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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O HOMEM DUPLO (2006)


O terceiro filme do ciclo de cinema "A Nova Cara da Animação", "O Homem Duplo"(A Scanner Darkly, 2006), buscou um recurso cinematográfico relativamente antigo, mas que há muito merecia notoriedade.
A rotoscopia foi o meio utilizado pelo diretor Richard Linklater na transição do livro de Philip K. Dick (o mesmo autor dos livros que deram origem aos filmes "Blade Runner", 1982, "O Vingador do Futuro", 1990, "Minority Report", 2002, entre outros) para outra mídia.



No ciclo de cinema, eu fui o responsável pelos comentários referentes a esse longa-metragem que repete o uso da técnica empregada em "Waking Life"(2001), do mesmo diretor, porém com um acabamento estético diferenciado.

Após filmar todas as cenas com atores, em locações reais, a equipe de animação desenhou por cima de cada frame, em um processo que levou mais de 300 horas por minuto de filme, e dobrou o tempo de pós-produção pré-estipulado, chegando a 18 meses. O efeito resultante favorece a narrativa, de modo semelhante ao obtido em "Valsa com Bashir", de 2009 (a análise desse filme está 5 posts abaixo).
Apesar de não manter o mesmo clima de tensão do livro, a escolha da rotoscopia permite um olhar único na história que mistura ficção científica, suspense policial, e drama, de maneira exemplar.

Também favorece o êxito da adaptação o ótimo
elenco, composto por Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr., Woody Harrelson, e Rory Cochrane, que interpretam o grupo de amigos que passa os dias "viajando" sob o efeito da "substância D" (Death = Morte), a droga do momento em uma sociedade futurista em que o governo americano perdeu a luta contra o tráfico.

A trama, que faz uma crítica ao consumo de drogas, e reflete a paranóia do período do governo Nixon, também serve como homenagem aos amigos do autor do livro, da época em que ele usava LSD. Com certeza o melhor movie do ciclo "A Nova Cara da Animação", "O Homem Duplo" prova que Philip K. Dick conseguiu criar uma obra atemporal, e que ainda hoje é capaz de se manter relevante e fomentadora de discussão.

É um vislumbre de uma realidade que muitos consideram conveniente ignorar, e que adquire novas e vibrantes cores na releitura de Linklater.



Parece um desenho animado, mas é na verdade uma grande oportunidade de burlar a visão preconceituosa sobre um problema social tão alarmante em nosso país.

"Essa foi a história de pessoas que foram punidas pelo que fizeram.(...)foram amigos que eu tive. Eles permanecem em minha mente e o inimigo nunca será perdoado.(...)
O abuso de drogas não é uma doença: é uma decisão, como a decisão de sair da frente de um carro em movimento"


(Philip K. Dick)

Quanto vale: 


O Homem Duplo
(A Scanner Darkly)
Diretor: Richard Linklater
Duração: 100 minutos
Ano de Produção: 2006
Gênero: Policial/Ficção Científica/Drama

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse é mais um filme que mostra que existe vida inteligente na ficção-científica. Vale lembrar também que o escritor Phillip K. Dick, autor da obra que baseou esse filme, permeava a maioria dos seus livros com histórias que misturavam ilusão e realidade. Vale a pena ler "Do androis dream of electris sheep", obra que inspirou Blade Runner

Marcel Ibaldo disse...

Valeu pela sugestão de leitura, Fernando.

O livro tá na lista a partir de agora.