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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

TEKKONKINKREET (2006)


Mais um daqueles filmes que seria praticamente impossível conhecer apenas procurando nas prateleiras das vídeolocadoras.
Desse trabalho do diretor Michael Arias eu ouvi falar em algum site ou revista em que a capa do filme aparecia em tamanho reduzido, parecendo um animezinho bem mequetrefe.

De qualquer modo, a HQ em que é baseada é considerada um marco na história dos quadrinhos modernos, e hora ou outra eu iria assistir pra tirar minhas conclusões.

Em virtude do Ciclo de Cinema do Shin Anime Dreamers – S.A.D., ao menos isso ocorreu da maneira correta, no telão, e com o melhor sistema de som em sala de cinema de que eu tenho conhecimento, ou seja, o da Cooperativa de Estudantes de Santa Maria – CESMA.


Qualquer filme tende a se beneficiar de uma circunstância que nem essa, afinal, é para ser exibido desse modo que qualquer diretor que se preze realiza o seu trabalho.
Nesta obra de Michael Arias, a animação em si é chocante para os desavisados.
Mas isso não ocorre devido a excessos de violência ou nudez, e sim pela escolha de um estilo peculiar de traço artístico e técnica de animação empregado.
Tudo beira o bizarro, mas com uma carga latente de sutileza e organização em seu aparente caos visual.


Os personagens possuem uma estrutura física que, digamos assim, varia de frame a frame, e enquanto isso, o cenário é simplesmente perfeito.
Com o tempo o público vai se acostumando com o contexto exagerado e sua interação com os personagens vai se tornando algo cada vez mais fluído e natural.
E eu faço questão de mencionar que o visual ter sido dessa forma era algo essencial em se tratando da adaptação da HQ Preto & Branco, do autor Taiyo Matsumoto. Se os quadrinhos criados por ele são muito lembrados pela fusão de estilo oriental e europeu de quadrinização, o diretor Michael Arias soube traduzir com excelência essa vibrante arte para o cinema.
Além da acertada escolha quanto ao estilo visual, o cineasta optou por uma fidelidade quase absoluta ao material original, e a obra de Taiyo Matsumoto já era rica o suficiente em informação, para a sorte dele.


O contexto da Cidade do Tesouro é mais do que o local onde a trama acontece.
Atua como se fosse outro personagem, e por suas vielas e becos os protagonistas chamados Preto e Branco exercem a função de soberanos temidos no submundo da delinqüência juvenil, chegando a intimidar a própria yakuza e a polícia.
Novamente, o longa-metragem engana o espectador que espera uma história simples.
Somente essa sinopse permitiria um bom enredo para cenas de ação, e elas existem, e são realmente muito bem feitas, com um efeito cinético invejável em cada nova sequência.

No entanto, isso está longe de ser o objetivo do autor Matsumoto, ou do cineasta Arias.


O que eles trabalham é a profundidade do relacionamento humano envolto por essa estética singular.
Trata-se de uma fábula moderna que se passa em uma enorme favela, na qual todos, inclusive crianças estão sujeitos aos mesmos perigos físicos ou psicológicos, e em que a sobrevivência não se limita a manter-se ileso após um combate.
A crueza do roteiro é ao mesmo tempo brutal e poética, transformando o que era pra ser apenas uma sessão assistindo um movie de pancadaria em um passeio quase psicodélico por um mundo diferente do nosso mais pelo nome dos personagens do que necessariamente pelas suas características básicas de funcionamento.
Saber usar isso em seu favor era imprescindível para o diretor encarregado dessa árdua missão, e impressionantemente, Arias consegue isso mantendo sempre o foco no seu inusitado elenco, tão simples e humano em uma realidade tão pouco humana devido à sua constante influência.

Sendo assim, as reviravoltas da história funcionam mesmo que não se tratem de alguma nova ameaça megalomaníaca à vida na Terra, e sim um conflito entre delinquentes, que ao tentar lidar com a estupidez e violência da vida na grande cidade, trazem a perspectiva surreal de um microuniverso muito próximo do que vemos nos noticiários diariamente.
Tudo isso de maneira imprevisível, imaginando rumos que com certeza não fariam parte das escolhas de um diretor convencional de Hollywood.

E quando a história muda radicalmente, isso objetiva apenas o que pode ser o desfecho mais intenso que o cinema de animação já proporcionou.
O diretor Michael Arias, infelizmente viu seu longa-metragem ser ignorado pelo Academy Awards, mesmo que seu filme seja tão ou mais Cult do que a maioria dos que eu tenho visto concorrendo a essa premiação, o que de maneira alguma tira o brilho do que ele realizou, afinal, Tekkonkinkreet é um trabalho de complexidade e coesão irrepreensível que compõe uma das melhores adaptações de HQs para a sétima arte de todos os tempos, e um dos melhores filmes da década.


Quanto vale:

Tekkonkinkreet
(Tekkonkinkreet)
Direção: Michael Arias
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 2006
Gênero: Drama / Ação

2 comentários:

Guilherme Hollweg disse...

Realmente uma obra maravilhosa

Concordo contigo, merecedora de valiosos 2 ingressos.

Velho, assistyi a [REC 2], ao invés de ir apra a coluna Soretou, vai para a coluna Desossou! hahaha

Surpreendeu-me, e muito! Filmaço.

Abração, e grato pela análise!

Marcel Ibaldo disse...

Valeu pelo comentário.
E a respeito do REC 2, apesar dos comentários desnecessários e desabalizados de grande parte da crítica nacional a respeito, é realmente um bom filme.
Em breve haverá a crítica do filme aqui no blog.
E aguardemos ainda a estreia da Sessão "Desossou" e "Soretou" no blog do Guiga Hollweg.