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domingo, 22 de janeiro de 2012

CONAN: O BÁRBARO (2011)



Muitas décadas separaram o cimério das telas.
Desde os longa-metragens que alavancaram a carreira de Arnold Schwarzenneger ninguém havia ousado remexer a mitologia criada por Robert E. Howard, trazendo de volta seus personagens às telas.

Da origem em revistas pulp, com destaque para a Weird Tales, à conversão para os requadros da Marvel Comics muita coisa mudou para o icônico anti-herói Conan.
Muito da sua representatividade na cultura pop, apesar de hoje relegado ao segundo plano em se tratando de revistas em quadrinhos, se deve ao primeiro filme dirigido por John Millius, “Conan, O Bárbaro” (1982).
E se a segunda tentativa, Conan, O Destruidor (1984), havia perdido o caminho, a receita de fidelidade, crueza, violência, e estilo de produção disposta a não seguir padrões e fórmulas prontas bem-sucedida no primeiro longa-metragem havia sido mais do que o suficiente para tornar o personagem um clássico dos filmes de HQs.

No entanto, talvez pela dificuldade de encontrar um substituto para Schwarzenneger no papel-título, por tempo demasiado os cinemas não proporcionariam ao público uma viagem de retorno ao continente hiboriano.
Só poderia ser isso, afinal, não se tratava de nenhum desafio tão complexo trazer uma competente aventura com o guerreiro, considerando que haviam milhares de páginas publicadas com boas histórias a adaptar, e que não seria necessário um investimento relativamente tão alto para a produção, algo que o oportunista Robert Rodriguez havia percebido ao tentar com fracasso trazer uma personagem secundária desse universo aos cinemas: Red Sonja.
Mas seria desperdício ignorar a febre de adaptações dos quadrinhos para a sétima arte.

Sendo assim, logo começaram a surgir os primeiros nomes confirmados para essa tentativa de estabelecer uma nova franquia junto a um público jovem que seria uma fonte de dinheiro considerável caso viesse a conhecer e apreciar a obra de Robert Howard.
Na cadeira de diretor, Marcus Nispel trazia uma série de características que tiveram alguns bons resultados apenas em Sexta-Feira 13: Bem-Vindo a Crystal Lake (2009).
O cineasta, oriundo de uma carreira videoclíptica, e adepto de uma forma de cinema que não chega a ser comercial, tinha pelo menos a apreciação pela violência dentre os adereços que vinham recorrentemente sendo vistos em seus trabalhos, e isso seria bem-vindo em seu mais recente trabalho.


Ainda que até então tivesse demonstrado ser absolutamente incompetente de desenvolver personagens ou roteiros minimamente inteligentes, ficava a esperança de que, em se tratando de um bom roteiro que tivesse sido entregue, nem mesmo um bacteriófago que nem ele pudesse estragar o resultado final.
Ainda assim, mesmo que Nispel não aprontasse uma, ainda havia a grande dúvida: quem substituiria Arnold Schwarzenneger?
A resposta só poderia ser uma: Jason Momoa?!?
O até então pouquíssimo conhecido ator parecia a escolha mais estúpida possível, porém sua participação na excelente série Game Of Thrones mudaria a opinião de muitos, afinal, o Kal Drogo interpretado por ele era um exemplar de selvageria e desapego a condutas socialmente aceitas que poderia ser um indício de que ele seria capaz realmente de ser Conan.



O começo convencional do filme, no entanto, fica longe de surpreender, ainda que não seja a ruindade da qual Nispel já provou ser capaz em “Os Desbravadores” (2007).


Alguns momentos raros, no entanto, servem para manter a expectativa quanto ao que está por vir, dentre eles o ponto de vista inusitado em que é apresentado o protagonista ainda no ventre de sua mãe, além de alguma necessária brutalidade, e da presença pouco aproveitada do experiente ator Ron Perlman (da franquia Hellboy).
Nada impressionante, é fato, porém, essa ponte ligando à vida adulta do bárbaro devoto de Crom é ao menos rápida, mantendo a expectativa de que a atuação do protagonista pudesse melhorar o filme. Esse princípio de história resume-se a mostrar o jovem no que mais parece um arremedo simplificado e pouco eficaz da infância do samurai Myiamoto Musashi, da versão em quadrinhos idealizada por Takehiko Inoue na aclamada série de HQs Vagabond.
Porém, não se esperava de Nispel um bom drama entre as cenas de esquartejamento.
Independente disso, a situação pode melhorar se o Conan interpretado por Jason Momoa contrariar as baixas expectativas.
E surpreendentemente, é exatamente isso que ele faz.

Facilmente ele compõe o mercenário, ladrão, pirata, e sobrevivente guerreiro que permanece fiel à sua busca por vingança.
Lamentavelmente, é uma das poucas coisas fiéis no filme.
Por razões indefinidas, Nispel vai contar um enredo que só possui dos quadrinhos os locais em que é ambientada a trama.
O resto é uma trupe de vilões inúteis inventados para essa pataquada, desde o capanga até o seu líder, Khalar Zym, que o ator Stephen Lang transforma em uma espalhafatosa e ridícula anedota a ser derrotada no fim do filme, em um duelo que prima pelo desprovimento de qualquer fator que tenha sido considerado entretenimento em toda a história do cinema.
Aliado a ele está um bando de atores que tiveram sua única chance de trabalhar em um “blockbuster” e que felizmente o destino deve providenciar que nunca mais tenham oportunidade semelhante.
E nem adianta ficar esperando que o tédio dos diálogos seja apagado pela sequência de espancação a seguir, pois cada uma é um desapontamento a ser superado pelo próximo até que enfim cheguem os créditos finais.

Não que o protagonista não se esforce.
O ator está realmente disposto a despedaçar seus adversários, e nem um pouco interessado em bancar o bom moço simplesmente por estar diante de uma guria educada que persiste em seus preâmbulos para tentar transformar a história do cimério em mais uma do estilo: guerreiro solitário mas provido de relutantes nobreza e senso de justiça protege garota contra o mal e acaba se apaixonando por ela.
A frustrante decisão de Nispel em investir nesse enfadonho envolvimento amoroso com a mocinha do filme (Rachel Nichols), é a persistência de alguém que escolheu o emprego errado, visando forçar o personagem a se adequar à lamentável maioria dos lançamentos cinematográficos em cartaz.




Dessa vez, nem mesmo a violência gore do diretor presente em seus trabalhos é utilizada da forma costumeira, afinal, ele tem inacreditáveis 90 milhões de dólares para torrar com um roteiro sem cabimento, e assim ele pode sonhar que é Louis Leterrier e criar franquias com mirabolantes efeitos CG compensando o sono provocado pela conversa fiada de seus atores.
Então, ele deslumbra o espectador com lutas nefastamente patéticas contra inimigos de areia e monstros gigantes, o que deve ter sido o motivo para ele se esquecer de detalhes pouco importantes, sejam a coerência do plano do vilão ou a continuidade nas cenas (impressionante a velocidade com que amanhece durante a luta no barco).
E quanto à tramoia engendrada pelo vilão Khalar Zym, pode ser resumida como: a busca por uma máscara ancestral que não tem poder algum além de se assemelhar a um sorete vivo no rosto de quem a utiliza roubando-lhe a inteligência e capacidade de lutar.
Tendo considerado isso, e também a pobreza visual que Nispel conseguiu com os 90 milhões, ele ainda decide tirar até mesmo a beleza da atriz Rosie McGowan (a filha de Khalar Zym, Marique), para assim evidenciar toda sua ousadia e garantir que da parte dele o longa-metragem vai permanecer sem nada que possa ser aproveitado pelo público.


O ator Jason Momoa declarou em entrevista que teria planos para um roteiro de uma sequência do filme, dessa vez explorando a mitologia do personagem, deixando claro que ele percebeu a importância do papel que interpretou, não só para os fãs, mas também para sua carreira e conta bancária.
Lamentavelmente, o planejamento do diretor Marcus Nispel era outro, e mesmo que o protagonista do filme seja um dos poucos em sintonia com as histórias que as gerações de leitores acompanharam, o rumo mais provável da almejada franquia é a repetição da saga do personagem da Marvel Comics,“O Justiceiro”, na telona, em busca de seu espaço no hoje rentável mercado de cinema de HQs.
O vexatório resultado comercial e presença na lista dos maiores fracassos de 2011 é apenas consequência de uma equivocada produção trash milionária.
Depois disso tudo, vale mencionar que, se surgir a oportunidade de assistir o longa-metragem em 3D, aproveite muito bem o título do filme, pois é a única coisa que vai estar fora da tela durante toda a metragem.
E pensar que a vida na lúgubre Ciméria já deveria ter sido castigo o bastante para Conan.


Quanto vale: Nem meio ingresso.
Conan: O Bárbaro
(Conan: The Barbarian)
Direção: Marcus Nispel
Duração: 113 minutos
Ano de produção: 2011
Gênero: Ação/Aventura/Épico

1 comentários:

Josú Barroso disse...

Olá, Marcel.
Agora tudo ok.
Sucesso...