenco adequado, e um monte de mutantes que os fãs queriam ver no cinema, além de um marketing bem realizado.
A sequência inicial não deixava dúvidas que estava iniciando um grande filme de ação.
Mas o público não contava com a interferência do estúdio, que fez questão de tornar a primeira aventura solo de Logan no cinema em um arremedo de história que eu só recomendo pra quem consegue rir da desgraça alheia.


3 – G.I Joe: A Origem de Cobra



Quando o diretor Stephen Sommers acertou em cheio ao revitalizar a franquia da Múmia, arrecadando uma fortuna em bilheterias pelo mundo todo, todos acreditavam que ele era o novo Midas do cinema.
Mas quando realizou o longa-metragem da clássica série G.I. Joe, ficou claro que nem um filme desmiolado de ação é tão simples de filmar.
Com protagonistas sem presença cênica ou carisma, roteiro acéfalo copiado de outras franquias cinematográficas, e cenas de ação bem abaixo da média, este filme só não é pior porque nem isso foi capaz de ser.


2 – Transformers: A Vingança dos Derrotados



Até os 49min do segundo tempo o número 1 desta lista era este segundo episódio da odisséia dos robôs que ganharam as telas em live-action sob a direção de Michael Bay. E se ele já era conhecido por desconsiderar a relevância de um detalhe chamado roteiro, destinando seus recursos ao visual e excesso de movimento em tudo que está em cena, dessa vez ele se superou.
Nada faz sentido na extremamente pretensiosa história, e o filme só não é mais ridículo do que é chato e barulhento.



Confira a crítica do filme aqui.


1 – Dragonball Evolution



Apesar de totalmente diferente da obra de Akira Toriyama, os primeiros minutos até que são minimamente razoáveis. Porém, a seguir o diretor James Wong prova que não tem talento nem pra dirigir propaganda eleitoral.
Desde o marketing pessimamente realizado, em que as caracterizações não se assemelhavam nem um pouco dos personagens presentes na HQ da qual se originaram, até a cena extra do filme, talvez a pior cena pós-créditos de toda a história do cinema, Dragonball Evolution fez por merecer este título.
O pior de 2009.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

RELATÓRIO DE ATIVIDADES - Quadrinhos S.A. 2010


Baita momento pro Quadrinhos S.A., o que significa uma repercussão muito legal na mídia, e excelente participação do público nos últimos eventos realizados.
Pros caras do Q. S.A. isso representa uma época em que o cara só trabalha e se incomoda, pra que na ocasião do evento finalmente valha a pena.
No que se refere ao passado recente, a Exposição em Homenagem ao Dia Mundial do Rock foi além das expectativas. Pra quem ainda não conferiu, ela continua no Royal Plaza Shopping.
Assista o trailer da Expo Rock abaixo.



E o Cineclube Quadrinhos S.A. que iniciou semana passada, no dia 06/08/10 com o filme Persépolis, também está indo muito bem, com o devido respaldo da mídia. O filme dessa semana é o comentado "The Spirit".
O trailer do Cineclube está abaixo.


E enquanto isso, só pra não desperdiçar tempo dormindo, o trabalho continua enquanto o pessoal desenha as histórias da revista Quadrante X que chega à sua 11ª edição em 2010, e deve ser lançada muito em breve.
Isso sem mencionar um projeto paralelo do Q.S.A. que foi mencionado na edição do jornal "A Razão" da quinta-feira 05/08/10.

Mais informações, só pra não perder o costume, aqui no Blog.
Aguardemos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

KICK-ASS: QUEBRANDO TUDO (2010)


Complicado não fazer comparações.

Mas eu fiz questão de não avaliar o filme "Kick-Ass" pelas suas similaridades ou disparidades com a HQ de Mark Millar e John Romita Jr.. As diferenças são evidentes e óbvias, mas não nortearão a análise presente nesta crítica.



De início, o longa-metragem mostra que sua paleta de cores será distante do olhar sombrio que tem virado moda no cinema de HQs.

O protagonista emerge nesse contexto apresentando seu cotidiano e a si mesmo. A jornada do nerd deslocado socialmente, e de pouca atitude só não se torna tão comum devido à linguagem que se adequa à censura 18 anos do filme.

Enquanto isso, o diretor Matthew Vaughn demonstra seu talento para escolha de transições e ângulos criativos de câmera.



Aos poucos, à medida que outros personagens se integram ao ambiente do herói que constantemente apanha, Vaughn comprova também que entende de cenas de ação, bem coreografadas, porém não tão violentas quanto a censura sugere.

No que se refere ao elenco, a maioria pende para o caricato, porém destacam-se Nicholas Cage (o herói Big Daddy), aproveitando a chance de mais uma vez ser um personagem de HQs, e principalmente a surpreendente Chloë Moretz (HitGirl), que além das melhores sequências de ação esbanja carisma e presença cênica, roubando a atenção sempre.
É notório esse destaque mesmo quando ela contracena com o protagonista, interpretado por Aaron Johnson.



Muito do que diminui a importância que Kick-Ass deveria ter na história deve-se ao fato de que, enquanto os outros heróis são repletos de aspectos interessantes inseridos ao longo do roteiro, e são reflexos viscerais da violência midiática atual, ele próprio (apesar das informações apresentadas no princípio da metragem) é só um herói qualquer

 


Do jeito que Vaughn conta a história, Kick-Ass deveria ser um coadjuvante, pois se ele achou que um jovem que combate o crime, encarando os problemas cotidianos e tentando lidar com questões como a fama e dificuldades amorosas era algo original, provavelmente não foi informado que um personagem chamado “Homem-Aranha” já migrou para o cinema um tempo atrás.

À medida que o enredo se desenvolve, Vaughn vai desperdiçando chance após outra de aproveitar as boas cenas e piadas do filme no objetivo de criar um produto final coerente.





E de repente, diante de um desenrolar tão absurdo, parece que o diretor diz: “Ah, que se ferre! Vamos filmar qualquer bobagem pro final”.

Desse modo, o que poderia ser um novo ícone quadrinhístico no cinema acaba sendo somente um divertido e visualmente bem feito filme redundante, e aquém do impacto e expectativa que sua premissa criou.

Quanto vale:



Kick-Ass, Quebrando Tudo
(Kick-Ass)
Diretor: Matthew Vaughn
Duração: 117 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Ação