Este filme provavelmente confundiu o público.
O cinema vive um momento em que produções de baixo orçamento, e suposta baixa qualidade técnica servem ao propósito de lucrar algumas dezenas ou centenas de vezes mais do que o valor investido em sua realização.
Em épocas de “Atividade Paranormal”, e “Cloverfield”, seguir esta estética e forma é uma ideia interessante.
O que “Monsters” provavelmente provocou foi a comparação com “Cloverfield”, e esse é com certeza o pior equívoco que poderia ser cometido por quem busca apreciar este filme.
Os minutos iniciais confirmam o engano.
A ação muito bem filmada, com o estilo “câmera de mão”, apenas reforça a impressão de que será um baita filme de ação.
A seguir, enquanto a ambientação acontece, apresentando o contexto e os personagens, para o público pode parecer que é a preparação para a pirotecnia, mas isto não acontece.
E isto somente porque nunca foi objetivo do diretor Gareth Edwards que o longa-metragem seguisse esta abordagem.
Nos minutos seguintes, quem compreender que a história não se desenrolará repleta de embates entre os humanos e a criaturas provavelmente perceberá o ponto nevrálgico da questão trazido a tona pelo diretor.
Caso contrário, será uma jornada entediante.
Considerando a primeira hipótese, a observância do transcorrer das cenas me lembrou especialmente a ótima HQ “DMZ”. E isso se deve principalmente ao protagonista, um repórter que aprende muito sobre o seu papel diante do contexto de guerra que lhe é apresentado.
Assemelhando-se a um documentário em área de conflito, a paranóia é uma constante, com a pouca informação disponível servindo não apenas para confundir mais as coisas, quanto para manter a população inerte devido ao medo.
A paisagem desolada logo se torna o mais comum dos cenários, e em meio a relatos de habitantes da região a trama adquire contornos que a aproximam do realismo extremo, e isso sem perder o foco nos dois personagens principais.
Essa era com certeza a melhor alternativa, pois mantém a aproximação com o espectador, e também diminui os custos da produção ao deixar os alienígenas em segundo plano.
Porém, vale ressaltar que as criaturas antagonistas do exército americano aparecem em cena, e isso com auxílio de competentes efeitos especiais, não devendo nada a grandes produções hollywoodianas.
No entanto, são apenas meios para um fim.
Enquanto a travessia pelo território devastado prossegue, uma contundente crítica política vai sendo delineada, e é impossível não lembrar da recente invasão estadunidense ao Iraque, ao vislumbrar o ataque ao que é diferente, ocupando um território estrangeiro com o discurso de proteção.
E as boas ideias do filme se estendem até a sequência final, quando o diretor compensa a quase inexistência de ação do filme com um inesperado momento de intensidade, cujo impacto serve para ressaltar o viés crítico da obra, e esclarecendo definitivamente ao público, que os monstros da história são outros.
Quanto vale: um ingresso com louvor.
Monsters
(Monsters)
Direção: Gareth Edwards
Duração: 94 minutos
Ano de produção: 2010
Gênero: Drama / Ficção científica
4 comentários:
Eu também gostei desse filme e é bem como tu falaste, uma ideia com uma história aparentemente também simples, porém bem filmada e produzida.
Valeu pela resenha.
Obteve destaque na mídia especializada principalmente por isso.
Mas no fim das contas, nunca foi um filme pra ser um blockbuster.
Filmaço. Sem dúvida nenhuma.
Tanto a bela filmagem, quanto a construção psicológica dos personagens, além das grandiosas metáforas em relação ao poder Estadunidense são muito boas.
Mais um para a lista dos filmes para ter na estante.
Bela análise.
Concordo.
A abordagem é o ponto forte, em uma história realmente fora dos padrões da Hollywood atual, ao tratar de temas semelhantes ao do filme "Monsters".
Valeu pelos comentários.
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