Era uma ocasião sem precedentes.
O
encerramento da primeira trilogia Homem-Aranha
vinha sendo chamado de o
maior filme de heróis de todos os tempos.
Isso
porque após dois competentes primeiros filmes, e uma bilheteria que
fez as franquias “X-Men”,
e “Blade“
caírem no esquecimento durante a véspera do terceiro longa-metragem
do aracnídeo, Homem-Aranha
3 chegaria sem alterações
em seu elenco principal, ou de diretor. Ou seja: ao que tudo indicava, a qualidade dos
anteriores retornaria.
E
não apenas por isso, mas também pelo marketing associado ao
lançamento, que reforçava a certeza de sucesso comercial.
E
pra falar a verdade, Sam
Raimi não estava mesmo
interessado em muito do que estaria presente.
Seu
roteiro original teria na função de principal vilão o
Homem-Areia, algo que foi
rechaçado pelo estúdio que fez questão de um novo direcionamento
das atenções do protagonista.
Ainda
assim, o Flint Marko
(interpretado por
Thomas Haden-Church), o
qual irá se transformar no ser arenoso, reflete muito bem a atenção
que Raimi havia
lhe dedicado afim de que fosse verdadeiramente digno de ser o
principal adversário do herói nesta empreitada.
Afinal,
em Homem-Aranha
as motivações sempre são peça primordial na trama.
Enquanto
nos quadrinhos muitas vezes heróis são heróis porque ganharam
poderes, e só, e vilões idem, o Homem-Areia
seguirá uma estruturação que lembra o cuidado que
Raimi teve com o próprio
Aranha, salvas as devidas proporções.
E
eu digo “tentar” porque se torna um exercício a mais do diretor
conseguir lidar com a imposição do estúdio, afinal, além do
Homem-Areia,
e do Harry Osborn/ Duende
Verde (James Franco) que
ele preparou com atenção redobrada nos outros filmes,
Raimi é obrigado a
adicionar um personagem dos quadrinhos o qual o próprio diretor não
aprecia, e com isso as coisas rumam para fora dos trilhos.
Mas
vamos por etapas.
Especialmente
no que se refere ao relacionamento com Mary
Jane (Kirsten Dunst),
afinal, o Homem-Aranha
não tem representado empecilho desde que Peter
parece ter encontrado o equilíbrio entre ser o vigilante mascarado e
sua vida pessoal.
Enquanto
isso, seu outrora amigo Harry
enfim irá servir ao propósito para o qual veio sendo desenvolvido,
tendo de ser o pior de todos os vilões que o herói já enfrentou.
E
isso não tem nada a ver com poder.
Na franquia Homem-Aranha, uma característica essencial nos vilões é uma proximidade com o próprio herói, e isso esteve presente no Duende Verde (Homem-Aranha, 2002), no Doutor Octopus (Homem-Aranha 2, 2004), e não seria diferente em 2007.
Porém,
Harry Osborn foi
o que teve o desenvolvimento mais detalhado, e na trama ele não é
menos que um irmão para
Peter.
Assim,
do mesmo modo que Sam Raimi
trabalha a empatia da
plateia com o nerd do Queens que combate o crime, as pessoas ao seu
redor, enquanto parte de uma família com o próprio, devem também ter
significado para o espectador.
Na
busca por sua vingança, aliás, este novo
Duende Verde vai ser
responsável por uma das melhores sequências de ação do filme, em
um combate que é um excelente cartão de visitas do que o
longa-metragem promete, sempre com a marca registrada do cineasta,
além dos efeitos especiais que ele se acostumou a empregar desde que se tornou diretor com crédito em Hollywood.
E
o resultado dessa perseguição do novo Duende
Verde ao Spider-Man
terá consequências
fundamentais ao longo do filme.
Porém, ainda que o Harry vilanesco saia de cena por um tempo, o Homem-Areia vai ser problema o suficiente pro heroísmo de Peter resolver, com mais algumas sensacionais sequências de ação nos embates entre os dois, ainda que nenhuma delas se compare à extraordinária representação do acidente que muda a vida de Flint Marko.
O
oceano de areia é um primor visual e demonstração do envolvimento
do cineasta com a exigência de fazer crível o mais exagerado
super-poder a surgir na franquia.
Não que isso adiante muito, afinal, quando as coincidências começam a acontecer, antes mesmo da referida cena, credibilidade não é exatamente o que o filme passa para o público.
Fica
evidente que o roteiro teve que se adaptar ao surgimento de um novo
personagem, aquele que eu mencionei que o cineasta nem aprecia dos
quadrinhos, e seu nome é Venom.
Nas
HQs o simbionte alienígena é vinculado ao segmento “megassagas da
Marvel envolvendo um monte
personagens”, algo que em 2007 ainda nem era sonhado que pudesse
ocorrer no cinema, pois “Os Vingadores” (2012) era
algo inimaginável, e “Homem de Ferro”, o primeiro
acerto do Marvel Studios só
iria estrear no ano seguinte.
Então,
de que maneira o simbionte iria surgir?
“Não
interessa. Inventem que ele cai por ali, onde o
Peter está”.
Nesse embalo, o Eddie Brock (Topher Grace) responsável por “vestir” o simbionte assim que Peter consegue se desvencilhar dele, terá papel de seu concorrente no Clarim Diário, e tem seu interesse romântico atendendo pelo nome Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), que irá criar uma fixação pelo Homem-Aranha após este salvá-la (deixando para trás o perigo para os figurantes escaparem por conta própria, vale mencionar), e a moça então funciona para fazer ciúmes a Mary Jane, que além de cantar mal e por isso ser dispensada de seu musical, tem que aguentar seu namorado Peter mergulhado em excesso de confiança, que logo se mistura com raiva ao descobrir com sua tia May (Rosemary Harris) que o Capitão de polícia Stacy (James Cromwell), pai de Gwen, tem provas de que o responsável pelo assassinato de Ben Parker (Cliff Robertson) lá no primeiro filme, era na verdade Flint Marko.
Então.
Parece enrolado?
É
muito fácil durante o assistimento do filme se perder em sub-tramas
que tentam beirando a exaustão (do espectador) ligar todos os novos
fatos e dramas particulares de cada personagem.
E
isso na maioria das vezes é feito por meio de clichês e
coincidências.
Ainda
que, se no Prometheus
de Ridley Scott (só
pra mencionar um exemplo recente) as coincidências sejam o ar que o
filme respira por comodismo, no Homem-Aranha
3 é perceptível que o
diretor Sam Raimi
simplesmente não tinha o poder de mando e desmando que um Riddley
Scott tem frente ao
estúdio, e por isso foi pondo em prática a arte do remendo para
tentar salvar sua obra.
Muito fácil lembrar de outra adaptação de HQs envolta em expectativa e que acabou sucumbindo às insistentes bobagens de estúdio interessado em dinheiro mesmo que sacrificando o futuro da franquia, pois o "X-Men Origens: Wolverine" teria em 2009 aspectos similares durante sua produção, os quais acabaram prejudicando o trabalho do diretor Gavin Hood, e o resto todo mundo sabe.
Em Spider-man 3, é graças ao empenho do diretor que ao menos existem ainda bons momentos com alguma dramaticidade, dignos de nota, dos quais ressalto o plano de Harry para vingar-se de Peter assim que o herdeiro do clã Osborn recupera a memória.
Muito fácil lembrar de outra adaptação de HQs envolta em expectativa e que acabou sucumbindo às insistentes bobagens de estúdio interessado em dinheiro mesmo que sacrificando o futuro da franquia, pois o "X-Men Origens: Wolverine" teria em 2009 aspectos similares durante sua produção, os quais acabaram prejudicando o trabalho do diretor Gavin Hood, e o resto todo mundo sabe.
Em Spider-man 3, é graças ao empenho do diretor que ao menos existem ainda bons momentos com alguma dramaticidade, dignos de nota, dos quais ressalto o plano de Harry para vingar-se de Peter assim que o herdeiro do clã Osborn recupera a memória.
Fora
isso, lamentavelmente destacam-se algumas caracterizações ruins (o
uniforme do Duende Verde,
ou a deplorável versão “dark” de
Peter), ou exageradas
demais (a conversão do Homem-Areia
em ser hediondamente fora dos padrões do universo do Aranha, mesmo
que sempre com impecáveis efeitos CG), além, é claro, do Venom
que não diz a que veio.
O
principal responsável pela perda de foco no roteiro, aparece no
filme simplesmente pra soar um capanga a mais, em um filme que
poderia ter sido sim um épico do nerdismo.
E no que se refere à simbiose com Peter, ele mais serve para demarcar as cenas que denotam a crescente busca do personagem por vingança.
E no que se refere à simbiose com Peter, ele mais serve para demarcar as cenas que denotam a crescente busca do personagem por vingança.
O
diretor de Evil Dead
sabia realmente em que estava trabalhando quando construiu os laços
de proximidade entre os personagens ao longo dos filmes, e no que lhe
é possível, desata os nós no terceiro longa-metragem, esclarecendo
que isso tudo foi a jornada de Peter
Parker, e não do
Homem-Aranha.
Afinal, é Peter quem vê seus relacionamentos arruinados, e as pessoas com as quais se
importa sofrendo as consequências por suas atitudes.
E se ele é o responsável, e faz o possível para remediar seus erros, nada mais justo do que ele estar disposto ao perdão.
E se ele é o responsável, e faz o possível para remediar seus erros, nada mais justo do que ele estar disposto ao perdão.
O Homem-Aranha segue seu caminho combatendo bandidos, mas seu alter-ego tem que lidar com a perda, e certamente com a culpa, algo que ele carrega desde o primeiro filme, e que de certo modo o cineasta busca exorcizar nesse desfecho de sua participação na cinessérie.
Por
isso, a tragedia do protagonista resulta em escolhas, que até pela
responsabilidade que envolve sua decisão de ser herói, acabam indo
de encontro ao que o típico blockbuster de ação faz o espectador
imaginar que encontrará.
Ao
fim, de maneira mais poética do que os executivos da
Sony iriam insistir que
fosse feito, Raimi devolve
um pouco de dignidade à produção, que ainda assim acabou destinada
ao limbo das produções a servirem de exemplo de decepção do
público.
Mas
ainda assim, a trilogia
Homem-Aranha deixou sua
marca, e o tanto de ideias e drama que o diretor teimou em adicionar
em meio às vertiginosas batalhas, e ao oceano de personagens
desprovidos de propósito nesse último capítulo serviriam para que
fossem minimizados os efeitos que os erros recorrentes de Hollywood
trouxeram para Homem-Aranha
3, que poderia ter sido
melhor, mas também poderia ter sido bem pior.
As lições que Peter Parker, e Sam Raimi aprenderam com a trilogia ensinaram muito aos que ousariam trilhar pelo caminho do cinema de HQs.
As lições que Peter Parker, e Sam Raimi aprenderam com a trilogia ensinaram muito aos que ousariam trilhar pelo caminho do cinema de HQs.
Marvel Studios e Christopher Nolan que o digam.
Quanto
vale: Meio ingresso quando
muito.
Homem-Aranha
3
(Spider-man
3)
Direção:
Sam Raimi
Duração:
139 minutos
Ano
de produção: 2007
Gênero:
Aventura/Ação
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