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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A ORIGEM (2010)




Christopher Nolan conseguiu realizar o que a maioria dos diretores sempre quis.
Construiu uma carreira de sucesso agradando tanto o público quanto a crítica especializada, dirigindo filmes que lucram invejáveis fortunas em bilheterias e ainda assim não tendo seu nome vinculado a merchandising barato e exagerado.
Os trabalhos dos quais ele participou tiveram sempre uma certa maneira elegante de contar as histórias, ainda que na maioria eles sejam bem planejados blockbusters.

Após concluir o surpreendente "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008) ele anunciou que se dedicaria a um projeto mais autoral, talvez mais simples, disseram alguns.
Pois eu sinto desapontar os desavisados, mas “A Origem”, novo filme do cineasta, pode ser muita coisa mas com certeza não é simples.

Desde seu primeiro trailer as comparações iniciaram relacionando o longa-metragem ao cult "Matrix" (1999).

Vendo o filme, um misto de ficção científica e ação, é verdade que há semelhanças entre a proposta apresentada no enredo e a realidade de Neo. Esses pontos, no entanto, não representam a corriqueira falta de criatividade hollywoodiana, e sim a convergência de ambos os filmes para um questionamento comum, e que é um grande acerto por não ser utilizado como gancho principal temático do roteiro.


Nolan desenvolve assim um ambiente no qual ele molda uma missão suicida para seus personagens, e no qual ele pode trabalhar com inúmeros recursos técnicos que sob a ótica de outros cineastas servem meramente para desviar a atenção do público. Os efeitos especiais, as cenas em câmera lenta, e a trama intrincada funcionam de maneira simbiótica, parecido com a receita do êxito dos Wachovski no primeiro filme da sua franquia Sci-fi.
As regras do universo são forjadas para ousar o que a imaginação e os efeitos visuais permitirem, sem perder a coerência.

Visualmente impecável, muitos planos lembram a nova cinessérie do herói Batman, demonstrando que Nolan vai definindo uma identidade estética em seus trabalhos. Isso além da consolidação do seu estilo de narrativa, eficaz ao prender a atenção da plateia em meio às sequências de perseguição e lutas vertiginosas, enquanto vai apresentando as peças de seu inusitado filme de assalto.

Aliás, esse seria o subgênero mais adequado para incluir “A Origem”.

Os elementos seguem cuidadosamente a estrutura de apresentação, tanto dos personagens, quanto de suas características e habilidades, estas de um modo bastante didático e pragmático, lembrando um videogame.
O diretor adere a esse subgênero cinematográfico talvez para facilitar o desafio de contar tanta informação em pouco menos de três horas.
Funciona, mesmo que vários momentos pequem pela previsibilidade imposta pelas limitações e aspectos inerentes aos filmes protagonizados por ladrões.

Desta vez, o roteiro não é surpreendente o tempo todo.

Clichês deixam de ser ferramenta proibida e facilitam a vida do cineasta que eventualmente faz uso deles em favor do bom andamento da história para fins de sucesso comercial.
 Não que isso atrapalhe a diversão e potencial análise que a obra proporciona. 

Quem não conhece o restante da filmografia do diretor pode se surpreender com o conteúdo reflexivo que “A Origem” sugere, aprofundando-se pelos labirintos da subconsciência humana. 

Aliando isso ao interesse em produzir cinema de entretenimento, logo se torna comum observar três cenas divergentes, ocorrendo no mesmo instante, com o tempo passando de modo diferente em cada uma delas e o efeito da gravidade mudando a cada momento de direção.

Quanto ao roteiro, impressionante mesmo é a quantidade de elementos similares entre este "A Origem" e o longa-metragem de animação "Paprika", dirigido por Satoshi Kon, e que em 2006 já trazia muito do que Nolan tem por base em seu filme.

Outros pontos a mencionar em "A Origem" são a onipresente trilha sonora de Hans Zimmer, e o elenco, que apesar de competente não possui destaques, sendo sua participação em cena dosada o suficiente para algum envolvimento da plateia. Para Leonardo Di Caprio, aliás, deve ter sido menos complicado pelo fato de seu personagem ser bastante similar ao interpretado por ele em “Ilha do Medo” (2010), de Martin Scorcese.


Essa é a forma de Christopher Nolan filmar um labirinto de possibilidades pela mente nivelando as coisas por baixo, não tão complicado que qualquer um não possa curtir e fazer sua análise empírica a respeito.
Sendo assim, apesar de alguma resposta que a trama ainda deixe para forçar um ar misterioso, tudo é até bastante explicado, não tendo o efeito alucinógeno de “Waking Life” (2001), do diretor Richard Linklater, que apresenta um passeio por sonhos bem mais complexo.
Ainda que não tenha o impacto midiático de “Matrix”, “A Origem” é demonstração de uma linguagem cinematográfica bem realizada e um dos blockbusters mais legais de 2010. 
É esse o tipo de cinema que Christopher Nolan propõe: não desprovido de inteligência, e anabolizado na intensidade, trazendo sempre temas instigantes com uma roupagem moderna e singular.

Quanto vale:


Confira aqui a VIDEOCRÍTICA do filme pelo pessoal do Quadrinhos S.A..

A Origem
(Inception)
Direção: Christopher Nolan
Duração: 148 minutos
Ano de Produção: 2010
Gênero: Ficção científica / Ação

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu também considero "Inception" um dos filmes mais legais do ano. Muito bom

Guilherme Hollweg disse...

Parabéns Ibaldo. Grande crítica. Concordo em tudo na sua crítica. Inception, dessa vez mostra o ar nerd de Nolan, de maneira extremamente arquitetada e inteligente. Um filme realmente fascinante.

Curti.


Guiga Hollweg

Marcel Ibaldo disse...

E não apenas isso, este filme representa um pouco mais da experimentação técnica cinematográfica do diretor.
Deste modo, o próximo filme da franquia "Batman" tende a apresentar um pouco dessa maturidade quanto ao estilo de cinema que ele produz.

Fabrício disse...

Não vi o filme. Se quando tu falas técnica, te referes a técnica e não tecnologia, o elegio é genuíno para pra mim. Se ao contrário, denota quase sempre exatamente a falta de técnica.

Marcel Ibaldo disse...

Pra falar a verdade, ao mencionar técnica, eu quis evidenciar um equilíbrio entre narrativa, roteiro e tecnologia, se bem que, nesse trabalho do diretor Christopher Nolan a tecnologia tem papel de destaque se compararmos com outros filmes dele.
Para a história que ele estava contando era algo necessário.