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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A REINVENÇÃO DO TERROR


Houve um tempo em que o cinema de terror ainda tinha alguma credibilidade.
Em que um novo lançamento do gênero nos cinemas era algo frequentemente divertido, e que convidar uma namorada pra ir assistir não seria pra ver ela rir da tosquice das produções ou sentir nojo do excesso de tripas exibidas de maneira gratuita ao longo do fiapo de enredo.

Obviamente, isso já faz muito tempo.

Se o próprio gênero terror perdeu relevância, o que dizer dos seus sub-derivados?

Com o passar do tempo, filmes de zumbis, monstros, e vampiros, entre outros seres do imaginário de diretores atormentados e com pouco orçamento pra gastar em suas obras tornaram-se algo extremamente ineficaz quando o assunto é provocar medo na platéia, a não ser pelas sofríveis caracterizações dos personagens e estupidez da história.


Mas felizmente, até mesmo isso tem exceções.
Pelo menos nos três tipos de criaturas bizarras exemplificados anteriormente na postagem.
São os seguintes filmes os que eu considero responsáveis por devolver um pouco da dignidade desses célebres subgêneros cinematográficos nos últimos tempos:



Extermínio (28 Days Later) – não que eu desconsidere a qualidade presente no “Madrugada dos Mortos”, mas a verdade é que existe um abismo de diferença entre a abordagem escolhida pelo Zack Snyder, e a sensacional e inusitada crítica social realizada pelo Danny Boyle. “Extermínio” é um filme tão contundente que é até uma injustiça classificá-lo meramente como um filme de terror.





O Hospedeiro (The Host) – ninguém sabe de que modo isso aconteceu, mas o melhor filme de monstros da década foi produzido na Coréia do Sul, e não em Hollywood. O longa-metragem do diretor Bong Joon-ho versa sobre política com uma adequada combinação de um tom irreverente e ainda referências à “influência” norte-americana no Oriente, além de apresentar os estadunidenses como vilões na história, e isso sem falar nos surpreendentes efeitos especiais que criaram um monstro digital realista quando já parecia que isso era impossível no cinema.

Deixa Ela Entrar (Let Den Ratte Komma In) – não tem muito o que dizer sobre esse filme. Em época de “Crepúsculo”, e outros lixos do tipo, é impressionante constatar que ainda exista alguém disposto a fazer um bom filme de vampiros. O movie proveniente da Suécia, “Deixa Ela Entrar” consegue equilibrar momentos de extrema violência com um roteiro denso e chocante. Vale dois ingressos com certeza.          




Sede de Sangue (Thirst) – esse é o primeiro dos filmes da lista das  postagens anteriores que eu consegui ver, e já é sério candidato a melhor filme de 2010. Novamente, o diretor Chan-Wook Park (de Oldboy, 2003) conduz o espectador em uma jornada perversa e imprevisível, desta vez mostrando a sua versão de uma história de vampiros. E considerando que a comparação é inevitável, quem curtiu “Crepúsculo”, evite esse filme pra não chorar.
       
Não ouso afirmar com essa postagem que o gênero terror está sendo revitalizado por esses filmes. Não mesmo.
O que o grande público quer é outro tipo de história, mais amena e descartável.
E esses filmes mencionados acima apresentam uma realidade mais cruel e de certa maneira ofensiva, diferenciando-se de seus “similares” hollywoodianos por não apenas desperdiçar fortunas em efeitos especiais e marketing, mas sim criando um contexto convincente em que são questionadas as ações do ser humano diante de situações extremas, e buscando por vezes nossa responsabilidade no que ocorre na trama.      
O resultado é algo muito mais assustador, apesar de não ser do modo convencional.
Os sustos fáceis são substituídos por um senso de humor negro peculiar, com uma narrativa mais voltada aos aspectos psicológicos, sem abrir mão da ação e de um visual rebuscado quando o enredo necessita.
Só pra não fugir à regra, a maioria desses filmes é dificelmente encontrada na locadora mais perto de você, mas ainda bem que a Internet favorece quando é preciso encontrar esse tipo de produção.
Com certeza vai surpreender quem acha que cinema de terror é um bando de vampiros emo.
Até.
 

4 comentários:

Guilherme Hollweg disse...

Curti pacas meu amigo.
Concordo. O 28 days later realmente é fantástico.
Let The Right One In, eu to devendo assistir ainda, jpá baixei e tudo mais... assim que der, assiso.
Sede de Sangue, to curioso.
Grande postagem.

Anônimo disse...

O Hospedeiro eu assisti, meio que sem querer, quando uma vez passou no Telecine. Fui pego de surpresa pela ótima narrativa e personagens fortes.
O "Extermínio" provou que o Danny Boyle é um dos melhores diretores da atualidade, vide "Cova Rasa".

marci disse...

é, filmes de terror perderam a credibilidade mesmo! :(
...mas olha só que novidade, eu nao assisti nenhum desses filmes (eu deveria ter vergonha por isso) e fiquei querendo ver...vou acreditar que são bons ;p haha

Marcel Ibaldo disse...

Parece difícil de acreditar, mas nesses filme valem a pena investir 2 horas pra assistir.

Depois do Jogos Mortais, filme sem tripas expostas nem é considerado filme de terror, e nem chega ao conhecimento do grande público.