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domingo, 26 de dezembro de 2010

(500) DIAS COM ELA



O subgênero das comédias românticas está decadente.
E eu digo isto não devido a alguma crença ou filosofia particular de minha parte.
Trata-se de uma constatação fundamentada pela enfadonha superficialidade dos roteiros que tornou toda uma leva de filmes apenas cópias uns dos outros.
O público simplesmente conformou-se e passou a investir seu tempo para assistir as mesmas ideias e fórmulas prontas, desde o início até a reviravolta de sempre no final, ou seja: depois de tudo, eles vão se separar, mas um deles descobre que não pode viver sem o outro, e então corre até o aeroporto, ou local similar que representa a distância intransponível entre os dois. E no último instante, eles ficam juntos.
Ser previsível agora é vendável, e diante disso, pra que inventar algo novo?

Com uma carreira bem-sucedida dirigindo videoclipes, Marc Webb realizou este primeiro longa-metragem sem provocar grande expectativa.
Recentemente, com o anúncio de que seria o novo diretor da franquia do "Spiderman", tornou-se o assunto do momento, tanto para críticas prévias ao seu trabalho ainda não filmado, quanto para despertar a curiosidade quanto ao que ele poderia fazer no reinício (ou continuação) das histórias do personagem na telona.
Mas para ter alguma ideia do trabalho dele, “(500) Dias com ela” é o principal referencial disponível.
E sim, o filme é uma legítima comédia romântica.

Recortado e distribuído semelhante a um quebra-cabeças, o pequeno conto de fadas moderno narra a história do tragicômico romance entre Tom e Summer.
Personagens típicos, comuns desse tipo de filme, as diferenças entre eles, meio “Eduardo e Mônica”, só representam a certeza de que foram feitos um para o outro. Certo?
Não necessariamente.

A plateia ainda não sabe, porém o que virá a seguir é uma demonstração da incapacidade humana de enxergar as coisas sob outra perspectiva, quando observar apenas os detalhes positivos é muito mais legal e confortável.
Enquanto o protagonista percorre aleatoriamente os 500 dias de seu desafortunado, apesar de inicialmente promissor envolvimento amoroso com seu interesse romântico, o próprio cineasta busca encontrar as razões pelas quais a situação do casal fugiu do controle.

Para isso, investe nas mais variadas formas de linguagem, fundindo referências com cuidado e os maneirismos aprendidos com a indústria de videoclipes. A edição, as escolhas estéticas às vezes com um ar quadrinhesco, mudanças de pontos de vista, ou mesmo a apresentação de mais de um ponto de vista simultaneamente buscam justamente isso.
Além disso, “(500) Dias Com Ela” é um exemplo de escolha perfeita de trilha sonora no cinema, levando-o a dialogar com os musicais cinematográficos. As músicas interagem com o espectador com extrema naturalidade, complementando o roteiro do filme e tornando cada eventual passagem de tempo um momento a mais para inserir dramaticidade no filme.
Marc Webb obviamente optou por resgatar um pouco da arte antigamente parte desse filão cinematográfico, quando contar o tal romance não era o bastante e havia a necessidade de proporcionar o envolvimento com o episódio que preenchia o tempo de metragem.  


Desse modo, o diretor não necessariamente está criando algo novo, e sim relendo suas influências, modernizando-as, e desconstruindo, com um exagero de estilo e boas ideias, o padrão com que Hollywood se acostumou.

Somente assim para que a mulher que desgraçou a vida do arquiteto de nome Tom não assuma a função de vilã do longa-metragem. As diferenças entre eles, os princípios pré-definidos antes mesmos de se conhecerem e que catalisam a tragédia anunciada são tão bem construídos que a nada romântica Summer permanece apaixonante em sua pragmática forma de esfacelar esperanças alheias.
A personagem de Zoey Deschannel, que novamente põe em prática seu talento natural de roubar a cena, é um retrato pessimista de uma geração, enquanto que o personagem interpretado por Joseph Gordon-Levitt aproxima-se do outro extremo.
O olhar de Marc Webb acerca dos relacionamentos humanos não permite que haja inimigos ou arqui-rivais. A humanidade que ele expressa em seus protagonistas não pode se restringir à obsessão quase caricatural dos filmes “água com açúcar”.


E sendo assim, ao final da história nem adianta se esforçar para compreender os momentos ou motivos que significaram os pontos de ruptura no relacionamento de Tom e Summer. Não há uma ciência no desenrolar do enredo que impeça que algo similar ocorra novamente e a aceitação desse fato é a lição valiosa que o quebra-cabeça montado permite vislumbrar.
Esqueça as comédias românticas genéricas que brigam por espaço nos cinemas.
(500) Dias Com Ela” assimilou inteligência e intensidade ao seu resultado final, redefinindo o subgênero até então estagnado do qual faz parte, e tornando-se talvez o único desses filmes recentes que vale a pena assistir.


Quanto vale: um ingresso e meio.


(500) Dias Com Ela
(500 Days With Summer)
Direção: Marc Webb
Duração: 95 minutos
Ano de produção: 2009
Gênero: Romance/Drama/Comédia

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