Em
um momento no qual vimos a primeira hexalogia das HQs na sétima arte
completada em “Os Vingadores”, o recomeço
de uma franquia de sucesso em “X-Men: Primeira Classe” (2011), a trilogia Batman próxima de seu desfecho, além dos reboots, sejam o vindouro “Superman:
Homem de Aço” (2013) por
Zack Snyder
ou até a possibilidade de reinício do Lanterna Verde de 2011, parece
estranho mencionar uma época em que a incerteza ainda reinava para
as adaptações quadrinhísticas rumo à telona e qualquer nova tentativa era mais passível de receber um não do que qualquer outra coisa.
Mas
lá em 2004, a situação recém começava a mudar.
O "Homem-Aranha 2" viria após "Blade 2" (2002), e "X-Men 2" (2003), e especialmente após o estrondoso sucesso do primeiro Homem-Aranha (2002).
O "Homem-Aranha 2" viria após "Blade 2" (2002), e "X-Men 2" (2003), e especialmente após o estrondoso sucesso do primeiro Homem-Aranha (2002).
Agora,
mais do que incerteza, a palavra que rodeava a produção era
expectativa.
Sam
Raimi estaria de volta,
além da trinca fundamental do elenco: Tobey
Maguire (Peter
Parker), Kirsten
Dunst (Mary Jane Watson), e
James Franco (Harry Osborn).
E
conforme ensina a cartilha da franchise milionária, um segundo filme
precisa aumentar a escala.
Claro.
E a escolha do ator Alfred
Molina para interpretar o
Doutor Otto Octavius foi
realmente um acerto notável.
No
entanto, por mais que o maior orçamento traga consigo maior
liberdade para criar um espetáculo visual muito superior ao
longa-metragem predecessor, é importante lembrar que também existem
muitas cenas em que o protagonista nerd azarado deve lidar com os
problemas da sua vida comum, sem máscaras ou super-poderes.
Se
isso não for interessante e não agregar novos elementos ao
desenvolvimento do personagem e a seu universo, a probabilidade maior
é de quebrar alguns recordes na semana de estreia, comercialmente
falando, tendo em seguida uma queda precipício abaixo na semana a
seguir.
E
ninguém queria isso, nem produtores, nem elenco, e muito menos Sam
Raimi.
O
dilema que se instaurava era: o que, além de um cientista maluco
possuidor de quatro tentáculos mecânicos, o herói precisa
enfrentar dessa vez?
Resposta:
a própria motivação de ser um herói.
Simples? Aparentemente. Mas não distante de alguma complicação caso lembremos que o próprio Super-Homem teve seu filme de "opto por não ter mais super-poderes e levar uma vida comum juntamente com as pessoas que amo", que apesar de não ser inteiramente questão de diretor, acabou resultando em uma produção que, se não chegou nem perto de ser um grande filme, ao menos elevou ainda mais a exaltação quanto ao primeiro "Superman", de 1978, devido à comparação com um segundo filme medíocre.
Raimi
teria uma estrategia para um resultado melhor do que o obtido por
Donner/Lester em
1982?
O
fato é que em "Homem-Aranha
2" o próprio
Parker é diferente, ou
melhor, vê as coisas de maneira diferente, ainda que se engane quem
pensa que o heroi aracnídeo que ele é entre uma aula da faculdade e
outra tenha mudado na mesma medida.
O
Homem-Aranha
vai até muito bem, obrigado, mas isso não ia ser a grande sacada do
roteiro, com certeza, e sim qual rumo o seu alter-ego decidiria
trilhar.
O
caminho de poder e responsabilidade exigia sacrifícios que iam além
do que se pensa lendo HQs e sonhando em ser o destaque das manchetes
dos jornais.
Assim,
o enredo da sequencia versa a respeito de escolhas, somando os
resultados destas à confirmação da figura do herói enquanto ser
falível e por isso tão facilmente identificável com a plateia que
o assiste na sessão.
O
diretor conduz com precisão as tragedias que envolvem seu
protagonista em razões para questionar o quanto ele necessita
realmente prosseguir lutando por um motivo que ele mesmo desconhece.
Nesse
contexto, a maneira bem-humorada com que o cineasta conta a historia
não diminui sua dramaticidade, e nessa pequena fábula cheia de
pequenas lições de moral, o objetivo final consegue novamente ser
alcançado se esquivando da rotulação na categoria de filme piegas
para olhar resmungando.
Talvez
porque dessa vez a vida de Parker
não tem piorado por puro
azar, e sim por consequência, seja nos problemas envolvendo sua tia
May (Rosemary Harris),
ou o vingativo amigo Harry
Osborn, e é claro, a
distância crescente no que diz respeito a Mary
Jane.
Afinal,
o roteiro o fará, mais do que aceitar a responsabilidade, ter que
lidar com a culpa por seus atos, apresentando um entendimento pouco
comum em produções do gênero, de que após o salvamento ainda há
sempre alguém que acaba de algum modo ferido.
E pra completar o espetáculo, o inimigo a catalisar o bom investimento dos 200 milhões de dólares de orçamento faz sua parte.
Além de uma atuação e caracterização convincentes, Alfred Molina conta com a criatividade do diretor para que o Doutor Octopus por ele interpretado seja o pior adversário que o herói lançador de teias já enfrentou no cinema.
Além de uma atuação e caracterização convincentes, Alfred Molina conta com a criatividade do diretor para que o Doutor Octopus por ele interpretado seja o pior adversário que o herói lançador de teias já enfrentou no cinema.
Em
especial na sequencia épica levando a uma conclusão no embate em um
trem elevado, Sam Raimi
realiza um trabalho próximo da perfeição enquanto os efeitos
especiais traduzem a inventividade que ele já havia demonstrado nos
Evil Deads
e em Army Of Darkness,
ainda que naqueles tempos com muito mais massa de modelar e caretas
de Bruce Campbell
fazendo o trabalho pesado.
Porém,
verdade seja dita, a aura trash ainda está presente, e o massacre
protagonizado por Octopus no
hospital é a melhor forma de exemplificar isso.
A trama bem amarrada funciona de tal forma que nem mesmo a sensação anti-climática deixada pelas pontas providencialmente soltas ao fim da sessão possam soar algo forçado meramente para a manutenção da franquia.
É apenas parte do que é uma boa série em quadrinhos, com a saga esperando a próxima edição.
Os personagens tomam atitudes e pagam o preço por elas, de modo que o fim do filme não é apenas o retorno ao ponto inicial depois de derrotar o vilão da ocasião.
É apenas parte do que é uma boa série em quadrinhos, com a saga esperando a próxima edição.
Os personagens tomam atitudes e pagam o preço por elas, de modo que o fim do filme não é apenas o retorno ao ponto inicial depois de derrotar o vilão da ocasião.
E
é claro, o andar do longa-metragem deixa evidente o fortalecimento
da personalidade de Harry
Osborn, personagem cada vez
mais importante para o enredo, e que demonstra que não há peça
desprovida de função no aparentemente inofensivo longa-metragem
para toda família dirigido por Raimi.
Por muito tempo cineastas receberiam a missão de repetir o sucesso de bilheteria e de crítica obtido neste segundo filme do escalador de paredes da Marvel Comics.
Seria
necessário, quatro anos depois, a própria Marvel
assumir a dianteira das
adaptações de seus personagens para enfim começar a compreender a
partir de “Homem de Ferro”
(2008) o que Sam Raimi havia feito e que oportunizou a visibilidade que o cinema de HQs
necessitava para tornar-se mais do que somente uma fonte de lucro potencial.
Aos
olhos de estúdios e do público as páginas dos quadrinhos passariam a representar uma fonte
infindável de historias que, nas mãos das pessoas certas poderiam
render produções detentoras de mais a dizer do que apenas explosões
e diversão momentânea.
O
melhor filme do personagem havia dado seu recado, e tanto a sétima
quanto a nona arte deixariam de ser as mesmas a partir de então.
Quanto
vale: Um Ingresso e meio.
Homem-Aranha
2
(Spider-man
2)
Direção:
Sam Raimi
Duração:
128 minutos
Ano
de produção: 2004
Gênero:
Aventura/Ação
6 comentários:
Não sou clarividente, mas creio que em um futuro não muito distante, quando a raça humana fizer uma crítica mais distanciada acerca da cultura pop, será aferido que esse Spider Man 2 é um dos filmes mais divertidos do início do século.
Eu adoro esse filme. Sem dúvida é um dos melhores filmes de super-herói já feito.
Aliás, já que o assunto é super-heróis, eu considero o filme solo do Thor excelente, mas a crítica em geral considera de razoável para baixo. O que vocês acham desse filme?
Bjosss!!!
Acho que algum reconhecimento ao Homem-Aranha 2 pode estar próximo, caso o hovo filme não atenda Às expectativas.
Mas espero que o Marc Webb consiga surpreender.
Aguardemos.
Quanto ao Thor, considero ele o mais difícil filme da Marvel já realizado até o momento. Mais até do que Os Vingadores.
E isso porque o filme do filho de Odin teria que contar praticamente duas origens, sendo que uma só já é motivo pra complicar a vida de muito diretor. Além disso, é claro, há o fato de ele ser o detalhe fundamental para a plena aceitação de aspectos fantásticos que vão além da questão científica a qual envolve os outros herois que migraram para o cinema até agora.
No fim das contas, o longa-metragem foi feito de maneira competente, e se em alguns pontos perde o ritmo, é algo totalmente justificável, e que não diminui o bom resultado que é a produção.
De minha opinião, é um bom filme de herois.
De qualquer modo, a crítica completa está aqui:
http://ibaldomarcel.blogspot.com.br/2011/05/thor-2011.html
Valeu pelos comentários.
Li que a crítica que tu fizeste ao Thor e concordo contigo. Aliás, eu considero esse um dos melhores filmes de heróis da Marvel "em carreira solo". Pelo que eu vi o roteiro conseguiu mostrar a evolução de um personagem que antes era egoísta e depois se transformou em um cara digno de portar o tal do Mjolnir.
O roteiro também soube desenvolver o vilão mais até do que o do filme do Capitão América. Tanto que as intrigas do Loki são essenciais para mostrar ao Thor a força que ele possui.
Eu ainda não vi o novo spider Man, mas sei lá, acho que tem tudo para ser mais um bom filme.
Bjossss a todos!!!
No filme Thor estava algo essencial para Os Vingadores ter enfim o caminho pavimentado pra acontecer, e o diretor felizmente soube construir isso pro épico da Marvel.
Quanto ao Espetacular Homem-Aranha, o texto está pronto, e falaremos a respeito esta semana.
Valeu pelos comentários.
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