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segunda-feira, 27 de junho de 2011

X-MEN: Primeira Classe (2011)



Após “X-Men: O Confronto Final” (2006), ninguém sabia exatamente o que estaria por vir no universo mutante nas telas.

O resultado obtido no filme-solo de Wolverine, apesar de lucrativo e garantir uma sequência, ainda não deixava esclarecido o destino dos mutantes no cinema.
Porém, com certeza havia muito a ser explorado, tanto financeiramente quanto em se tratando de ideias.
A solução encontrada pra reverter o impasse das futuras produções foi algo bastante comum nos comics de heróis: retroceder na cronologia, nesse caso específico ao mesmo tempo aproveitando a aceitação do público com relação aos personagens, e futuramente renovar o elenco e buscar outras alternativas para tramas e escolhas as quais possam ter sido consideradas inadequadas em algum dos outros filmes.
Claro que por enquanto isso tudo é especulação.
Ninguém sabe onde a franquia mutante vai chegar, se bem que “X-Men: Primeira Classe” tem absoluta importância nessa definição.


 E esse é um daqueles momentos em que o estúdio não pode errar, afinal, desde a escolha do diretor até a divulgação e os prazos de lançamento, simplesmente tudo deve favorecer um índice alto de sucesso nas bilheterias, e se possível, agradar a opinião da crítica.
Quanto ao diretor, uma escolha adequada a meu ver, mas que não eliminaria todo o risco.
Matthew Vaughn parece curtir mesmo esse universo adaptado de outras mídias, e volta e meia exercita sua capacidade de traduzir para o live-action históriashistórias com isso em comum.
Não que eu considere que tenha obtido êxito em tudo que tentou nesses projetos, mas há várias qualidades em Stardust (2007), apesar de que não tantas em Kick-Ass (2010).

De qualquer forma, a experiência ao lidar com esses dois enredos e linguagens tão diversas certamente conferiu-lhe perspectivas de abordagem que a maioria dos cineastas que se aventuram no cinema de quadrinhos nem ousaria imaginar.
Não haveria a garantia de um resultado positivo, no fim das contas, porém, realmente seria um filme interessante, no mínimo.
Então, finalmente surgem as primeiras informações na Internet, e a impressão inicial é... decepcionante.
Nada havia preparado os fãs para as fotos disponibilizadas fazendo parte do marketing desastroso que antecipava o que poderia ser um equívoco cinematográfico a rivalizar com “X-Men Origens: Wolverine” (2009).

O início do filme, ao menos, é um acerto evidente, ao reaproveitar a melhor cena de “X-Men: O Filme” (2000).
A sequência em que Erik Lensherr descobre seus poderes, tendo como catalisadores do processo os soldados nazistas que o separam de sua família, permite a Vaughn mostrar desdobramentos desse episódio, já servindo para estabelecer aos poucos os alicerces de seu novo trabalho.
A construção psicológica de Magneto (Michael Fassbender), e o vilão Sebastian Shaw (Kevin Bacon) serão os extremos que forçarão Charles Xavier (James McAvoy) a desafiar sua postura quanto à “questão mutante”.

Sem exageros ou excessos de estilização, logo a lembrança das fotos de divulgação é deixada de lado pelo simples fato de que, além de tudo estar plenamente bem feito e funcional no longa-metragem, a trama vai ficando cada vez mais envolvente.
Ambientada em 1962, a gênese da amizade entre Charles Xavier e Erik Lensherr é sinônimo de respeito aos quadrinhos que lhe originaram, além de um roteiro que investe na coesão e nos personagens, em detrimento da obsessão por efeitos CG que virou moda entre os diretores de pretensos blockbusters.
Matthew Vaughn mais uma vez demonstra seu interesse em ousar por novos rumos e aposta em uma estética de época, retrô, enquanto se aproxima dos filmes de espionagem, dessa vez confrontando a equipe ainda em formação dos X-Men, com o Clube do Inferno e a ameaça que eles fazem questão de tornar realidade na forma de uma cada vez mais próxima 3ª Guerra Mundial.


E ainda falando sobre a parte visual, “Firts Class” é mais uma vez Matthew Vaughn em sua insistente experimentação quanto ao que é adaptar quadrinhos para o cinema.

Equilibrar a estética proveniente do mundo dos super-heróis parecia constantemente o maior problema para os cineastas, e mesmo que Homem-Aranha tenha conseguido manter os uniformes coloridos sem prejudicar sua apreciação pelo público desacostumado com essas características, o jeito mais prático era o que o próprio Bryan Singer consolidou em “X-Men: O Filme”, e que o Batman Begins de Christopher Nolan recebeu de braços abertos: o visual sombrio em um ambiente de seriedade, que certamente funciona muito bem.
Mesmo assim, a tentativa de Vaughn, consequência de seus trabalhos anteriores, tinha um motivo para ser feita. Jamais outro filme de super-heróis conseguiu manter esse tom de seriedade com tantos elementos de suas histórias nos comics. Estão então em cena os a princípio tão questionáveis uniformes coloridos, que de maneira alguma direcionam o enredo para a temida abordagem caricatural, e até mesmo as divisões de tela lembrando o efeito presente na leitura das páginas, uma das inovações do Hulk de Ang Lee, retornam na medida certa, sem chamar mais atenção do que a história.


O trailer do filme já evidenciava que a trama envolveria também a crise dos mísseis em Cuba, porém, o que não era possível imaginar é a perfeição com que o roteiro escrito por Bryan Singer, Zack Stentz, Jane Goldman, Ashley Miller, além do próprio Matthew Vaughn, provoca a interação entre a ficção das histórias em quadrinhos com o período histórico, cheio da ousadia que faltou ao filme dirigido por Brett Ratner, moldando assim nos bastidores da Guerra Fria o conflito que manteria o Professor X e Magneto em lados opostos.

E por falar nisso, os atores que carregam a responsabilidade de substituir Patrick Stewart e Ian McKellen desempenham sua função com louvor.
O Charles Xavier interpretado por James McAvoy pode até parecer meio inesperado para quem apenas conhece o líder telepata em sua tranquilidade e discurso de tolerância já à frente da equipe dos X-Men. Mais interessado em bancar o conquistador, ele ainda está longe do mentor da super-equipe da Marvel Comics, o que é apenas parte da trajetória fantástica a qual o filme proporciona.
Os sacrifícios que serão exigidos vão apenas ser encarados em sua real magnitude após o que esse início de tudo irá reservar.
Apesar de que o Magneto de Michael Fassbender é nada menos do que extraordinário em sua busca de vingança contra aqueles que mataram sua família e destruíram qualquer resquício de confiança na humanidade que ele trazia até então.
Com crueza e completa compreensão de seu papel, ele comprova porque foi escolhido por Quentin Tarantino para estrelar a sequência mais tensa de Bastardos Inglórios (2009).

E isso sem mencionar a presença de Sebastian Shaw, o Rei Negro do Clube do Inferno, que na interpretação de Kevin Bacon torna-se de imediato um dos melhores vilões de quadrinhos a migrar para as telas, um fato ainda mais notório por se tratar de um filme no qual pensava-se que ele não fosse mais do que um coadjuvante em terceiro plano, diante da representatividade e importância do processo de transformação pelo qual passariam Magneto e Charles Xavier.

Enquanto isso, os demais, dos quais não se esperava que conseguissem mais do que preencher as cenas de ação, conseguem bem mais do que isso.
Mesmo a grande quantidade de heróis e vilões é conduzida de forma a aumentar o aspecto épico de “X-Men: First Class”.
E não apenas os já conhecidos Fera (Nicholas Hoult), Emma Frost (January Jones), e Mística (Jennifer Lawrence). Na verdade, apenas a mutante Angel (Zoë Kravitz) permanece na condição de simples aumento de número no elenco, pois os demais possuem participação e caracterizações fidedignas e convincentes.


E quanto à ação?
Claro que faz parte do filme, porém não segue a tendência, pois invés de ficar dependente exclusivamente de efeitos especiais gerados em computador, Vaughn preferiu manter tudo mais físico, mais real. 
 
Aguarde então por embates estarrecedores, utilizados da maneira mais inteligente possível, ou seja: complementando o roteiro, e não o contrário.
E com isso ele cria os momentos mais empolgantes que qualquer aficcionado por filmes de ação poderia aguardar, envolto pela crescente e asfixiante atmosfera de imprevisibilidade em que cada detalhe vai sendo minuciosamente amarrado, fundindo a realidade histórica e a mitologia das HQs de maneira somente vista anteriormente em “Watchmen: O Filme”.
Óbvio que a estratégia poderia dar errado, pois ficaria com os diálogos a necessidade de prender a atenção da plateia.
E esses diálogos (por vezes proferidos pelos próprios atores em outros idiomas, semelhante ao que ocorre em Bastardos Inglórios) não apenas revisitam os questionamentos fundamentais dos filmes realizados anteriormente com os heróis, mas também direcionam o viés crítico para outros caminhos não menos contundentes e extraordinariamente repletos de uma visão cuja intensidade oportuniza ao espectador ir além de apenas acompanhar os primeiros passos nessa trama em que heroísmo e vilania dependem muito mais do grau de aceitação ou indignação quanto a um quadro social discriminatório, do que de interesses megalomaníacos de mero enriquecimento ou conquista do mundo.


 Quando cada vez mais parecia que X-Men 2 (2003) permaneceria intocável na posição de melhor filme dos mutantes da Marvel, eis que “X-Men: Primeira Classe” é lançado e torna a missão de criar um grande longa-metragem de quadrinhos algo ainda mais desafiador.
Espetacular durante praticamente toda sua metragem, o reinício apresentado ao público é algo que deve demorar a ser superado.
O melhor trabalho de Matthew Vaughn, o melhor longa-metragem da franquia mutante até agora, uma das melhores adaptações de quadrinhos para o cinema, e um dos melhores filmes (senão o melhor) de heróis em live-action já realizado.
Houve um tempo em que, nos quadrinhos os X-Men eram a publicação mais interessante e audaciosa na cultura pop em seu veículo midiático.
Hoje, no cinema, eles voltaram a ser.


Quanto vale:


E confiram a VIDEOCRÍTICA do filme CLICANDO AQUI.

X-Men: Primeira Classe
(X-Men: First Class)
Direção: Matthew Vaughn
Duração: 132 minutos
Ano de produção: 2011
Gênero: Aventura/Ação


segunda-feira, 20 de junho de 2011

X-MEN ORIGENS: WOLVERINE (2009)


Ninguém acreditava mesmo que a franchise X-Men havia chegado ao seu final.
Nem importava se os fãs tinham recebido de maneira não tão positiva o terceiro filme, e que mesmo com as pistas deixadas em “X-Men: O Confronto Final” não existisse uma perspectiva de continuação da trama de onde as coisas tinham terminado temporariamente.
De um modo ou de outro alguém pensaria em um jeito de arrecadar mais dinheiro com alguma nova produção envolvendo os personagens.
A primeira alternativa a surgir era das mais oportunistas e funcionais possíveis.
Semelhante ao que ocorre nos quadrinhos, quando um personagem se destaca em um determinado grupo, é chegada a hora de ele receber sua publicação própria, ou no caso, seu próprio filme.
Candidatos mais indicados?
Magneto, Mística, e Wolverine.
Dentre eles, o último mencionado acima foi o escolhido e a expectativa foi sendo elevada à medida que eram divulgadas fotos, descrição da trama, escalação de personagens, trailers, etc...
Nem mesmo a disponibilização de uma cópia do filme antes do tempo, desprovida da versão final de efeitos especiais, impossibilitou (apesar de que atrapalhou bastante) o sucesso comercial.

Ao astro e agora produtor Hugh Jackman, definir o diretor era escolher a quem entregar o personagem que o transformou em um dos mais importantes atores da atualidade.
Para ele era imprescindível que fosse não apenas um filme derivado, mas uma nova franquia nascendo desse universo mutante.
Maior ainda era a responsabilidade do diretor Gavin Hood, que após vencer o Oscar pelo ótimo “Infância Roubada” (2005) se arriscaria nesse teste diante de um personagem icônico em um investimento multimilionário, tentando agradar fãs, produtores, críticos, e todos aqueles que já viam com desconfiança a cinessérie após o que foi visto no último da trilogia X-Men.
O talento do cineasta era comprovado, e com a certeza de muita ação após o que foi conferido nos trailers, restava apenas deixar que ele caprichasse também nos personagens, algo que ele parecia saber muito bem, com base no que foi feito em seu oscarizado longa-metragem.

A aguardada transposição da origem de Wolverine é então mostrada desde uma importante sequência em sua infância, que rápida e competentemente transita entre outras épocas da vida do mutante.
O trabalho de Gavin Hood é tão impecável quanto empolgante, e todo o decorrer dessas etapas da vida do personagem vão sendo mostradas entre guerras consecutivas e de maneira ininterrupta, em um retrato breve e impressionante da participação de Logan nesses conflitos, sempre acompanhado de seu então único amigo, e futuro arquiinimigo.
Sem dúvida que é impossível imaginar outra pessoa interpretando Wolverine, e o entusiasmo do ator é notório, porém desde que surge na tela, o Dentes-de-Sabre interpretado por Liev Schrieber rouba a cena, sendo a representação plena da selvageria que lhe é exigida em seu papel, o que certamente contrasta com a atuação inexpressiva e equivocada de Tyler Mane em “X-Men: O Filme”.

E enquanto o carcaju interpretado por Jackman segue de certo modo a composição esperada de um protagonista rebelde, um tanto moldado para seguir um padrão, Liev Schrieber ignora qualquer convenção e é simplesmente visceral o máximo que consegue.
Além dos dois, logo no início o diretor apresenta outros coadjuvantes que deveriam ter bastante relevância.
É fato que, dentre eles apenas o Deadpool interpretado por Ryan Reynolds consegue se sobressair um pouco, pois dos demais resta a participação na função de capangas. Mas nada que estrague o começo da metragem.
A ação do Team X é na verdade um exemplo bem interessante do que é a política externa norte-americana, atirando primeiro e perguntando depois ou nunca.
Eram esses os planos de Gavin Hood caminhando de maneira muito eficiente.
No entanto, não era apenas ele que tomava as decisões no filme.

O Estúdio interferindo na produção foi algo bastante comentado antes do lançamento nos cinemas, e muito era questionado a respeito do quanto isso ia influenciar no fim das contas.
A resposta chegou mais ou menos do meio para o final do longa-metragem.
De repente, sem motivo aparente, parecia que haviam mudado o diretor responsável, e todas as boas ideias da parte inicial deram lugar a toda alternativa estúpida em que se podia pensar.
De mudanças ridículas na mitologia do protagonista à participação de mutantes que nada tinham a ver com a história nas HQs, passando pelo péssimo aproveitamento de coadjuvantes importantes, tais quais Gambit (Taylor Kitsch), que infelizmente, apesar da boa caracterização realizada, aparece quando o filme já está completamente fora dos eixos e rumando para um desfecho fiasquento e patético.


 Nem mesmo a aguardada pancadaria, tão interessante no vídeo de divulgação, ou mesmo o começo do filme, salvaram coisa nenhuma diante do que viria pela frente.

Até porque, personagem após personagem o roteiro vai acabando com qualquer chance de que os primeiros minutos não tenham sido uma ilusão a ser estilhaçada com diálogos sofríveis, enredo idiota, soluções estapafúrdias para o andamento da trama, e a desfiguração de qualquer esperança de que as quase duas horas acabem sendo algo diferente de um ingresso pessimamente investido.
Aparentemente, nada foi aprendido com tudo que foi feito desde a retomada do cinema de HQs, quando foram experimentadas as mais diferentes formas de adaptação da nona arte para a sétima arte, e que foi constatado o óbvio: ninguém quer ver um filme em que o público tem que adivinhar quem é quem em relação às histórias em quadrinhos devido à vontade de inovar deixando os heróis, vilões, etc... irreconhecíveis.
A prova maior disso é o Deadpool criado para o final decepcionante, mantendo apenas o nome de seu equivalente nas páginas da Marvel Comics, em uma das versões mais bizarras e hediondamente divergentes que qualquer cineasta poderia imaginar.


Absolutamente incoerente e desprovida de qualquer coisa que desperte o interesse, a segunda metade do filme deixa evidente o desespero em remendar uma produção que falhou ao ignorar o objetivo do diretor que deveria liderá-la em direção a um emblemático exemplar do bom cinema de adaptado dos quadrinhos.
“X-Men Origens: Wolverine” é um espetáculo de pretensão que nem a dedicação de Hugh Jackman ou a vontade de Gavin Hood puderam evitar fazer parte da Lista dos Piores de 2009.
Quem dera terminasse uma hora antes, mas não sendo assim, quem dera nunca tivesse sido feito.


Quanto vale: Nem Meio ingresso.

X-Men Origens: Wolverine
(X-Men Origins: Wolverine)
Direção: Gavin Hood
Duração: 107 minutos
Ano de produção: 2009
Gênero: Ação

quarta-feira, 15 de junho de 2011

X-MEN: O Confronto Final (2006)

E assim, após a época de desconfiança quanto aos resultados, o período de transição era superado, e tinha início o momento de consolidação das adaptações de quadrinhos para o cinema na forma de um subgênero rentável e claramente cheio de potencial para grandes filmes.
O tal rótulo de “histórias pra crianças” ia se perdendo no fato de que considerável parte do que o público acompanhava nas telonas era “based on the comicbook ...”.
Os três principais nomes dessa retomada haviam se tornado franquias, e os produtores exigiam continuações, e sugeriam derivados para aumentar esse universo agora em live-action, e se possível somar alguns milhões de dólares a mais.

O mundo dos mutantes da Escola do Professor Xavier (Patrick Stewart) já havia deixado de ser algo "praticamente impossível" de  ser representado no cinema.
Bryan Singer constatou e pôs em prática o que era invisível até então, e tornou as histórias fantásticas das HQs em algo aceitável em “um futuro não muito distante”, e todo exagero das aventuras dos heróis era então possível. Tudo construído com roteiro e ideias, sem subestimar o espectador e sem cair nas soluções fáceis dos quadrinhos.


Mas Bryan Singer já não estava no set de filmagem quando começaram as filmagens do terceiro filme dos X-Men.
Partindo para vôos mais distantes, ele assumira a responsabilidade de trazer de volta o Superman, deixando uma lacuna que a Fox penou para resolver.

Seu substituto, o diretor de altos e baixos Brett Ratner, já chegava com a pressão de proporcionar um arrasa-quarteirão de irrepreensível capacidade de aliar ação impecável, temática abordada de maneira contundente e visionária, e atender o que pediam os fãs (a essa altura já na condição de milhões de produtores executivos do então vindouro longa-metragem).
Dentre seus maiores problemas estava o pior de todos: a pista deixada no episódio anterior da cinessérie, evidenciando que a Saga da Fênix deveria estar à espreita para breve estrear nas salas de cinema.
Além disso, a ausência de parte da equipe, que acompanhou Bryan Singer em sua tentativa com o filme do Homem de Aço, apenas complicava o já polêmico andar da carruagem.
E diante disso, para evitar errar feio, Ratner optou pela segurança ao invés da criação.

X-Men: O Confronto Final” faz exatamente o que se espera de um filme de ação.
A alternativa do diretor permanece no que fãs e produtores solicitaram, quase como se ele dissesse: “Isso foi o que vocês pediram. Não me responsabilizo”.
Sendo assim, estão lá a Saga da Fênix, uma nova investida na questão do preconceito aos mutantes, dessa vez catalisada por causa da descoberta de uma “cura” para a mutação, além de pencas de personagens em um longa-metragem inexplicavelmente de apenas 1h e 44min.
O comprometimento de Ratner é visivelmente muito mais no desenvolvimento dos efeitos e combates (muito bem filmados, é verdade), do que nas características exploradas por seu antecessor na função de diretor.
Foram a sequência da Sala de Perigo, as lutas de Wolverine (Hugh Jackman) contra Fanático (Vinnie Jones), Tempestade (Halle Berry) contra Calixto (Dania Ramirez), Homem-de-Gelo (Shawn Ashmore) contra Pyro (Aaron Stanford), e de todos os X-Men contra o exército mutante reunido por Magneto (Ian McKellen, sempre um destaque) que tomaram a maior parte do tempo do cineasta.


 É divertido, isso é inegável, porém permanece sempre superficial demais, sem nunca nem sequer ameaçar chegar perto do que lhe era exigido em um capítulo final de tão importante trilogia cinematográfica.

E com isso eu não estou ignorando os acertos de Brett Ratner, que soube criar um prólogo instigante, e além da pirotecnia caprichada, soube caracterizar bem alguns personagens, com destaque para o Fera interpretado por Kelsey Grammer com a diplomacia e competência devida (de certo modo substituindo o Noturno de Alan Cumming, que lamentavelmente foi a grande perda do segundo filme para esse terceiro).
Ainda assim, é inimaginável o que Ratner pensou ao escalar os personagens Anjo (Ben Foster), Psylocke (Mei Melançon), e alguns outros coadjuvantes simplesmente para tornar a metragem ainda mais reduzida com relação ao excesso de heróis e vilões que coexistiam em poucos instantes em cena para assim dar alguma chance de que uma das mais importantes histórias da equipe mutante fosse desenvolvida de maneira mais ou menos correta. E isso que ele equivocadamente limitou a participação de Ciclope (James Marsden) ainda mais do que Bryan Singer.
Nem assim adiantou.


O tom de fantasia acaba sendo a escapatória do diretor, que afasta as coisas do tom de sério de ficção científica, devido à necessidade de conseguir resumir o roteiro o máximo possível, fazendo com que o clímax da adaptação seja um redemoinho de gente que vai morrendo sem ter feito coisa nenhuma na trama, enquanto clichês são costurados pra que pareça que Ratner sabia exatamente o que estava fazendo.


 Sem dúvida, qualquer um que assistiu “X-Men 2” esperava um desfecho à altura da franquia cinematográfica que modificou o modo com que os cineastas encarariam o ofício de adaptar histórias em quadrinhos para a película.
O que pôde ser conferido em “X-Men: O Confronto Final” foi o que poderia ter sido o primeiro filme da série, com ação e tentativas em certos pontos bem-sucedidas, e outros tantos aspectos pecando pela falta de uma compreensão clara do que deveria ser mantido, e o que teria que ser adaptado para não ter que ser aceito somente por ser “uma daquelas historinhas dos gibis”.
O saldo do trabalho de Brett Ratner acabou sendo um razoável filme, que apesar de bom entretenimento, se perde na inconsistência do trabalho de seu realizador, que preferiu dirigir de maneira convencional e simples demais o que deveria ser um dos mais importantes filmes de quadrinhos já realizados.

Quanto vale: Meio ingresso, e já é bastante.

X-Men: O Confronto Final
(X-Men: The Last Stand)
Direção: Brett Ratner
Duração: 104 minutos
Ano de produção: 2006
Gênero: Ação

segunda-feira, 13 de junho de 2011

X-MEN 2 (2003)

No começo do século XX os quadrinhos viviam um momento de “retentativa” no cinema.
O princípio promissor poderia estar ameaçado caso as próximas produções não fossem capazes de repetir o êxito de Blade, X-Men, e Homem-Aranha, nas telonas.
À medida em que o investimento aumentava, surgiam novas possibilidades de trazer outros personagens às telas com maior fidedignidade ao material disponível nas páginas das HQs.
E sendo sempre um considerável risco de alguns milhões de dólares, um modo de aumentar as probabilidades é retomar algo que já conquistou seu espaço frente ao público.
Mas pra que isso ocorra devidamente, Hollywood definiu seus macetes que precisam funcionar em harmonia pra servir ao lucro e prosseguimento da franquia.

Manter a equipe e elenco do filme original ajudam, facilitando a tarefa de “aumentar a escala”.
Afinal, um segundo filme dos mutantes da Marvel Comics deveria ter mais ação, mais personagens, mais tensão, etc.
É claro que Bryan Singer sabia disso muito bem.
E era com isso que o estúdio contava, pois os famosos heróis tinham potencial para ser talvez a maior franquia quadrinhística já criada.
E a continuação já começou com uma cena melhor do que todas as sequências de ação do primeiro  filme.

O novo personagem apresentado em live-action, Noturno (Alan Cumming), teve o privilégio de protagonizar um dos momentos mais impressionantes da franchise, já indicando os rumos que o enredo trilharia, em uma abordagem que forçaria o choque entre o conflito mutante e a posição a ser assumida pelo governo.
Desempenhando o papel de representante e executor dessa ideia com relação aos mutantes estava o Coronel William Stryker (Brian Cox), sendo responsável por uma ofensiva tão eficaz contra os alunos do Professor Xavier (Patrick Stewart) e os demais homo superior, que leva a uma inesperada aliança entre os X-Men e a Irmandade de Mutantes de Magneto (Ian McKellen).

Peças dispostas no tabuleiro, caberia a Bryan Singer fazer bom uso delas, cumprindo as tais regras exigidas para sequels, aumentando a escala do embate entre as visões de coexistência e sobrevivência do mais forte.
Com o sucesso do primeiro longa-metragem, o estúdio considerou válido destinar um maior orçamento para a produção, e o diretor direcionou tais recursos para trazer cenas mais espetaculares do que as de seu trabalho anterior, algo que com certeza agradou aqueles que aguardavam pirotecnia e espancação no nível das HQs.
Não apenas a participação de Noturno, mas também os efeitos especiais dos demais combates, foram todos filmados com primor técnico acima do esperado, algo que apenas demonstrou o comprometimento de seu realizador.

Dos embates, vale mencionar ainda as lutas entre Wolverine (Hugh Jackman) e Lady Letal (Kelly Hu), Ciclope (James Marsden) e Jean Grey (Famke Jansen), e a perseguição de caças à aeronave Pássaro Negro, além, é claro, de toda a sequência da invasão da mansão.
Do elenco original, praticamente sem mudanças, foi possível conferir um maior aprofundamento na representação de seus personagens, sempre com o estilo de interpretação realista exigido pelo cineasta, e que mantém o universo fictício com ares de distorção do ambiente de nossa realidade. Sombrio e envolvente em sua forma de expressar a característica crítica social evidente nos roteiros das publicações da equipe mutante.

Esse viés crítico, aliás, era certamente um aspecto que serviria de diferencial, e sua ausência provavelmente teria um efeito “banalizador” no resultado final. Mas mantê-lo sem consistência também poderia ser prejudicial ao filme.
Porém, na visão apresentada por Bryan Singer esse questionamento intrínseco teria ainda mais desdobramentos do que um diretor convencional consideraria funcional tratar.
São três principais visões antagônicas presentes na trama: a paz almejada por Charles Xavier; a supremacia mutante por meio do conflito, sonhada por Magneto; e o holocausto mutante servindo à manutenção da hegemonia humana, tendo em William Stryker seu maior defensor.
A discussão e debate permanecem mais fortes no decorrer do roteiro, em um raro caso de harmonia entre o conteúdo reflexivo e a ação propriamente dita. E com isso não apenas torna-se um daqueles filmes que ao fim da sessão deixa muito a ser comentado pelo espectador, porém, também permite o desdobramento de muito do que havia sido apenas iniciado no longa-metragem de 2000.

Do passado de Wolverine à grandiosa saga da Fênix, Singer soube traduzir para o cinema os elementos fundamentais da mitologia mutante nas páginas, equilibrando o espaço que quase todo personagem necessitaria em cena.
E eu digo “quase” todo, pois novamente ele opta por manter o líder Ciclope em segundo plano, em prol da presença de Logan na função de protagonista, algo equivocado para qualquer leitor das histórias da equipe na Marvel.
Ainda assim, os demais, em sua grande maioria, mantêm o nível de caracterização e interpretação competente, e as três principais aquisições (Noturno; William Stryker, e Lady Letal) favorecem o entretenimento, somando-se às ainda atuações destacadas de Hugh Jackman, Ian McKellen, Patrick Stewart, e Rebbeca Romjim-Stamos (Mística).


Com o reconhecimento de público e crítica, o cinema de Bryan Singer havia encontrado uma perfeita sincronia com o universo mutante, trazendo uma forma nova de encarar os mundos fantásticos oriundos das HQs.
Sem fantasias extravagantes, combates sem motivo, ou atuações cartunescas.
A seriedade com que o diretor encarou sua tarefa teve repercussões no que viria a ser produzido a seguir em se tratando de adaptações de quadrinhos, construindo as bases para o novo subgênero cinematográfico que surgia naquela época, e estabelecendo um padrão que estaria presente em futuros sucessos que vão de Batman Begins a Homem de Ferro, os quais devem muito ao trabalho de Bryan Singer.


Quanto vale: Um ingresso e meio.

X-Men 2
(X2: X-Men United)
Direção: Bryan Singer
Duração:130 minutos
Ano de produção: 2003
Gênero: Ação/ Ficção Científica

terça-feira, 7 de junho de 2011

X-MEN: O Filme (2000)

Na época em que Bryan Singer decidiu dirigir o primeiro filme dos mutantes criados por Stan Lee, falar em filmes de quadrinhos ainda era algo misterioso e papo estritamente de nerd.
Claro que Superman: O filme, Batman: O Filme, Conan: O Bárbaro, e alguns outros haviam trilhado uma trajetória de sucesso que os tornou marcantes e referência no assunto, mas a memória efêmera do público ainda precisava ter novas produções lançadas periodicamente pra que isso fosse completamente estabelecido.
A tarefa de Bryan Singer era difícil, e todos os envolvidos no filme sabiam disso muito bem.

Diferente da época em que Chris Claremont criou as melhores sagas da equipe de mutantes, em algumas das melhores histórias de heróis já realizadas, hoje em dia os títulos em publicação viviam altos e baixos, com muito investimento em pancadaria, e sutis menções às ideias de crítica a preconceitos e discriminação evidentes no âmbito dos personagens.
E, é claro, mesmo que Blade: O Caçador de Vampiros, houvesse conseguido superar os empecilhos que o rodeavam para se tornar um filme competente no que era proposto, isso em nada diminuía a pressão de crítica e público quanto ao que o diretor ia filmar.
E nessas horas pouco importa se o cara já trabalhou com filmes de equipes (Os Suspeitos, 1995), ou com temas polêmicos (O Aprendiz, 1998).
Muitos queriam ver os espalhafatosos uniformes coloridos, outros sentiam repulsa a essa possibilidade. E isso era muito devido à expectativa, afinal, há tempos havia esperança e receio quanto a esse filme.

Singer tinha que se manter alheio a tudo isso.
Ver os primeiros minutos do filme foi constatar algo inesperado pra mim na época.
Imaginei um enfoque na ação que tantos pediam no roteiro, mas o passado de Magneto era uma dose forte de realidade e discurso contundente, na contramão do que vinha ocorrendo nos quadrinhos.
Uma surpresa agradável.
Aos poucos, enquanto os protagonistas e vilões iam surgindo, as impressões divergiam.
Havia os que surpreendiam positivamente (Charles Xavier, Magneto, Mística,...) e outros nem tanto (Vampira, Dentes-de-Sabre,...).

Nas publicações da Casa das Ideias, os heróis costumeiramente eram uns “caras”, pessoas comuns em situações extremas (ou poderes idem), então, investimento nesse ponto era crucial.
As questionadas vestimentas pretas, contrastando com as infinitas cores de uniformes nas HQs eram um elemento essencial que auxiliava no tom sério pretendido por Singer, ainda que muitos não gostem até hoje.
Pouco importa.

O diretor havia enxergado que transportar os X-Men para fora das páginas exigia encontrar o seu equivalente no mundo real, ou seja, a ficção científica.
Tendo feito isso, ainda restava equilibrar a ação e efeitos especiais, com a crítica social que para ele era primordial.
E semelhante ao que ocorre em “Os Suspeitos”, o segredo está no roteiro.
Sutil mesmo na pirotecnia, ele desempenha sua travessia por esse ainda arriscado segmento cinematográfico de maneira cautelosa, o que o limita e o força a decisões não tão interessantes, às vezes.
Era parte do que era previsto desde o início, e o primeiro passo era fundamental para que a proposta fosse vista de maneira viável em uma próxima vez.

O elenco principal, por sua vez, vai de atuações meramente adequadas a outras de resultado surpreendente.
A experiência de Patrick Stewart e Ian McKellen proporciona um panorama que é a tradução exata do embate entre as visões dicotômicas de coexistência pacífica defendida por Charles Xavier e a guerra iminente ansiada por Magneto.
É fato que o protagonista ser Wolverine faz dele menos bestial do que é de costume nos quadrinhos e tenta moldá-lo na função de integrante que insiste em quebrar regras e não trabalhar em equipe, algo que obscurece a presença dos demais em cena, e na verdade não é tão interessante quanto os roteiristas almejavam. 
No entanto, é a escolha acidental de Hugh Jackman que faz dele eficaz enquanto personagem principal.

Naqueles tempos, nem Bryan Singer imaginava ser aquele o surgimento de um novo astro do cinema, porém Hugh Jackman soube aproveitar a oportunidade e dedicou-se a tornar sua atuação icônica, algo que foi comprovado ao longo do prosseguimento da cinessérie, e no seu primeiro derivado cinematográfico.


O caminho escolhido para uma produção que já nascia blockbuster pode não ter sido o óbvio e garantido, afinal, ainda não havia sido descoberto que apenas encher as cenas com raios e explosões, e investir fortunas em marketing poderia suprir a ausência de qualquer ideia e garantir faturamentos exorbitantes.
Foi do jeito complicado que Singer teimou em fazer as coisas do seu jeito e tomou posse do reconhecimento merecido pelo seu trabalho.
Desse modo, ele fez parte do início de uma franquia de possibilidades inexploradas, e que influenciou muitos outros que se arriscariam para transformar os universos quadrinhísticos em filmes de carne e osso.
Ainda bem.

Quanto vale: Meio ingresso com louvor.

X-Men: O Filme
(X-Men: The Movie)
Direção: Bryan Singer
Duração: 104 minutos
Ano de produção: 2000
Gênero: Ficção científica/Ação

quinta-feira, 2 de junho de 2011

KEEP DRAWING - Rocketeer / DarthVader


Aê, pessoal.
Peço desculpas, mas a postagem prevista pra essa semana teve que ser adiada devido a uma notícia inesperada, que pode mudar os rumos profissionais deste que vos digita.

De qualquer modo, só pra não passar a semana sem nada, compartilho uns esboços feitos apenas pra praticar.
O primeiro é devido a um filme que eu reassisti recentemente, e que deve ter sua crítica aqui no blog em breve (se tudo correr como o previsto eu finalizo o desenho um dia).
E o segundo eu fiz hoje, durante uma oficina do Quadrinhos S.A., direto com caneta Bic, mesmo.
Não é grande coisa, mas em breve o blog volta às atividades normais.
Novamente peço desculpas.
Até semana que vem.