O princípio promissor poderia estar ameaçado caso as próximas produções não fossem capazes de repetir o êxito de Blade, X-Men, e Homem-Aranha, nas telonas.
À medida em que o investimento aumentava, surgiam novas possibilidades de trazer outros personagens às telas com maior fidedignidade ao material disponível nas páginas das HQs.
E sendo sempre um considerável risco de alguns milhões de dólares, um modo de aumentar as probabilidades é retomar algo que já conquistou seu espaço frente ao público.
Mas pra que isso ocorra devidamente, Hollywood definiu seus macetes que precisam funcionar em harmonia pra servir ao lucro e prosseguimento da franquia.
Manter a equipe e elenco do filme original ajudam, facilitando a tarefa de “aumentar a escala”.
Afinal, um segundo filme dos mutantes da Marvel Comics deveria ter mais ação, mais personagens, mais tensão, etc.
É claro que Bryan Singer sabia disso muito bem.
E era com isso que o estúdio contava, pois os famosos heróis tinham potencial para ser talvez a maior franquia quadrinhística já criada.
E a continuação já começou com uma cena melhor do que todas as sequências de ação do primeiro filme.
O novo personagem apresentado em live-action, Noturno (Alan Cumming), teve o privilégio de protagonizar um dos momentos mais impressionantes da franchise, já indicando os rumos que o enredo trilharia, em uma abordagem que forçaria o choque entre o conflito mutante e a posição a ser assumida pelo governo.
Desempenhando o papel de representante e executor dessa ideia com relação aos mutantes estava o Coronel William Stryker (Brian Cox), sendo responsável por uma ofensiva tão eficaz contra os alunos do Professor Xavier (Patrick Stewart) e os demais homo superior, que leva a uma inesperada aliança entre os X-Men e a Irmandade de Mutantes de Magneto (Ian McKellen).
Peças dispostas no tabuleiro, caberia a Bryan Singer fazer bom uso delas, cumprindo as tais regras exigidas para sequels, aumentando a escala do embate entre as visões de coexistência e sobrevivência do mais forte.
Com o sucesso do primeiro longa-metragem, o estúdio considerou válido destinar um maior orçamento para a produção, e o diretor direcionou tais recursos para trazer cenas mais espetaculares do que as de seu trabalho anterior, algo que com certeza agradou aqueles que aguardavam pirotecnia e espancação no nível das HQs.
Não apenas a participação de Noturno, mas também os efeitos especiais dos demais combates, foram todos filmados com primor técnico acima do esperado, algo que apenas demonstrou o comprometimento de seu realizador.
Dos embates, vale mencionar ainda as lutas entre Wolverine (Hugh Jackman) e Lady Letal (Kelly Hu), Ciclope (James Marsden) e Jean Grey (Famke Jansen), e a perseguição de caças à aeronave Pássaro Negro, além, é claro, de toda a sequência da invasão da mansão.
Do elenco original, praticamente sem mudanças, foi possível conferir um maior aprofundamento na representação de seus personagens, sempre com o estilo de interpretação realista exigido pelo cineasta, e que mantém o universo fictício com ares de distorção do ambiente de nossa realidade. Sombrio e envolvente em sua forma de expressar a característica crítica social evidente nos roteiros das publicações da equipe mutante.
Esse viés crítico, aliás, era certamente um aspecto que serviria de diferencial, e sua ausência provavelmente teria um efeito “banalizador” no resultado final. Mas mantê-lo sem consistência também poderia ser prejudicial ao filme.
Porém, na visão apresentada por Bryan Singer esse questionamento intrínseco teria ainda mais desdobramentos do que um diretor convencional consideraria funcional tratar.
São três principais visões antagônicas presentes na trama: a paz almejada por Charles Xavier; a supremacia mutante por meio do conflito, sonhada por Magneto; e o holocausto mutante servindo à manutenção da hegemonia humana, tendo em William Stryker seu maior defensor.
A discussão e debate permanecem mais fortes no decorrer do roteiro, em um raro caso de harmonia entre o conteúdo reflexivo e a ação propriamente dita. E com isso não apenas torna-se um daqueles filmes que ao fim da sessão deixa muito a ser comentado pelo espectador, porém, também permite o desdobramento de muito do que havia sido apenas iniciado no longa-metragem de 2000.
Do passado de Wolverine à grandiosa saga da Fênix, Singer soube traduzir para o cinema os elementos fundamentais da mitologia mutante nas páginas, equilibrando o espaço que quase todo personagem necessitaria em cena.
E eu digo “quase” todo, pois novamente ele opta por manter o líder Ciclope em segundo plano, em prol da presença de Logan na função de protagonista, algo equivocado para qualquer leitor das histórias da equipe na Marvel.
Ainda assim, os demais, em sua grande maioria, mantêm o nível de caracterização e interpretação competente, e as três principais aquisições (Noturno; William Stryker, e Lady Letal) favorecem o entretenimento, somando-se às ainda atuações destacadas de Hugh Jackman, Ian McKellen, Patrick Stewart, e Rebbeca Romjim-Stamos (Mística).
Com o reconhecimento de público e crítica, o cinema de Bryan Singer havia encontrado uma perfeita sincronia com o universo mutante, trazendo uma forma nova de encarar os mundos fantásticos oriundos das HQs.
Sem fantasias extravagantes, combates sem motivo, ou atuações cartunescas.
A seriedade com que o diretor encarou sua tarefa teve repercussões no que viria a ser produzido a seguir em se tratando de adaptações de quadrinhos, construindo as bases para o novo subgênero cinematográfico que surgia naquela época, e estabelecendo um padrão que estaria presente em futuros sucessos que vão de Batman Begins a Homem de Ferro, os quais devem muito ao trabalho de Bryan Singer.
Quanto vale: Um ingresso e meio.
X-Men 2
(X2: X-Men United)
Direção: Bryan Singer
Duração:130 minutos
Ano de produção: 2003
Gênero: Ação/ Ficção Científica
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