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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CAPITÃO AMÉRICA: O Primeiro Vingador (2011)



Quem imaginaria que chegaria esse momento?
Em que praticamente todos os grandes super-heróis já teriam ido para as telas, até mesmo o Watchmen de Alan Moore, e que estivéssemos às vésperas de um filme dos “Vingadores”?
E isso com muita competência, não tosquices que nem “Geração X” (1996), ou Liga da Justiça” (1997).

Na briga entre as duas maiores editoras de HQs norte-americanas, a Marvel Comics foi a que melhor aprendeu as lições que as seguidas tentativas trouxeram, por meio de fracassos e sucessos, ou de crítica, ou de bilheteria, ou de ambos.
A editora do ícone pop Stan Lee viu a oportunidade e levou grande parte de seu panteão para o live-action, chegando a criar seu próprio estúdio para garantir a integridade e qualidade no que viria a ser produzido, mas já avançando para outro nível, além do interesse em criar uma franquia do herói fulano ou beltrano.
Agora a intenção era outra: um universo Marvel no cinema, interligado e complexo, semelhante ao que já existe nos comics.

O próximo da lista, e peça final no quebra-cabeças que os roteiristas vêm engendrando para o aguardadíssimo filme “Os Vingadores” em 2012 é um dos mais importantes combatentes do crime mascarados da editora: o Capitão América.
Sendo assim, do mesmo modo que “Homem de Ferro 2” (2010), e “Thor” (2011), o longa-metragem do chamado Sentinela da Liberdade teria a exigência de estabelecer sua mitologia agora nos cinemas, angariando assim público para o vindouro filme da equipe, e ao mesmo tempo destruindo qualquer resquício de desconfiança quanto ao cinema de HQs, afinal, a mais megalomaníaca dessas produções está por vir.
Muita responsabilidade, e ela estaria nas mãos de um herói que oscilava sua popularidade principalmente por ser símbolo de uma postura estadunidense associada a contextos de guerra, tendo se tornado uma espécie de Tio Sam durante a Segunda Guerra Mundial.
Para encarar o desafio, um diretor que já conhecia bem o terreno.

Joe Johnston já havia trazido às telas com êxito um personagem de quadrinhos, resultando em um dos referenciais do cinema quadrinhístico pré-retomada, e seu Rocketeer continha ainda vários dos elementos que estariam certamente presentes em “First Avenger”.
Mesmo que na memória recente do público ainda pudesse estar o seu trabalho equivocado e sua incapacidade de manter as rédeas durante o andamento do filme “O Lobisomem” (2010), seguidas declarações ressaltavam que esse acidente de percurso não havia sido cometido sem que seus motivos fossem devidamente avaliados. Talvez Johnston estivesse ciente disso a tal ponto que conseguisse aproximar-se ao menos da competência atingida em Rocketeer.
Similar ao que ocorreu no filme do famoso monstro da Universal, os trailers de “Capitão América” eram impressionantemente elaborados, e novamente a expectativa era de um bom filme, mas a experiência lembrava que era melhor manter cautela.

Em se tratando desse herói da Marvel Comics em particular, suas maiores dificuldades nessa migração para o cinema estavam nas próprias bases do seu próprio surgimento, sendo de imediato transformado em um estandarte do patriotismo norte-americano.
Porém, com o passar do tempo, a figura do personagem foi sendo submetida à necessidade de se adaptar às mudanças históricas e aos interesses de uma nova geração de leitores.
Mas e no cinema?
As adaptações de HQ para as telas vêm optando pelo realismo, ou busca de, e seria arriscado investir em um discurso panfletário, algo que poderia limitar seu público e consequentemente, sua bilheteria.
No entanto, “Capitão América: O Primeiro Vingador” foi desde o primeiro esboço pensado para ser um certeiro blockbuster. Era assim que tinha que ser, especialmente em se tratando desse último degrau antes do filme que o estúdio espera venha a esfacelar de uma vez por todas os limites entre o universo das páginas e a sua releitura nos cinemas.
Em busca desse blockbuster ideal, capaz de equilibrar humor, ação, romance, e ainda assim conseguir sair ileso às investidas da crítica especializada, Joe Johnston poderia realmente ser a escolha mais acertada, afinal, ele já havia realizado isso anteriormente, e era o estilo dele contornar limitações de roteiro com doses de criatividade.

E logo de início, é surpreendente ver a transformação de Chris Evans no personagem Steve Rogers, ainda em sua figura fisicamente fraca e impossível de associar com o lendário super-herói, ao mesmo tempo em que o limite entre o efeito especial e a realidade é imperceptível.
O jovem idealista quer de qualquer maneira fazer parte da luta que ocorre na Europa, mas a sua já mencionada condição física é fator proibitivo.
Nada que um tal soro do supersoldado não possa reverter.
Todo o andamento até o surgimento do herói propriamente dito é um pouco mais arrastado, principalmente por ser parte da dificuldade presente nos temidos filmes de origem. Não há grandes surpresas quanto ao que já se espera, porém, apesar disso, há pequenos detalhes que tornam o desenrolar mais interessante nessa etapa.
Sejam a presença do sidekick Bucky Barnes (Sebastian Stan), do magnata Howard Stark (Dominic Cooper), do aliado Dum Dum Dugan (Neal McDonough), ou a rápida aparição do Tocha Humana original, há sempre o intuito em transpor esses primeiros minutos mantendo lado a lado a fidelidade aos quadrinhos com o que o público-médio aguarda.

Enquanto isso, um obstáculo a ser superado é referente ao ator Chris Evans, geralmente associado a personagens mais humorados, e recentemente intérprete de outro herói da Marvel nos filmes do Quarteto Fantástico. Johnston investe boa parte de sua dedicação a desconstruir o que se conhece do ator, buscando uma atuação mais séria, algo que ele evidenciou ser capaz de fazer em Sunshine – Alerta Solar (2007), mas que não é recorrente em sua carreira.
Aliado a um elenco estelar, o cineasta possui o suporte para que Evans possa aos poucos fazer-nos esquecer de seus papéis em pastelões e mesmo a sua participação na equipe liderada por Reed Richards.
Enquanto isso, o seu arqui-inimigo tem a responsabilidade de ser a encarnação de um mal equivalente a Adolf Hitler, em um roteiro no qual o líder nazista é apenas mencionado. Para Hugo Weaving retornar ao set sob a direção de Johnston, deve representar que o ator percebeu qualidades no trabalho dele que não devem ter ido para a versão final de “O Lobisomem”.
 
O Caveira Vermelha que ele interpreta é um vilão clássico, fiel a suas ideologias e que não pestaneja em simplesmente ordenar a morte de seus inimigos, distante de motivações que não sejam as tradicionais aspirações de dominação mundial com o auxílio da temida organização Hidra, e estranhamente, essa abordagem simplista funciona a contento.
O maniqueísmo da trama lembra facilmente o enredo de Rocketeer, e permite reflexões quanto ao momento histórico no qual se passa a história, e o presente contexto no qual o mundo se encontra.
Interessante perceber que o que faz herói e vilão são a crença absoluta no que seus ideais representam, isso visto por uma plateia que contempla guerra após guerra passível de questionamento quanto às razões pelas quais começaram. Pela ótica do filme, e principalmente de Steve Rogers, tudo é azul ou vermelho, bem ou mal, e tudo o que o governo americano busca é libertar o mundo da tirania.

Ainda que um filme que nem esse exista muito mais para o entretenimento e enriquecimento dos envolvidos, é claro que é impossível não mexer na ferida, e Johnston insiste na imagem do Tio Sam, com a frase “I Want You” lembrando-nos que Rogers foi apenas mais um dos jovens americanos que acreditou cegamente na busca da paz por meio da solução mais fácil pra quem fica atrás de uma mesa enquanto soldados encontram o auge de suas vidas sacrificando-se para virar números nos livros de História.
Muito por isso que o roteiro esforça-se para permanecer na superfície da questão, na maioria das vezes evitando posicionar-se, o que seria perigoso, financeiramente falando, em épocas de criticada investida ao Iraque.
Considerando isso tudo, fica ainda mais condizente a importância à função do Capitão América em prol da propaganda em tempos de guerra, e essa passagem ainda é espertamente utilizado pelo diretor para justificar a atualização do uniforme do herói.

Porém, apesar dos quesitos potencialmente polêmicos, “Capitão América: O Primeiro Vingador” é, enquanto obra fílmica, estruturado de maneira bastante convencional. Estão lá o interesse romântico representado pela Sargento Peggy Carter (Hayley Atwell), bem utilizado, o mentor, função dividida entre o Dr. Abraham Erskine (Stanley Tucci, que é ainda responsável pela frase que define o herói), e o Coronel Chester Phillips (Tommy Lee Jones).
Somado a isso, existe ainda o alívio cômico, não tão eficaz, mas que não chega a prejudicar tanto pelo fato de que o estilo de ação do diretor prima pela competência. Tudo o que a plateia esperaria de um baita Sessão da Tarde, com um exagero de pirotecnia bem orquestrada, e que mantém o ritmo do longa-metragem em desenfreada corrida rumo a um desfecho que vai tornar a contagem regressiva para o épico filme “Os Vingadores” um período interminável.


 Longe de tentar reinventar a roda ou buscar uma arriscada ousadia no nível do que foi visto no “X-Men First Class” (2011) de Mathew Vaughn, Joe Johnston concentrou-se em trazer o resultado esperado, e dessa vez com maior tempo de produção ele conseguiu inserir mais de seu estilo para trazer às telas um Capitão América enfim convincente e pronto para iniciar uma sólida franquia após sua participação no filme mais importante da história da Marvel Comics em todos os tempos, a ser lançado ano que vem.
Essa era a peça que faltava para o que o Marvel Studios há tempos vem planejando, e quem assistir (e ficar até o fim dos créditos finais), vai enfim perceber que agora só resta aguardar.
Então aguardemos.


Quanto vale: Um ingresso.

Capitão América: O Primeiro Vingador
(Captain América: The First Avenger)
Direção: Joe Johnston
Duração: 124 minutos
Ano de produção: 2011
Gênero: Ação / Aventura

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