Afinal,
já são quatro longa-metragens seguidos dizimando a credibilidade
que havia na trama iniciada em 1979 quando a nave cargueiro Nostromo
interrompeu sua jornada despertando seus tripulantes antes do
tempo para verificar um sinal acústico repetido a cada 12 segundos, e que
invés de ser originado por alguém solicitando resgate era um aviso
do risco que ali espreitava.
33
anos depois do primeiro embate da Tenente Ripley (Sigourney
Weaver) com a criatura, o diretor Ridley Scott decidiu
voltar à trama que principiou com sucesso sob sua direção,
acrescentando elementos que precediam a viagem da Nostromo, mas
de acordo com o próprio, não sendo uma prequel.
Desse
modo, Prometheus tornou-se um dos mais esperados lançamentos
de 2012, com uma campanha viral e vídeos de divulgação que não
deixavam a desejar, ressaltando o potencial de que as pontas soltas
do primeiro filme enfim obteriam respostas.
Ridley Scott, no entanto, não necessariamente queria
responder a todos os questionamentos, e sim esclarecer algum ponto ao mesmo
tempo em que adicionava alguma nova pergunta visando o
estabelecimento de uma nova franquia.
Nada
mais natural, afinal, o próximo bilhão de dólares tem estado ao
alcance de quem sabe conciliar o marketing com um roteiro afinado com
o público.
Para
esse intento o cineasta convocou Damon Lindelof, afinal, o
impacto da série Lost era comprovação de que o roteirista possuía
o talento exigido de qualquer um disposto a tomar parte nessa jornada
que tinha que superar os preconceitos que haviam se somado ao longo
desse tempo desde que James Cameron realizou o último filme
envolvendo os seres Xenomórficos de que vale a pena mencionar
positivamente em uma conversa nerd.
Além
de Lindelof, que juntamente com Jon Spaihts assina o
roteiro, o elenco também tinha que estar à altura.
Quanto
a isso, sem problemas, afinal, contar com Michael Fassbender,
Noomi Rapace, Charlize Theron, e Guy Pearce é
certamente o suficiente para minimizar a preocupação dos fãs.
Nada a temer, não é?
Nada a temer, não é?
O filme começa com uma impressionante e belíssima sequência filmada na Islândia, já criando a atmosfera instigante imprescindível para o audacioso argumento que Ridley Scott tem em mãos para desenvolver.
Homenageando 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), e o livro de Erich von Däniken, "Eram Os Deuses Astronautas?", Prometheus irá se aproximar ainda da teoria da Panspermia direta, com a hipótese de que a vida na Terra teria principiado por intermedio de alienígenas.
Assim, a paisagem inicial logo é substituída por outro contexto, contando
com a dupla de protagonistas Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green), a qual deverá integrar a tripulação
da nave Prometheus para desvendar os segredos da origem da
humanidade.
Quer
dizer, desvendar é um jeito bonito de falar.
Não
há muitas camadas ou aspectos que desviem o rumo do roteiro, e
simplesmente tudo que é preciso saber acaba surgindo à frente,
coincidentemente onde os personagens estiverem, enquanto a
argumentação opta seguidamente pelo didatismo.
A nave irá pousar exatamente ao lado da Pirâmide em que as revelações estão aguardando, e o trajeto da equipe exploradora será certeiro e imediato rumo ao local em que as evidências do que queriam encontrar estão devidamente ao alcance de uns toques em um teclado alienígena.
Tudo
bastante fácil e simples.
Tão
simples quanto é estruturada a diferenciação entre aqueles que não
acreditam na descoberta do casal de protagonistas e os próprios.
Fica
fácil saber quem é potencialmente covarde ou um traidor em momento
oportuno, pois essas características negativas são atribuídas a
todos que discordam da teoria que relaciona a origem da humanidade
aos alienígenas.
Enquanto
isso, Shaw e Holloway são nada menos do que o exemplar
mais típico de personagem principal em Hollywood, esbanjando bom
mocismo.
Liderando a viagem de exploração custeada pelas indústrias Weyland em um trilhão de dólares, a missão logo demonstra o perigo inerente às escolhas que eles fizerem.
Liderando a viagem de exploração custeada pelas indústrias Weyland em um trilhão de dólares, a missão logo demonstra o perigo inerente às escolhas que eles fizerem.
Porém,
para eles isso não é fator apavorante, especialmente para um dos dois que tem
o dom de sempre escolher o capacete invulnerável. Mas isso é outra
história, e quem assistir entenderá.
No
esquema de Ridley Scott, as novas plateias não requerem mais
do que isso, e assim ele incrementa a trama com uma dupla
de coadjuvantes, um geólogo e um biólogo, de atitudes claramente inspiradas no seriado
Scooby-Doo.
Seria o humor involuntário seu objetivo?
Seria o humor involuntário seu objetivo?
Pelo
menos ao que indica o discurso científico, não seria
necessariamente isso.
Afinal,
porque toda a dedicação em elaborar uma obra, que especialmente
visualmente é impecável, que apesar de futurista flerta com o
realismo, e desperdiçar com clichês?
Seja
qual for a resposta, não será uma das que o filme apresenta.
E
se em outras ocasiões no Sci-fi a arrogância e ambição humanas foram
responsáveis por levar à ruína, dessa vez é muito mais a
incompetência dos personagens e seus atos dignos de desenhos da Hanna Barbera o que desencadea os eventos que o trailer
espertamente destacava.
Nesse
ínterim, o elenco justifica a contratação, com atuações
competentes, especialmente de Michael Fassbender, que até
pela natureza androide de seu personagem tem maior liberdade para se
libertar da obrigatoriedade de ser o “mocinho da história” ou “o
cara mau”. Instigante sempre em cada close, em cada frase,
principalmente pois da perspectiva dele, o seu criador é conhecido,
e sua busca visa atender outros dilemas. O ator faz assim a sua
interpretação transitar entre a neutralidade do ser sintético e
uma faceta de enigma tão envolvente que rouba a cena sempre que ele
surge na tela.
Além
dele, Noomi Rapace se destaca em uma atuação consistente que
esbarra apenas na exigência do diretor de que a cientista que ela interpreta seja a estrela de filme de ação mesmo em situações
implausíveis para uma produção dita não-MichaelBayana, o que
implica em clichê após clichê.
Dos demais, há na Meredith Vickers de Charlize Theron a tentativa de sobrepujar a bidimensionalidade que assombra a produção, e que faz dela apenas aquela que irá deixar todos para trás se a situação for favorável a isso, e que desacredita a mencionada teoria seguidamente, além, é claro, dos coadjuvantes que têm a função básica de morrer quando ninguém lembra deles, ou de soltar alguma frase de efeito constrangedora.
Dos demais, há na Meredith Vickers de Charlize Theron a tentativa de sobrepujar a bidimensionalidade que assombra a produção, e que faz dela apenas aquela que irá deixar todos para trás se a situação for favorável a isso, e que desacredita a mencionada teoria seguidamente, além, é claro, dos coadjuvantes que têm a função básica de morrer quando ninguém lembra deles, ou de soltar alguma frase de efeito constrangedora.
A
superficialidade e ausência de bons argumentos ao
ousar ingressar em um terreno tão espinhoso que nem esse em que
Prometheus foi roteirizado apenas afasta as chances de real imersão
no que ele se propõe.
Resta
assim ao menos as cenas de ação, que pirotécnicas e magistralmente
emolduradas pela trilha sonora de Marc Streitenfeld e a
fotografia de Dariusz Wolski acabam sempre menos empolgantes
devido ao vício do cineasta por deixar claro que, semelhante ao
Robin Hood (2010) dirigido por ele, o espectador deve saber o fim
óbvio dos acontecimentos antes que ocorram.
Aliás,
são essas coincidências que movem o enredo e fazem com a próxima
cena de ação seja justificada.
Ao
menos há aqueles momentos que lembram o porquê de haver
expectativa quanto ao trabalho do cineasta, e um bom exemplo disso é
toda a cena envolvendo a cirurgia, que não é nada menos do que
sensacional.
Fosse
ela um padrão e não exceção, não teríamos que acompanhar a
adesão de Ridley Scott ao estilo de desfecho heróico no
melhor estilo Armageddon (1998), no que era pra ser o ápice da
epopeia engendrada por ele, mas que pelo contrário apenas soma-se à
atmosfera de Indiana Jones espacial que é a primeira imagem
que vem à mente ao ver o encontro com o “criador” pelo núcleo
vilanesco do filme.
O que é fundamental não é solucionado, mas sim regurgitado em cena por metade com uma porção extrema de clichê e previsibilidade. E se houver qualquer complicação, não é nenhum problema que um holograma providencialmente presente não faça de questão de sanar.
E
o que estiver além disso, ainda desprovido de alguma justificativa e
provocando inquietação quanto ao seu significado deve-se
estritamente à obrigação de uma continuação em um futuro próximo
Assim,
a sinopse instigante é logo desperdiçada, restando somente os
ganchos para a tal sequência, e o link com a franquia alien para
agradar a nós, fãs da cinessérie.
Ainda
bem que ao menos a presença do Space Jockey recebe algum
cuidado, mesmo que ao fim sirva somente para muita destruição
sobreposta, sem real motivo de ser, e que seria passável apenas se a
edição fosse mais rápida, de modo que o espectador conseguisse
esquecer os intermináveis equívocos da história no vendaval de
eventos que se torna o último ato do longa-metragem.
Lógico.
No
entanto, certas produções ao fazer isso optam por seguir abordagens
menos sérias, ressaltando a possibilidade de criar momentos
absurdos, com personagens sendo salvos de maneiras ridículas no
último momento.
Mas
Prometheus é entretenimento inteligente, questionando temas
polêmicos e apresentando um ponto de vista diferenciado, não é
mesmo?
Sendo
assim, tendo em vista essa proposta evidente desde os primeiros
anúncios de seu desenvolvimento é uma lástima ainda maior perceber
que o longa é direcionado para o blockbuster típico, o que não
seria grande mal se o que ele tenta desenvolver não pedisse algo
mais do que um elenco notável, bons trailers de divulgação, e o
que mais for possível comprar em Hollywood com cento e tantos
milhões de dólares.
E sendo fator importante para um filme de ficção científica a surpresa e a imprevisibilidade, a completa ausência desses elementos durante a maior parte do longa-metragem apenas fazem dele um filme tecnicamente impecável, mas que desenvolve uma premissa interessante em um roteiro preguiçoso, e por isso seria nada mais que um filme comum e esquecível não fosse pelos nomes envolvidos, o que irá justificar sua bilheteria, porém, não representando mais que um retorno talvez prematuro demais a uma franquia que não o exigia de fato.
A melhor maneira de se divertir com o filme é rir do nonsense, quando as reações estúpidas dos personagens levam ao surgimento de novos monstros e mutações que conduzem à rápida aniquilação de figurantes sem propósito algum na trama, e quando a lua LV 223 parece um quarteirão minúsculo, em que tudo ocorre, explode, cai, e surge ao lado da protagonista, independente das dimensões reais do local.
Além disso, o fator crença pode pesar favoravelmente à obra, afinal, quem levar em consideração a potencial ousadia (ainda que não explorada de maneira satisfatória) pode desconsiderar que de maneira geral este é mais um dos filmes de Hollywood, cuja característica fundamental é enganar o espectador com a expectativa de que o suspense inicial possa resultar em algo genuinamente disposto a ser mais do que o rótulo de arrasa-quarteirão de efeitos especiais. A parte final evidencia isso, e em meio à destruição, o misto de heroísmo pastelão e salvamentos estapafúrdios no instante derradeiro só empalidecem ainda mais a sessão.
Além disso, o fator crença pode pesar favoravelmente à obra, afinal, quem levar em consideração a potencial ousadia (ainda que não explorada de maneira satisfatória) pode desconsiderar que de maneira geral este é mais um dos filmes de Hollywood, cuja característica fundamental é enganar o espectador com a expectativa de que o suspense inicial possa resultar em algo genuinamente disposto a ser mais do que o rótulo de arrasa-quarteirão de efeitos especiais. A parte final evidencia isso, e em meio à destruição, o misto de heroísmo pastelão e salvamentos estapafúrdios no instante derradeiro só empalidecem ainda mais a sessão.
E
isso sem precisar necessariamente comparar com os primeiros dois
episódios da cinessérie Alien.
Ainda
assim, é inevitável que se diga que, após o filme, nada melhor que
rever Alien: O Oitavo Passageiro, para relembrar que nos
tempos da tenente Ellen Ripley a qualidade do filme ia muito
além dos efeitos especiais, nomes no cartaz, e da sinopse.
Antes
de iniciar Prometheus 2, aliás, não faria mal a Ridley Scott
perguntar: “temos um bom roteiro, ou temos apenas uma boa
sinopse?”.
Prometheus
(Prometheus)
Direção:
Ridley Scott
Duração:
124 minutos
Ano
de produção: 2012
Gênero:
Ficção científica/Terror/Ação
2 comentários:
Concordo contigo. Aliás, eu desconfiei desde o princípio e sempre fiquei com um pé atrás antes de embarcar na onda de que esse "seria o filme do ano". Até porque eu sou fã mesmo é do primeiro Alien, onde tudo era novidade, inclusive uma mulher como protagonista
Apesar de não trazer muitas novidades, é um filme que está acima da média de muita coisa hoje em dia. Concordo contigo. Vale meio ingresso. "Prometheus".
A questão toda se referia ao que ele (com o perdão do trocadilho inevitável) prometia.
Eu admito que esperava dele um grande recomeço para a franquia.
Mas hoje em dia o importante é lucrar a exorbitância que for possível, em detrimento da história.
No próximo filme, qualquer equívoco do roteiro deste Prometheus pode ser simplesmente ignorado, e lá vamos nós para outra aventura espacial, em que uma trupe de cientistas trapalhões apronta muitas confusões.
Acima da média?
Certamente.
Grande filme?
Só se for no orçamento.
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