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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

NOTÍCIAS DO FRONT - Oscar 2011, os Indicados





A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood já definiu e divulgou a lista de indicados para o Oscar 2011.
Pro pessoal que acompanha o blog fica abaixo a lista com os concorrentes.
Os favoritos são “O Discurso do Rei” (com 12 indicações), e “A Rede Social” (grande vencedor no Globo de Ouro).

E confiram a Sessão a respeito de cinema feita por mim a pedido do Blog de tecnologia do Jean Busnello, onde serão feitas as análises das chances dos indicados a melhor filme.
É isso aí.
Façam suas apostas.

 
Melhor filme
- Cisne Negro
- O Vencedor
- A Origem
- O Discurso do Rei
- A Rede Social
- Minhas Mães e meu Pai
- Toy Story 3
- 127 Horas
- Bravura Indômita
- Inverno da Alma

Melhor diretor
- Darren Aronovsky - Cisne Negro
- David Fincher - A Rede Social
- Tom Hooper - O Discurso do Rei
- David O. Russell - O Vencedor
- Joel e Ethan Coen - Bravura Indômita

Melhor ator
 
- Jesse Eisenberg - A Rede Social
- Colin Firth - O Discurso do Rei
- James Franco - 127 Horas
- Jeff Bridges - Bravura Indômita
- Javier Bardem - Biutiful

Melhor atriz
- Nicole Kidman - Reencontrando a Felicidade
- Jennifer Lawrence - Inverno da Alma
- Natalie Portman - Cisne Negro
- Michelle Williams - Blue Valentine
- Annette Bening - Minhas Mães e meu Pai

Melhor ator coadjuvante
- Christian Bale - O Vencedor
- Jeremy Renner - Atração Perigosa
- Geoffrey Rush - O Discurso do Rei
- John Hawkes - Inverno da Alma
- Mark Ruffalo - Minhas Mães e meu Pai

Melhor atriz coadjuvante
- Amy Adams - O Vencedor
- Helena Bonham Carter - O Discurso do Rei
- Jacki Weaver - Animal Kingdom
- Melissa Leo - O Vencedor
- Hailee Steinfeld - Bravura Indômita

Melhor roteiro original
- Minhas Mães e meu Pai
- A Origem
- O Discurso do Rei
- O Vencedor
- Another Year

Melhor roteiro adaptado
- A Rede Social
- 127 Horas
- Toy Story 3
- Bravura Indômita
- Inverno da Alma

Melhor longa animado
- Como Treinar o Seu Dragão
- O Mágico
- Toy Story 3

Melhor filme em língua estrangeira
- Biutiful
- Fora-da-Lei
- Dente Canino
- Incendies
- Em um Mundo Melhor

Melhor direção de arte
- Alice no País das Maravilhas
- Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I
- A Origem
- O Discurso do Rei
- Bravura Indômita

Melhor fotografia
- Cisne Negro
- A Origem
- O Discurso do Rei
- A Rede Social
- Bravura Indômita

Melhores efeitos visuais
- Alice no País das Maravilhas
- Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I
- Além da Vida
- A Origem
- Homem de Ferro 2

Melhor figurino
- Alice no País das Maravilhas
- I am Love
- O Discurso do Rei
- The Tempest
- Bravura Indômita

Melhor montagem
- Cisne Negro
- O Vencedor
- O Discurso do Rei
- A Rede Social
- 127 Horas

Melhor maquiagem
- O Lobisomem
- Caminho da Liberdade
- Minha Versão para o Amor

Melhor documentário
- Lixo Extraordinário
- Exit Through the Gift Shop
- Trabalho Interno
- Gasland
- Restrepo

Melhor documentário em curta-metragem
- Killing in the Name
- Poster Girl
- Strangers no More
- Sun Come Up
- The Warriors of Qiugang

Melhor curta-metragem
- The Confession
- The Crush
- God of Love
- Na Wewe
- Wish 143

Melhor animação em curta-metragem
- Day & Night
- The Gruffalo
- Let's Pollute
- The Lost Thing
- Madagascar, Carnet de Voyage

Melhor trilha sonora
- Alexandre Desplat - O Discurso do Rei
- John Powell - Como Treinar o seu Dragão
- A.R. Rahman - 127 Horas
- Trent Reznor e Atticus Ross - A Rede Social
- Hans Zimmer - A Origem

Melhor canção original
- "Coming Home" - Country Strong
- "I See the Light" - Enrolados
- "If I Rise" - 127 Horas
- We Belong Together - Toy Story 3

Melhor edição de som
- A Origem
- Toy Story 3
- Tron - O Legado
- Bravura Indômita
- Incontrolável

Melhor mixagem de som
- A Origem
- Bravura Indômita
- O Discurso do Rei
- A Rede Social
- Salt



A 83a. cerimônia de entrega dos prêmios do Academy Awards ocorre no dia 27 de fevereiro.
Aguardemos.

Até.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A ESTRADA (2010)



Sem sombra de dúvida, um dos segmentos da ficção científica que desde sempre me chamou atenção foi o das chamadas histórias pós-apocalípticas.
Não sem motivo que o mero vislumbre do cartaz do filme “A Estrada” pareceu algo interessante.
Baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, vencedor do Prêmio Pullitzer, conta a história desse pai que trilha o caminho com seu filho em meio à desolação. Isso poderia ser uma trama meramente piegas ou um hardcore de ação, pois essas e outras possibilidades fazem parte do repertório que fica à disposição dos autores ao lidar com o pós fim do mundo.

É fato que o ator que estrela o longa-metragem já deixa uma pista da abordagem do roteiro.
Viggo Mortensen, que alcançou o status de astro de Hollywood graças ao papel desempenhado na trilogia “O Senhor dos Anéis” tem em sua filmografia exemplares de vários gêneros cinematográficos, sem se preocupar necessariamente com a manutenção do rótulo de estrela que lhe foi atribuído.
“A Estrada” não seria um filme comum, ao menos.


A sinopse não chega a inovar. É o que já foi imaginado antes, após alguma catástrofe ambiental, guerra, ou ambos, ou algo pior. Na verdade isso nem importa.
É isso o que expressa o diretor australiano John Hillcoat nas quase duas horas em que a câmera acompanha a dupla de peregrinos.
Hillcoat decide contar a história sempre na condição de observador, com a medida certa de crueza e pessimismo que o tema merece. Afinal, até onde é possível enxergar predomina o nada, a inexistência de vida que se torna quase uma presença.
A angustiante certeza da morte é a única verdade em que o protagonista se permite acreditar, e é de maneira chocante transmitida como uma lição básica ao próprio filho.
A caminhada para o sul ocorre em tensão crescente, e nem parece uma busca por segurança ou algum resquício de esperança, mas sim a resignação cadenciada que precede o inevitável e de certo modo aguardado momento do que poderia ser o fim da existência.
Porém esta seria uma maneira simplista de analisar o apanhado de significâncias exposto pelo filme.

Ao seu modo, cada objeto cênico ou personagem possui uma função no processo de aprendizado ao qual pai e filho são submetidos. Ou melhor, especialmente o filho.
O revólver que não deve ser abandonado nunca, a mãe interpretada por Charlize Theron, apenas presente nos flashbacks, o velho peregrino que perdeu o filho, a atitude diante do ladrão, o canibalismo, a morte.
Em certo momento o menino questiona ao pai se o mar é azul, ao que este responde: ”Não sei. Era”.
O diretor e o próprio contexto não disponibilizam a ele nenhum motivo para mentir. Criar uma ilusão para que o filho prossiga é inútil diante do horror que ele já presenciou.
A presença dos dois personagens é fator imprescindível para compreender a principal perda que o trajeto na estrada provoca.
E quando ambos encontram o personagem de Robert Duvall isto fica evidente. “Quem criou a humanidade não vai encontrá-la aqui”, diz ele.


Frequentemente em histórias pós-apocalipse há espaço para algum heroísmo, onde o protagonista é capaz da nobreza de lutar em prol dos demais abrindo mão de sua auto-preservação.
Hillcoat vê as coisas de um modo diferente.
Para ele, somente alguém muito ingênuo poderia pensar em altruísmo quando não se alimenta há dias, tendo que aceitar que na melhor das hipóteses sua vida se resumirá a sobreviver no limite do que seu corpo suporta até um dia ter que disparar uma bala no próprio cérebro.
A atuação de Mortensen, novamente um destaque na produção, ajuda a tornar crível o laço familiar na trama, ao mesmo tempo em que a bela trilha sonora composta por Warren Ellis e o cantor Nick Cave, e ainda os cenários magistrais complementam o lúgubre relato metafórico e cadenciado do que um pai ensina para o próprio filho ao custo de sua absoluta dedicação.


O drama pós-apocalíptico contado por Hillcoat é um pesadelo nublado e sujo em que há somente um caminho a seguir. Somente um trajeto.
Uma demonstração de que mais desesperador do que uma vida em constante perigo é o abandono da vontade de permanecer vivo.
E não se engane em pensar que essa história está restrita ao futuro.
“A Estrada” é um filme poderoso e atemporal.


Quanto vale: Um ingresso e meio.


A Estrada
(The Road)
Direção: John Hillcoat
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 2009
Gênero: Drama




quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TOP 10 - Melhores HQs que eu li em 2010


E vamos aos relatórios de 2010.
De volta com as listagem de obras lidas e que valeram a pena, esta é a segunda edição dessa seção anual do blog (confira a primeira clicando aqui).
Novamente, os três primeiros são os melhores da lista, depois fica um tanto complicado, por isso não possuem numeração.
Mas dentre lidas e relidas, estas são as melhores que eu tive a oportunidade de conferir.

Confiram abaixo.


1 ÁREA DE SEGURANÇA: GORAZDE

Se a proximidade entre cinema e quadrinhos é tanta, porque não realizar um verdadeiro documentário em HQs?

Joe Sacco retrata a Guerra da Bósnia com humor negro e um detalhismo que beira a crueldade, sempre pelo ponto de vista dos que estavam escondidos em suas casas destruídas torcendo que as balas milagrosamente passassem longe deles.

A história são os depoimentos dos sobreviventes, e isso é algo que nenhum roteirista será capaz de igualar. E a arte é um exemplo de que ser underground não quer dizer desenhar toscamente.

Genial é pouco. E isso que dizem que essa nem é a melhor obra do autor.


2 O SONHADOR

Qualquer frase que mencione a palavra “gênio”, e ainda “histórias em quadrinhos”, dificilmente não estará se referindo a Will Eisner. Sua reinvenção dos limites da nona arte foi de tamanho impacto que mesmo autores mais recentes ainda encontram ideias para pequenas revoluções no mundo quadrinhístico.

A quase autobiográfica “O Sonhador” adiciona à soberba arte de Eisner uma visão da indústria de HQs pela perspectiva do próprio autor, que transmite com toda intensidade o contexto dos primórdios dessa forma de arte, com um resultado simplesmente fascinante.


3 PRETO & BRANCO

Deve ser difícil pros artistas contemporâneos desenvolver um roteiro. Afinal, parece que praticamente tudo já foi escrito e todas as formas de traço e estilos já utilizados de alguma forma nas HQs.

Imagine então realizar uma obra considerada revolucionária.

O autor Taiyo Matsumoto conseguiu isso ao ousar desenvolver uma fusão entre quadrinhos europeus e japoneses, em uma trama que transita entre as histórias policiais, crítica social, e um passeio psicodélico pela psique humana.

Se isso é difícil de imaginar dar certo em uma história, só demonstra o porquê de ter sido tão elogiada.
Absolutamente fora dos padrões.
 


STRAIN

HQ raríssima, da qual eu só encontrei uma parte (se alguém encontrar algum outro link me avise) e que tinha que ser ao menos legal, pois trata-se de mais uma colaboração do excelente desenhista Ryoichi Ikegami com um diferente roteirista.
A arte do desenhista Ikegami, voltada ao estilo do mangá realista chamado Gekigá, já pôde ser conferida no Brasil em algumas de suas obra publicadas recentemente, “Sanctuary”, e “Crying Freeman”, e só pra não perder o costume ele exerce sua função com a devida competência.

Enquanto isso, o roteirista Buronson trabalha de maneia primorosa a sua trama de máfia, extremamente estilosa e com personagens marcantes.
Com certeza viraria um baita filme se alguém apresentasse a HQ para o Martin Scorcese ler.
Mas ainda que isso não aconteça, é daquelas séries que vale a pena investir algumas horas procurando na internet.


JOHNNY CASH: UMA BIOGRAFIA

Depois de uma versão um tanto romanceada demais pro meu gosto, no filme dirigido por James Mangold em 2005, o ícone country ganha uma versão mais crua na quadrinhização do artista alemão Reinhard Kleist.

A história, adequadamente segue os tons obscuros da arte de Kleist, e persegue Johnny Cash ao longo dos fatos que o tornaram lenda da música e figura digna de tanta polêmica, capaz de rivalizar com a grandiosidade e representatividade de sua música.

A excelente versão publicada no Brasil pela Editora 8Inverso traz a certeza de que a obra é merecedora dos vários prêmios que recebeu, e de que o cantor recebeu uma biografia verdadeiramente à altura de sua importância.


KICK ASS

Pra falar a verdade eu não esperava tanta coisa dessa HQ.

Deveria ser diversão garantida, mas não muito além disso.

Porém, o que o workaholic Mark Millar fez foi uma homenagem a todos os leitores que investem seus trocados acompanhando os enredos criados por ele e outros roteiristas de quadrinhos. E isso escrito com o conhecimento de quem é um nerd de carteirinha, que frequentemente expressa em suas histórias a paixão pela nona arte.

Juntamente com um dos autores clássicos das HQs de super-heróis, John Romita Jr., revisitam o gênero mais famoso dos quadrinhos modernos de uma maneira nunca antes vista, brincando com seus clichês, em busca de uma forma particular de realismo, que mantém o bom humor e a extrema violência em equilíbrio.

E isso sem falar que o mero vislumbre da fortuna acumulada na maleta que garante o sustento de Big Daddy e Hit Girl, é um daqueles momentos que apenas um leitor de quadrinhos pode apreciar.


OLDBOY

Outra HQ absolutamente rara.

Tem gente que nem sequer sabe, mas o aclamado filme dirigido pelo sul-coreano Chan-Wook Park é adaptação deste mangá, com roteiro de Garon Tsuchiya e arte de Nobuaki Minegishi.

Lendo os quadrinhos, percebe-se que Chan-Wook Park foi bastante fiel ao texto original, afinal, estão presentes muitos elementos do visceral longa-metragem.

Bem realizado tanto em arte quanto roteiro, traz também a trama do cara que vai preso sem saber por que, e fica um baita tempo num quarto até ser libertado com o objetivo de vingança.

Se o filme foi premiado no Festival de Cannes e babaovizado por Quentin Tarantino, ler a HQ esclarece que muito do mérito deve-se também ao trabalho do autor Garon Tsuchiya.


OVERMAN

Fugir dos estereótipos e soluções fáceis parece ser um lema da carreira do Laerte.

Um dos personagens mais legais do mundo dos super-heróis que eu já li foi justamente o canastrão de roupa roxa que faz questão de ser tudo o que as editoras Marvel e DC jamais iriam imaginar fazer com algum de seus mais importantes super-combatentes do crime.

Overman é uma aula de HQ, um dos personagens mais icônicos dos quadrinhos nacionais, e leitura obrigatória, seja pra quem curte super-heróis, ou para quem os abomina.



GANTZ


Novamente na lista dos melhores, a série encaminha-se para o que só pode ser o seu desfecho. Se bem que, o clima de fim do mundo, e eu digo isso do modo mais literal possível, não é exatamente o fim do argumento do autor.

De um tempo pra cá os eventos na história têm ficado cada vez mais imprevisíveis.
Morte e vida, heroísmo e egoísmo são tão próximos que de uma página pra outra absolutamente qualquer coisa pode acontecer, e não importa se for um dos personagens favoritos do público, com o qual ninguém imaginaria que algo grotesco pudesse acontecer.
E isso que eu nem falei na arte visionária, que faz uso da técnica que é talvez a mais tecnológica já vista nos quadrinhos.

Leiam.


MARVELS 2: POR TRÁS DAS CÂMERAS

Era pra ser uma porcaria. Sendo fã da série original já tinha formado uma opinião de maneira errônea a respeito dessa nova investida na versão realista do universo Marvel que o roteirista Kurt Busiek trouxe nas páginas de Marvels em 1994.
Não fosse pelo fato do próprio Busiek estar responsável por essa nova história, talvez eu nem tivesse lido.
É verdade que não sendo Alex Ross o encarregado da arte dessa vez, a expectativa não é a mesma. Porém, o desenhista Jay Anacleto desempenha a função com competência, mesmo que não chegue a ser um destaque para a edição. É somente adequado.

Felizmente (ao menos até onde eu li até agora) Busiek compensa esse fator com um roteiro coeso e inteligente, respeitando a série original e acrescentando novas ideias.
Marvels II” é assim uma sequência digna do clássico que a antecedeu.

sábado, 15 de janeiro de 2011

SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO



Quando o filme foi anunciado, eu esperava tão pouco dele que nem incluí na lista de filmes a serem assistidos em 2010.

A opinião de quem conhecia a HQ em que ele foi inspirado era diferente, e insistentemente alguns veículos da mídia encheram a paciência para que o longa-metragem fosse assistido.
Sendo assim, a oportunidade de conferir o resultado do novo filme do diretor Edgar Wright chegou, e tive a chance de descobrir se minha opinião prévia estava certa ou errada.

Ao assistir o tal vídeo de divulgação tudo me pareceu exagerado demais, inverossímil e sem propósito. Talvez fosse a proposta do diretor, mas tudo dependeria do roteiro.
Logo de início, uma pista do que esperar.
Uma música-tema familiar com cara de emulador de videogame de plataforma soa algo estranho a princípio, mas com o tempo se torna parte de um todo absolutamente nostálgico e inesperado.
Os tais efeitos sonoros de games são o complemento para todas as cenas.
E não apenas isso.



A tela fica repleta de referências, cores vibrantes, e linhas de ação tornando a história do protagonista uma espécie de retorno triunfal ao auge do Super Ness, Mega Drive, etc.
Wright age exatamente na condição de um adolescente explorando as possibilidades do aparelho de videogame recém-adquirido.
A semelhança óbvia com o “Speed Racer” (2008) dos Wachovski é talvez a principal referência do diretor para compor o visual e alguns aspectos narrativos. Talvez por isso que o público tenha recebido de maneira semelhantemente negativa ambos os filmes, apesar do alto investimento em efeitos especiais e marketing.
Afinal, nos dois casos não somente o visual exige plena compreensão do público para que este aceite a obra fílmica. 


No que se refere a Scott Pilgrim existe também um apego à própria origem nos quadrinhos, que beira a genialidade várias vezes, e também um estilo muito peculiar de humor, ousado e muito arraigado em suas referências, na maior parte do tempo absurdas demais se comparadas com o estilo das comédias de adolescentes em cartaz atualmente. 


O cinema de Edgar Wright possui ainda certas características das quais ele não abriu mão dessa vez, mas que estão em segundo plano, afinal, sem elas o filme já possui um excesso de informação que no ritmo em que é apresentado deve dificultar as coisas pra quem já vai ao cinema esperando assistir uma comédia romântica qualquer.

Ainda que existam doses exorbitantes de excelentes cenas de ação, tudo se desenvolve de modo a levar ao amadurecimento do protagonista, competentemente interpretado por
Michael Cera, que vê sua jornada para enfim namorar a bela Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead) se transformar em motivo de constante espancamento nas mãos dos ex-namorados da guria.
Todo o envolvimento dos personagens adere à estética retrô, no que poderia ser a melhor comédia recente sobre um cara que quer ficar com uma guria que parece areia demais pro caminhão dele, isso se não fosse pelo fato de que o diretor Marc Webb já realizou “(500) Dias Com Ela”.



Comparações a parte, não se pode negar a avalanche de ideias das quais o diretor Wright fez uso para tornar sua obra um original retrato de uma época, sob a ótica dos nerds que a vivenciaram. 
Dialogando inclusive com a bidimensionalidade das páginas da HQ, vai tornando seu elenco cada vez mais convincente em meio a esse mundo implausível que trouxe às telas, e que permanece com toda a consistência dos relacionamentos comuns que ele se dedica a espelhar.

E ao final da sessão, o que fica é a curiosa certeza de que o melhor filme de videogames já feito não é uma adaptação de videogame.
Vai entender.



Quanto vale: Um ingresso com louvor.

Scott Pilgrim Contra O Mundo
(Scott Pilgrim Vs The World)
Diretor: Edgar Wright
Duração: 112 minutos
Ano de Produção: 2010
Gênero: Comédia / Ação

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

TEKKONKINKREET (2006)


Mais um daqueles filmes que seria praticamente impossível conhecer apenas procurando nas prateleiras das vídeolocadoras.
Desse trabalho do diretor Michael Arias eu ouvi falar em algum site ou revista em que a capa do filme aparecia em tamanho reduzido, parecendo um animezinho bem mequetrefe.

De qualquer modo, a HQ em que é baseada é considerada um marco na história dos quadrinhos modernos, e hora ou outra eu iria assistir pra tirar minhas conclusões.

Em virtude do Ciclo de Cinema do Shin Anime Dreamers – S.A.D., ao menos isso ocorreu da maneira correta, no telão, e com o melhor sistema de som em sala de cinema de que eu tenho conhecimento, ou seja, o da Cooperativa de Estudantes de Santa Maria – CESMA.


Qualquer filme tende a se beneficiar de uma circunstância que nem essa, afinal, é para ser exibido desse modo que qualquer diretor que se preze realiza o seu trabalho.
Nesta obra de Michael Arias, a animação em si é chocante para os desavisados.
Mas isso não ocorre devido a excessos de violência ou nudez, e sim pela escolha de um estilo peculiar de traço artístico e técnica de animação empregado.
Tudo beira o bizarro, mas com uma carga latente de sutileza e organização em seu aparente caos visual.


Os personagens possuem uma estrutura física que, digamos assim, varia de frame a frame, e enquanto isso, o cenário é simplesmente perfeito.
Com o tempo o público vai se acostumando com o contexto exagerado e sua interação com os personagens vai se tornando algo cada vez mais fluído e natural.
E eu faço questão de mencionar que o visual ter sido dessa forma era algo essencial em se tratando da adaptação da HQ Preto & Branco, do autor Taiyo Matsumoto. Se os quadrinhos criados por ele são muito lembrados pela fusão de estilo oriental e europeu de quadrinização, o diretor Michael Arias soube traduzir com excelência essa vibrante arte para o cinema.
Além da acertada escolha quanto ao estilo visual, o cineasta optou por uma fidelidade quase absoluta ao material original, e a obra de Taiyo Matsumoto já era rica o suficiente em informação, para a sorte dele.


O contexto da Cidade do Tesouro é mais do que o local onde a trama acontece.
Atua como se fosse outro personagem, e por suas vielas e becos os protagonistas chamados Preto e Branco exercem a função de soberanos temidos no submundo da delinqüência juvenil, chegando a intimidar a própria yakuza e a polícia.
Novamente, o longa-metragem engana o espectador que espera uma história simples.
Somente essa sinopse permitiria um bom enredo para cenas de ação, e elas existem, e são realmente muito bem feitas, com um efeito cinético invejável em cada nova sequência.

No entanto, isso está longe de ser o objetivo do autor Matsumoto, ou do cineasta Arias.


O que eles trabalham é a profundidade do relacionamento humano envolto por essa estética singular.
Trata-se de uma fábula moderna que se passa em uma enorme favela, na qual todos, inclusive crianças estão sujeitos aos mesmos perigos físicos ou psicológicos, e em que a sobrevivência não se limita a manter-se ileso após um combate.
A crueza do roteiro é ao mesmo tempo brutal e poética, transformando o que era pra ser apenas uma sessão assistindo um movie de pancadaria em um passeio quase psicodélico por um mundo diferente do nosso mais pelo nome dos personagens do que necessariamente pelas suas características básicas de funcionamento.
Saber usar isso em seu favor era imprescindível para o diretor encarregado dessa árdua missão, e impressionantemente, Arias consegue isso mantendo sempre o foco no seu inusitado elenco, tão simples e humano em uma realidade tão pouco humana devido à sua constante influência.

Sendo assim, as reviravoltas da história funcionam mesmo que não se tratem de alguma nova ameaça megalomaníaca à vida na Terra, e sim um conflito entre delinquentes, que ao tentar lidar com a estupidez e violência da vida na grande cidade, trazem a perspectiva surreal de um microuniverso muito próximo do que vemos nos noticiários diariamente.
Tudo isso de maneira imprevisível, imaginando rumos que com certeza não fariam parte das escolhas de um diretor convencional de Hollywood.

E quando a história muda radicalmente, isso objetiva apenas o que pode ser o desfecho mais intenso que o cinema de animação já proporcionou.
O diretor Michael Arias, infelizmente viu seu longa-metragem ser ignorado pelo Academy Awards, mesmo que seu filme seja tão ou mais Cult do que a maioria dos que eu tenho visto concorrendo a essa premiação, o que de maneira alguma tira o brilho do que ele realizou, afinal, Tekkonkinkreet é um trabalho de complexidade e coesão irrepreensível que compõe uma das melhores adaptações de HQs para a sétima arte de todos os tempos, e um dos melhores filmes da década.


Quanto vale:

Tekkonkinkreet
(Tekkonkinkreet)
Direção: Michael Arias
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 2006
Gênero: Drama / Ação